Não se engane. A casa deles não como a da Branca de Neve. Ah! E eles também não são iguais aos amiguinhos da princesa, não. A matéria começa assim, com bom humor, porque é assim que o casal, Francyelly, 30 anos e 1,20 metros de altura, e Ângelo, 38 anos e 1,30 metro, ambos anões, levam a vida. Eles têm como lema o “não dar bola para a sociedade” e “ser feliz e fazer as coisas que se gosta”. O casal, que mora em Araucária (PR) se casou recentemente em Porto União. A solenidade, de duas pessoas pequeninhas, chamou a atenção da comunidade para o nanismo e todos seus fatores.
Mas antes, entenda como estes “pombinhos” se encontraram. “Conversávamos num grupo no Orkut (rede social desativada hoje em dia) de ‘pessoas pequenas’ sobre carros adaptados. Na época estava comprando o meu. Aí foram alguns anos de conversa. Na época, ele estava comprometido e eu também. Um belo dia, eu solteira e ele também, voltamos a conversar, mais intensamente no caso (risos). Minha vizinha tem parente no Rio Grande do Sul. E ele morava em Porto Alegre. Ela me ofereceu para ir viajar junto com ela para conhecer a família dela e tal. Como eu já tinha outro interesse na viagem, aceitei”, conta Francyelly. Isso aconteceu na Páscoa de 2015. “Fomos até Sapiranga, que é onde a família dela mora e aí ele foi me buscar para nos conhecer. Foi aí que tudo começou”, completa.
De lá para cá, os namorados foram se conhecendo ainda melhor e juntos, enfrentando o preconceito e até a falta de bom senso de alguns, por conta de suas alturas. “Tive um pouco de dificuldade na adolescência até entender tudo que estava acontecendo. Mas, nunca tive dificuldade ou vergonha de pedir as coisas para os outros. Digo que sempre fui bem ‘caruda’. O Ângelo também não tem muita dificuldade também pois ele tem a mãe, um tio e uma tia na família que são pequenos. Ele já bota ordem no negócio quando estamos na rua juntos e o pessoal pede para tirar foto. Ele não curte. Diz que não somos famosos. Mas o que me incomoda é quando crianças comecem a apontar e os pais acabam achando graça também”, conta Francyelly, que é bancária.
E um belo dia, veio o casamento dos sonhos. “Eu sempre quis casar na igreja. Ter aquele casamento de princesa. Achei o meu príncipe e ele aceitou essa loucura de gastos comigo (risos). Marcamos o casamento com mais de um ano de antecedência. E decidimos por União da Vitória porque minha família mora na cidade. Então assim, foi tudo divino. Bem como eu imaginava e ainda mais”, lembra.
A solenidade de amor, que uniu as histórias de Francielly e Ângelo, despertou a curiosidade da comunidade sobre o nanismo ou, como o casal prefere chamar, sobre o nascimento de pessoas pequenas. Despertou, inclusive, a atenção da reportagem. Para O Comércio, o ginecologista e obstetra, Ary Carneiro Junior, explicou o assunto (veja o quadro). “Não somos coitadinhos. Somos perfeitos, só não crescemos como deveríamos. Mas temos saúde inteligência e somos lindos (risos). Quando você acha que não é capaz de alguma coisa, tente. Tentando você vai saber o quanto é possível. E ainda mais”, ensinam.
NANISMO: ENTENDA O QUE É
Portal Vvale (VV) – O que é o nanismo?
Ary Carneiro Junior (AC) – Ele tem duas etiologias. Ou é uma disfunção da hipófise, glândula que produz o hormônio do crescimento ou tem forma, que é acondroplasia, uma degeneração na cartilagem das extremidades do fêmur e dos ossos, que faz com que o ser humano fique 15 a 20% menor do seu tamanho menor. Ela é uma alteração que pode ou não ser hereditária.
VV – É possível saber se a criança será anã ainda na gestação?
AC – Normalmente já se identifica isso a partir da 20ª. semana gestacional através da ultrassonografia morfologia.
VV – Qual a chance de um casal de anões terem filhos também pequenos?
AC – A mesma incidência de ter filhos de altura normal. Você vai ver casais com altura normal tendo filhos anões. Assim como casais de anões tendo filhos de tamanho absolutamente normal.
VV – Além do tamanho, algo a mais muda no organismo de quem é anão?
AC – Nada mais. O anão tem os órgãos normais, a face, tudo. A inteligência, tudo é normal. Simplesmente o que houve, foi a falta do hormônio de crescimento ou a degeneração das extremidades ósseas.
VV – O casal Francyelly e Ângelo, levam a vida ‘numa boa’. É isso o que importa, certo?
AC – Cada um de nós vem de nossos pais, mas quem nos dá a vida é Deus. À Ele cabe toda a determinação de nossa formação. Então, cabe a cada um de nós aceitar as nossas eventuais alterações morfológicas ou não. Evidente que a pessoa ter uma estatura menor que a outra não é problema nenhuma. É como alguém muito alto, que também tem problemas. Acima de tudo, é importante amar a si próprio e se amando, você vai encontrar Deus, que nos criou e nos dá a vida.