Projeto ‘Trem das Etnias’ foca na recuperação da ferrovia em Porto União

Trecho em estudo faz um “recorte” entre a área que vai da Estação União até a localidade de Stenghel. Projeto é pensado há quase dez anos

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Atualizado há 6 anos

(Foto: Mariana Honesko).
(Foto: Mariana Honesko).

Quando se pensa em Vale do Iguaçu, é difícil não associar à imagem das duas cidades, o rio Iguaçu, a imagem do Cristo e a Maria Fumaça. Aliás, a locomotiva, que já “decorou” a praça Visconde de Nácar por muitos anos, no centro de União da Vitória e foi alvo de inúmeros projetos, é novamente a menina dos olhos de uma turma empreendedora.

Do lado de Porto União, nasceu ainda em 2009, o projeto Trem das Etnias, que tem como foco a recuperação da malha ferroviária do lado catarinense, da Estação União até o quilômetro 14, na localidade do Stenghel. À frente da presidência está o empresário Élio Weber. Segundo ele, a ideia é que em dezembro do ano que vem, a ferrovia esteja em funcionamento (veja o quadro). “O projeto está praticamente concluído. O mais difícil é o de viabilidade econômica, se ele dá lucro. É nossa maior dificuldade. Mas sou bairrista, acredito na nossa região, por isso batalho para que dê certo”, defende.

O Brasil, conforme um recente levantamento da Revista Exame, não usa quase um terço de seus trilhos ferroviários. Além disso, dados da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) apontam que, dos 28.218 quilômetros da malha ferroviária, 8,6 mil km – o equivalente a 31% – estão completamente abandonados. Desse volume inutilizado, 6,5 mil km estão deteriorados, ou seja, são trilhos que não poderiam ser usados, mesmo que as empresas quisessem.

ENTREVISTA

Jornal O Comércio (JOC) – A malha ferroviária não é usada completamente no País e acabou sendo deixada na região também. Como o senhor entende isso?

Élio Weber (EW) – Temos pouca comunicação entre as ferrovias, do Norte ao Sul. Porque a nossa ferrovia foi abandonada aqui? Primeiro, porque a subida de Porto União à Matos Costa, são cerca de 400 metros. Era complicado para as máquinas. O solo também é muito arenoso e quando teve a vulcanização, ficou muita mistura com areia e argila. Quando chove, tem muita absorção da água. Quando dá muita chuva, pode ter o escorregamento do solo. Vejo nossa região em pleno desenvolvimento. Talvez nos falte autoestima. Sou da filosofia que se o empresário não investe, a cidade entra em depressão.

mariafumaca-turismo-projeto-valedoiguacu (3)JOC – Em Caçador, lançaram uma ação para recuperar vagões. O que acha disso?

EW – É interessante, mas é por outro caminho. Não podemos criar um projeto que amanhã ou depois pereça. O nosso é da iniciativa privada, onde o empresário quer ver o resultado. O projeto é de viabilidade técnica e economica.

JOC – Qual é sua opinião sobre a Maria Fumaça 310?

EW – O trem, a 310, é nosso sonho. Foi ela quem inspirou nosso projeto. Fui buscar perguntas e respostas sobre o assunto com o ex-prefeito de Gramado, no Rio Grande do Sul. A Maria Fumaça, por estar ali na praça, não tem problema nenhum. Todos os dias tem pessoas ali, tirando fotos. A máquina foi feita para andar um certo tempo, então, ficar na praça mais alguns meses, não vejo como problema. Enquanto a 310 estiver na praça, o projeto não está fundamentado. O dia em que ela sair, o projeto está 100% resolvido. O projeto prevê que a máquina saia por fevereiro ou março da praça até Rio Negrinho, para ser restaurada lá. Ela deve ficar um ano, no mínimo, fora. Não vamos colocar ela numa série emergencial ou gastaríamos perto de R$ 1 milhão. Vamos gastar muito menos. Mas para que nosso projeto comece a andar, vamos trazer outra locomotiva e mais tarde, a 310 novamente. Não queremos colocar os vagões na frente da locomotiva.

JOC – O senhor cita que o aporte financeiro vem da iniciativa privada? Não seria mais fácil abrir o projeto?

EW – O Poder Público sempre vai estar presente num projeto deste porte. O trem é uma ferramenta. Estamos tomando os cuidados para não cometer erros, claro.

JOC – O estudo de viabilidade técnica terá o aval de quem?

EW – Temos uma empresa, a IHTUR, que está em Rio Negrinho no desenvolvimento o projeto. Agora, o estudo vai sair com o resultado. A partir do ano que vem, o projeto estará pronto. Nosso sonho era fazer o trem andar no Natal de 2019. Há a possibilidade de ser apenas em 2020, mas nosso desejo é para o ano que vem.

JOC – O projeto, do seu ponto de vista, é visionário e palpável?

mariafumaca-turismo-projeto-valedoiguacu (6)EW – Ele é palpável, porque o projeto é feito todo em cima de estudos. No início, era para ser feito algo dentro do Instituto Grunenwald ou do grupo Talento, entidades de fomento cultural e no caso da Talento, esportivo também. Mas sim, é um sonho que vai se tornar realidade. Resolvi sair candidato como vereador, ganhei, mas me decepcionei tanto que vi que como empresário eu consigo fazer muito mais. A política não foi uma decepção exatamente, mas não consegui resolver as coisas. É um projeto que vai dar certo? Vai dar certo, eu acredito.

JOC – Como colocar dinheiro privado em algo que é da cidade, como é a Maria Fumaça?

EW – Através de documentos e contratos. Será preciso essa reforma e se gastar, para que ela rode novamente. A 310 é de Porto União da Vitória, seria mais fácil colocar outra máquina aqui, mas não queremos isso. A 310 é nossa máquina e queremos que nossas cidades sejam representadas por ela.

Entrevista

Todo o conteúdo em áudio da entrevista está disponível na página da CBN Vale do Iguaçu, a partir do Portal VVale. Na entrevista, Élio Weber comenta ainda mais sobre a situação da 310 e também sobre o projeto. O acesso é gratuito. O endereço eletrônico é o https://www.vvale.com.br/cbnvaledoiguacu.