Nas Cidades Irmãs, nível preocupa apenas a partir dos 6 metros

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Atualizado há 9 anos

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(Foto: Arquivo).

A chuva que cai com intensidade na região Sul, também deixa suas marcas nas Cidades Irmãs. Arredios por conta de uma enchente grande, que há um ano se tornou um pesadelo, os municípios estão em alerta, tanto na área civil quanto dentro dos órgãos de defesa. A preocupação está especialmente nas residências de quem vive perto do rio Iguaçu e de suas oscilações de nível.

Neste contexto, porém, a Defesa Civil de União da Vitória e Porto União trabalham dentro de margens de segurança e garantem: embora no “sinal amarelo”, não há com o que temer, por enquanto.

As medições variam um pouco em cada município, mas, de modo geral, a preocupação só existe mesmo quando o nível do Iguaçu chega aos 5,30 metros. Em Porto União, é esta marcação que põe a Defesa Civil em alerta. “É o nível que os órgãos do estado, por exemplo, nos alertam. Trabalhamos a partir desse nível, mas é apenas com seis metros que as primeiras casas são atingidas”, explica Ademar Rodrigues Lírio, o “Cabo Lírio”, chefe do órgão no município. A régua em seis metros atinge os imóveis que ficam atrás da Secretaria de Obras, no Bairro Santa Rosa.

enchente-clima-uniaodavitoriaXX7XAté lá, o momento é de paz. Segundo Lírio, embora tenha chovido muito, a primeira leva de instabilidade está no final. “Esperamos um pouco de chuva de novo para o final de semana, mas a previsão é de frio. Então, estamos mais tranquilos, mas, sempre analisando o tempo”, sinaliza. Caso a previsão engane a Defesa Civil, o chefe garante que o atendimento emergencial, obrigatório aos municípios nas primeiras 24 horas de tensão, pode ser feito. “Trabalhamos na retirada de pessoas, no resgate, fornecemos abrigo, alimentação, itens de primeira necessidade mesmo”, conta Lírio.

Até o final desta edição, nenhuma família em Porto União precisava de socorro por conta da elevação do nível do rio. Até ontem, 17, a “subida” era de, em média, um centímetro por hora.

Mesmo acima da média, chuva não é problema

A possibilidade de enchente nas Cidades Irmãs parece estar se esgotando ao passo que as chuvas param de cair. A intensidade da água que cai lá de cima diminuiu desde o início da semana, quando a previsão era que chovesse 200 milímetros em todo o Estado até ontem.

enchente-clima-uniaodavitoriaXX8XA precipitação se confirmou, ao menos em União da Vitória, no entanto, não gerou problemas iguais há de um ano, quando o rio chegou a 8,13 metros. Conforme o Sistema Meteorológico do Paraná (Simepar) do início do mês até agora já choveu 208,08 milímetros na cidade, quando a média climatológica de União da Vitória é de 138 milímetros para o mês de julho. “Ultrapassou essa média histórica somente nos primeiros 16 dias do mês”, completou Tarcício Valetin da Costa, meteorologista da Simepar.

Contudo, ainda segundo Valentin, para fazer com que o rio atinja a máxima de 5,75 metros – quando as autoridades de segurança começam a ficar em alerta do lado paranaense – é necessária mais chuva, e em todo o Estado. A ideia também é compartilhada por Dago Woehl, diretor da ONG, Sociedade de Estudos Contemporâneos – Comissão Regional Permanente de Prevenção Contra Cheias do Rio Iguaçu (Sec-Corpreri). Em entrevista ao jornal O Comércio no início desta semana, ele explicou que uma gota que cai na capital, por exemplo, demora sete dias para passar pelo Iguaçu aqui na região. E, para que o rio subisse a ponto de “sair da caixa” chuvas intensas e contínuas deveriam cair. “Mas o que estava previsto foi para o outro lado do Estado”, completou.

Ainda segundo ele, se a previsão de chuvas de até 66 mm para o final de semana se confirmar, o rio deve alcançar no domingo, 19, o nível de 5,57m. Caso contrário, se a chuva esperada não cair em nossa região, o comportamento de elevação se modifica e o nível deve chegar a 5,10m.

O alerta da Defesa Civil é somente quando o Iguaçu atinge 5,50m na régua embaixo da Ponte de Ferro. Até chegar neste nível, nenhuma família precisa ser retirada de suas casas.

Estado de alerta também vale para a Defesa

enchente-clima-uniaodavitoriaXX2XA Defesa Civil de Porto União faz o que pode. Embora reconhecida como órgão e custeada pela prefeitura, ela ainda tem algumas deficiências. Na prática, trabalha com erros primários que deveriam ser incomuns para uma região banhada pela enchente de maneira rotineira.

É o caso da frota: a Defesa Civil não tem, ironicamente, um barco se quer. Não tem, ainda, nenhum veículo da Defesa Cívil à disposição. Cabo Lírio, que responde pelo órgão, trabalha com confiança e com jeitinho, disfarça quando questionado sobre as fragilidades. Em Porto União, a Defesa Civil é um órgão permanente, não apenas “formado” nos eventos de catástrofe. Quando eles ocorrem, ai sim, há mais estrutura. “A Defesa Civil tem um conselho e toda uma sociedade participando. A Polícia, os Bombeiros, os clubes de serviços, as associações, todos formam a Defesa Civil nos momentos de dificuldade”, explica o chefe do órgão em Porto União.

