Por Meriellen Krug Jakobi
Quando você pensa em Blumenau, certamente a primeira lembrança que vem a cabeça é a Oktoberfest. Quando se pensa em Ponta Grossa, a Munchen Fest também está na memória. E é impossível não lembrar, em Gramado, nos eventos culturais que acontecem, como o Natal Luz e o concorrido Festival Internacional de Cinema.
E quando essa reflexão mais festiva envolve o Vale do Iguaçu, o que vem à mente? Se você respondeu a Festa Nacional da Costela ou a Festa do Xixo do Steinhaeger, você já entendeu sobre o que se trata essa reportagem. Além de ser uma referência quase afetiva, os eventos representam números importantes para o turismo e sim, para a economia também. São mais do que simples festas: eventos assim são oportunidades de alavancar uma cultura, expor o que as cidades têm de melhor, e trazer lazer para a população e para os seus visitantes.
“Em um ano em que teve uma forte divulgação da Festa da Costela, por exemplo, em feiras de turismo, chegamos a receber três ônibus de turistas vindo de São Paulo”, lembra a presidente da Associação de Turismo e Meio Ambiente do Vale do Iguaçu (Atema), Arceli Fudal.
Segundo ela, a divulgação neste tipo de espaço, no caso da Festa da Costela, ajudou no fortalecimento da marca e teve um resultado muito grande, aumentando o número de visitantes e criando uma maior visibilidade do evento e da própria cidade.
Tem esse mesmo entendimento a presidente do Conselho de Turismo e Meio Ambiente (Codetur), Daiane Scolaro. De acordo com ela, o turista que vem para uma festa não gasta apenas no evento, “mas fica hospedado no hotel, faz passeios turísticos, frequenta outros restaurantes, abastece o carro nos postos de gasolina, gerando toda uma circulação de dinheiro que não haveria caso a festa não acontecesse”.
Nos hotéis, durante o final de semana com eventos, a lotação é quase total, de acordo com pesquisa realizada com a rede hoteleira da região do Vale do Iguaçu. Segundo a gerente do Hotel 10 de União da Vitória, Eliane da Rocha, por exemplo, nos finais de semana de festa, a lotação chega a 100%, enquanto em finais de semana, não chega a 40%.
De acordo com Arceli os turistas que vem também fazem uma divulgação do atrativo para outras pessoas. “Os turistas gostam de vivenciar as experiências, gostam das apresentações tradicionalistas porque eles vem procurando isso”. Entre outros projetos, a intenção da Atema é buscar novos estímulos para desenvolver o turismo na região, e criar um calendário com todas as festas regionais.
De acordo com o Jacó Gimenes, fundador da Retur, “o turismo é o grande caminho para a transferência de recursos de uma cidade para outra, pois fundamenta-se na relação comercial de compra e venda, onde o consumo só pode ser feito no local visitados pelos turistas.” Ele explica ainda que os eventos turísticos se diferenciam por trazer “bolsos de fora”, para consumir localmente e assim, resultar em troca pelos serviços de passeios, compras, estadia, alimentação.
Além do dinheiro que circula na festa, os eventos não geram apenas lucro para seus realizadores: elas também trazem circulação de dinheiro para as cidades. Começando pelos empregos que são gerados na estrutura dos eventos, por exemplo, com mão-de-obra, equipes de limpeza e manutenção, atendentes de estandes e expositores. “Nós damos preferência para os comerciantes das cidades, tanto nos estandes quanto na alimentação”, comentou a presidente da Associação Empresarial de Porto União (Acipu), Célia Leão. Dessa maneira, o dinheiro circula dentro do município trazendo mais receitas para as cidades.
Festa Nacional do Xixo e do Steinhaeger,
Em 2006, de uma conversa entre associados da Acipu, surgiu a ideia de criar uma festa em Porto União, com objetivo de trazer maior visibilidade para o município, e celebrar duas iguarias típicas da cidade: a bebida, Steinhaeger, e o tradicional xixo.
A Festa do Xixo e do Steinhaeger já foi realizada durante 12 anos seguidos, e sempre, em constante crescimento. Na edição de 2018, por exemplo, o evento atingiu o recorde de 85 mil visitantes durante os quatro dias de festa. Esse ano, por conta dessa crescente, a expectativa da organização é de ampliar o espaço de realização, para garantir ainda mais conforto para quem escolhe estar na festa. O evento acontece na Praça Hercílio Luz e no complexo da Estação União, no anel central da cidade. A 13ª edição já começou a ser organizada e a expectativa é que seja a maior de todas, com maior estrutura e mais participação nos desfiles (que já viraram tradição). “Nós gostaríamos esse ano que todo o comércio participasse com decoração e que funcionasse também nos dias da festa, aquecendo assim ainda mais a economia e engrandecendo a festa”, comentou Célia Leão, presidente da entidade.
Festa Nacional da Costela
Em União da Vitória, a festa teve início ainda em 2007, quando na ocasião, marcava as comemorações de aniversário da cidade. Com o tempo, o objetivo central foi sendo alterado, mas a festa foi ganhando destaque e chamando cada vez mais a atenção.
