Nos começos da nossa peculiar República, jornais que desagradavam ao governo eram invadidos por mercenários, composta inclusive por homens da segurança pública, que quebrava tudo e agredia os jornalistas antes de obrigarem o veículo a fechar.
No regime militar, jornais eram censurados e jornalistas presos, torturados e mortos. Hoje, como (ainda) não é permitido quebrar jornais e matar jornalistas, a imprensa vem sendo atacada nas redes sociais e pelo presidente da República que chegou à dizer que tinha vontade de encher a boca de um repórter de porrada.
Para evitar que a precariedade dos hospitais municipais do Rio de Janeiro fosse para o noticiário, o prefeito Marcelo Crivella, usava de uma espécie de milícia nas portas dos hospitais. Eles intimidavam cidadãos que se dispunham a falar com repórteres da Rede Globo que também eram constrangidos no exercício da sua função pelos tais “guardiões”.
O espírito do tempo contra a imprensa forjado por militantes foi o que encorajou o movimento. Neste momento ser jornalista tornou-se quase um crime aos olhos de fanáticos.
Se jornalistas são sempre mentirosos, manipuladores e agentes do inimigo, nada mais natural que possam ser ameaçados fisicamente e fica aberto o caminho para que milicianos pagos com dinheiro público possam passar das palavras à ação concreta.
A justiça brasileira dá a sua parcela de contribuição na criação desse espírito do tempo contra a imprensa; seja na decretação de censuras prévias à pedido de investigados ou mesmo na aceitação sistemática de denúncias vazias de dano moral que são capazes de inviabilizar qualquer pequeno jornal apenas em custas com advogados, mesmo que estes saiam vencedores dos processos.
Jornalistas trabalham duro e em sua maior parte conseguem manter a objetividade na apuração e confecção de seus materiais. Não é um trabalho fácil, inclusive porque se pode usar a verdade para dizer mentiras.
O jornalismo pode não ser a mais bela das profissões mas ela é essencialmente necessária. Mesmo quem odeia jornalistas informa-se direta ou indiretamente pela imprensa. Não tem jeito, alguém tem de fazer o serviço mesmo que sujo de vez em quando. Mas as sujeiras pontuais não invalidam a realidade dos fatos que estão permanentemente em nossa frente, mesmo quando cercadas de opinião.
O problema é quando a opinião tenta apagar completamente o fato, como vem ocorrendo hoje em dia com extremistas e o seu pseudojornalismo.
Conta a história que é assim também na máfia: brucutus ameaçam brucutus que ameaçam gente honesta. Jornalistas de verdade não paralisam com o medo, pelo contrário, os enfrentam. Você não precisa gostar de jornalistas, mas é preciso dar esse crédito a eles.
É preciso valorizar a imprensa que tem identidade, endereço, equipe e principalmente histórico. Fomentar o jornalismo é um investimento seguro, capaz de unir e fortalecer o espírito de comunidade e grupo, que pode em última análise mudar primeiramente o nosso próprio mundo, aquele que nos rodeia.