Quem nunca deu uma espiadinha, que atire a primeira pedra. E não pense apenas no BBB não. Vale até uma espiada atrás da fechadura para ver melhor a briga na casa do vizinho. Quem nunca? Pois é justamente este tipo de comportamento, que mistura curiosidade com o jeito humano mesmo, o que garante o sucesso dos reality show, por exemplo.
Há algumas semanas, o País elegeu a campeã da edição 2017 do BBB. Foram milhões de votos, números que denunciam o índice de popularidade do programa. De tão aclamado, o possível cancelamento dele virou apenas em boato. No caso da última edição, o comportamento dos confinados redeu discussão fora da casa. Violência, fofoca, formação de votos, tudo isso e muito mais, marcou o bate-papo das rodas de conversa pelo Brasil afora.
Tem quem negue o gosto, mas lá no fundo, acaba dando uma espiadinha no canal. Por outro lado, tem quem gosta tanto, mas tanto, que paga para ver mais. É o caso dos canais específicos, que permitem acompanhar tudo, 24 horas por dia.
Na TV, além do BBB, o telespectador também tem acesso às versões menos populares, como A Fazenda. A extinta Casa dos Artistas, do SBT, também teve recorde de audiência. É bastante assistida, também, as versões que tem a cozinha como palco, como o MasterCheff, da Band, e os flutuantes, Hell’s Kitchen – Cozinha Sob Pressão e Bake of Brasil, do SBT.
Vale lembrar que esse tipo de voyeurismo é diferente do sexual, onde quem tem a tendência possui uma necessidade exagerada de observar pessoas nuas, se despindo ou na prática de ato sexual. “O voyeurismo televisivo distingue-se por provocar no indivíduo a necessidade de observar situações que não são abertamente mostradas no dia a dia das pessoas”, completa Daniele.
Ainda segundo a pesquisa, outra função dos reality shows é a chance que eles fornecem para quem os assiste, de se comparar com as pessoas envolvidas nas situações que ocorrem no programa. “É como se a pessoa quisesse assistir aos eventos do programa para comparar-se aos integrantes e pensar em como agiriam em situação”, resume a profissional.
Fórmulas iguais, sucesso absoluto
A simplicidade dos programas do gênero não interfere no resultado, em audiência. No caso do BBB, por exemplo, há 17 anos a fórmula é praticamente a mesma: em uma casa, pessoas anônimas são confinadas e quem ficar até o final, ganha um prêmio milionário. Mas afinal, por que os reality shows conquistam audiências?
A pergunta é o título do livro da professora e pesquisadora Cosette Castro, da Universidade de Brasília (UnB). Na obra, a autora analisa a chegada deste tipo de programação ao Brasil e enfoca também a sua performance em outros continentes. Para Cossete, doutora em Comunicação e Jornalismo pela Universidade Autônoma de Barcelona, não é possível afirmar que quem assiste a reality shows são pessoas com ‘problemas’ econômicos, culturais ou educativos, pois o que se constata, na prática, é que o gênero seduz as audiências de diferentes idades, culturas e níveis socioeconômicos em mais de trinta países.