Além da famosa costela, que é preparada e servida de várias formas, o evento conta também com shows de renome nacional, parque de diversões, área de negócios e atrativos para toda a família.
A organização da Festa Nacional da Costela inicialmente era feita pelo CTG Fronteira da Amizade, responsável pelo local onde ela acontece, em parceria com a prefeitura. Em 2014, nasceu a primeira parceria entre a Associação Comercial de União da Vitória (Aceuv), com centro de tradições. Logo na primeira festa executada pela nova dupla, a estrutura do evento foi uma das maiores de todas as edições.
Em 2016, o evento reuniu cerca de 80 mil pessoas nos três dias de festa.
Para a edição deste ano, a equipe do CTG já começa se organizar, buscando especialmente, apoio financeiro da prefeitura e do governo do estado do Paraná.
Cidades em evidência
O resultado positivo das festas realizadas no Vale do Iguaçu, colocam o nome das cidades de União da Vitória e Porto União em um novo patamar. Para o empresário e ex-presidente da Aceuv, Daniel Breyer, que esteve a frente de três festas da Costela, “a repercussão que os eventos dão na nossa região e em outras regiões, em centros maiores é muito boa”.
Célia Leão, concorda com Breyer. Segundo ela, os eventos, além de colocar a cidade em evidência, “também traz muita alegria e retorno para toda a cidade em lotação de hotéis, movimento em postos de combustíveis, comércio local, e com muita gente de fora”.
Bons exemplos
Blumenau e Ponta Grossa são dois exemplos de cidades em que as festas regionais se tornaram um dos principais atrativos para turistas.
Na cidade catarinense, a Oktoberfest, que esse ano chega a sua 36ª edição, iniciou o evento ainda na década de 80, quando empresários e representantes de entidades de classe e poder público se uniram para criar algo especial, agregando a cultura alemã e às tradições da cidade. Na primeira edição, em dez dias de festa, mais de cem mil pessoas passaram na festa de Blumenau. Com o passar dos anos, a Oktoberfes se consolidou como um dos maiores eventos turísticos do Brasil, e uma das maiores do mundo. Só em 2017, foram mais de R$ 4,25 milhões de lucro .
Em Ponta Grossa, a Münchenfest, iniciada em 1990, foi remodelada em 2018. Mais do que brindar e divulgar a venda do chopp escuro, ela valoriza as tradições germânicas em todos seus aspectos.
A cidade de Gramado, no Rio Grande do Sul, é outro exemplo de sucesso. A cidade, hoje um dos grandes polos turísticos nacional e internacional, começou a se tornar ponto turístico com a realização de festas regionais e eventos voltados para o turismo, como a Feira Internacional de Turismo, o Festival de Cinema de Gramado e o Natal Luz.
Palavras do especialista
Segundo Jacó Gimenes, fundador da Retur, “o turismo baseia-se no fluxo de pessoas que buscam num destino satisfazer seus desejos e sonhos, originados por interesses e necessidades”. Gimenes defende que quando um evento regional se torna conhecido fora da sua região, “ele é uma verdadeira usina de oportunidades, tais como ocorrem na Festa da Costela de União da Vitória, a Festa do Xixo de Porto União”.
“O importante é tirar proveito onde se é diferenciado e complementar ao máximo com outras formas de fonte de riquezas”, defende Gimenes. “Devemos seguir o caminho exitoso dos Agronegócios e assumir que somos produtores de turismo”, finalizou Jacó que afirma que ganhar consciência e ter atitudes, ampliarão novas chances, pois o turismo é prestação de serviços com relações comerciais, e ter entendimento de sua natureza e assumir postura de produtor com empreendedorismo, fará a roda girar e abrir as portas da prosperidade”.
Stammtisch é no final de semana
Uma festa que reúne amigos em volta de uma mesa para conversar, comer e beber. Esse é o conceito do Stammtisch, que acontece no final de semana na Estação União. Em uma tradução literal, Stammtisch significa “mesa de tronco” ou, “mesa cativa”.
O evento que alcança a segunda edição, é realizado pela Atema. Segundo Arceli Fudal, na estreia, do evento, mais de dez mil pessoas passaram pela estação. Para este ano, a expectativa é de o dobro deste público prestigie a festa. “Ao todo, temos mais de 50 empresas envolvidas, mais de 10 opções de alimentação e muito chopp”, antecipa a presidente da entidade organizadora.
A Stammtisch é aberta ao público, porém, ao longo da organização, grupos podiam se inscrever antecipadamente e receber barris de chopp para serem consumidos no local durante os dias da festa. Quem passar na Estação, vai encontrar os famosos jogos germânicos, música e comida típica alemã.
A segunda edição do evento começa neste sábado, 6, a partir das 10 horas com desfile de abertura. No domingo, a festa começa as 10 horas. “Queremos que o Stammtisch entre no calendário de eventos do Vale do Iguaçu e se torne uma tradição aqui das nossas cidades”, sorri a presidente.