Para entender as dificuldades, basta pensar na localização. A Defesa fica em uma estrutura sem acessibilidade, pequena, no piso superior da rodoviária. É ali, em uma sala pequena, que Lírio atende a população, distribui os metros de lona disponíveis e cede telhas de Eternit. E é só. A “sorte” é que após as primeiras 24 horas de tensão, o Estado e, se necessário, a União, podem ajudar.

enchente-clima-uniaodavitoriaXX5XA condição da Defesa Civil foi um dos assuntos mais discutidos na sessão desta terça, 14, da Câmara de Vereadores. O vereador Carlos Roderlei Pinto (PSD), quando usou a tribuna, se mostrou preocupado com a atuação do órgão e com os poucos avanços que o setor teve desde a recente cheia de 2014. Na reunião, inclusive, foi sugerido a união da Defesa à Secretaria de Meio Ambiente, como medida de suporte às dificuldades.

O prefeito, Anízio de Souza, não nega a importância da pasta, nem os desafios da reestruturação dela. Segundo ele, o investimento é alto e depende de uma “mãozinha” do Estado e da União. Inclusive, recente promessa dos dois governos não se concretizou. “Estivemos há dois anos conversando com a Defesa Civil do Estado que disse que viria um kit para Porto União, onde até a caminhonete nova viria para cá”, conta. Até agora, porém, nada chegou. Para o prefeito, a estrutura atual é carente, embora funcione. “Não é suficiente. Deveríamos ter uma estrutura maior, com veículos”, diz. “Hoje a Defesa Civil se resume a uma equipe só porque fora das enchentes, não há tanto trabalho. Toda a manutenção da estrutura é por conta do município”, completa.

Do lado paranaense da linha a situação é um pouco diferente. A estrutura da Defesa Civil funciona junto com a Secretaria de Agricultura e o responsável é o próprio secretário da pasta, Marco Antônio Coradin. Segundo Coradin existe um Plano de Contingência da Defesa Civil e que ela é, sim, permanente. A composição do órgão é integrada com outros tanto municipais quanto estaduais. “Você aciona e já sabe ir buscar os recursos aonde precisa”, explica.

enchente-clima-uniaodavitoriaXX6XOs recursos para manutenção são diversos. No caso do Corpo de Bombeiros existem três embarcações que podem ser usadas em momento de crise. Outros 20 veículos da Agricultura, micro-ônibus e duas caminhonetes também fazem parte desse plano de emergência. Uma das caminhonetes é da própria Defesa Civil, repassada com recurso federal. Para manter a estrutura o escritório local depende do auxílio do município, Estado e, também, recursos do Governo Federal. Mas, adianta Coradin, quem assume a maior responsabilidade é a “mãe prefeitura”.

A Defesa Civil de União da Vitória não trabalha com ações preventivas: esse serviço fica por conta de algumas secretarias do município, como a Companhia Municipal de Desenvolvimento e Habitação (CIAHAB), e do Estado, a Companhia de Habitação do Paraná (Cohapar).

No caso da Cohapar, dois programas habitacionais para ribeirinhos já foram criados, agora, um terceiro está em execução – em parceria com o Ministério da Integração – e prevê a construção de 144 casas. Os dois primeiros programas habitacionais, junto com a Ciahab, conseguiram retirar pouco mais de 300 famílias dos principais pontos de enchente nos últimos dois anos. Segundo o coordenador de operações da Defesa Civil, caso essas famílias não tivessem sido realocadas, neste ano, em especial em julho, já haveriam muitas delas seguindo para a Fricesp, onde ficavam alojadas até a águas do Iguaçu baixar. Os ribeirinhos eram atingidos, além do rio Iguaçu, pelas águas do Rio Vermelho.

Parque Linear

Outro projeto que ajudou – e muito – a Administração Municipal com relação as enchentes foi o início das obras do Parque Linear. A revitalização do espaço serviu como um impedimento para famílias que moravam às margens do Iguaçu, mas após as enchentes retornava para o local, mesmo integradas em projetos habitacionais.

A ideia nasceu há dois anos e, a partir da parceria entre o governador Beto Richa, o deputado Valdir Rossoni e o prefeito de União da Vitória, Pedro Ivo Ilkiv, foi tomando forma. Em março do ano passado, a Companhia Paranaense de Energia Elétrica (Copel) também entrou no projeto e assinou, durante a comemoração dos 124 anos do município, um documento que garantiu R$ 2,4 milhões para a execução das obras nesta primeira fase. O parque envolve um circuito amplo, que começa no popular vau do Iguaçu, na Ponte Domício Scaramella, e termina no Bairro São Bernardo. Ao longo do trajeto pistas de skate, parques infantis, piers, pontes, sanitários e postos policiais estão sendo instalados.