O impacto causado pela pandemia no futebol brasileiro fez os clubes buscarem alternativas para monetizar e enxugar os gastos. Os campeonatos ficaram parados por mais de quatro meses e as receitas caíram. Além da falta de público nos estádios, os times viram muitos torcedores abandonarem os programas de sócios e empresas brecarem o investimento em patrocínios.
Uma das alternativas foi investir em conteúdo digital. Diversos times lançaram campanhas virtuais durante a pandemia e tentaram encontrar alguma forma para lucrar com os torcedores. A expectativa é de que isso vire uma tendência, mesmo quando o mundo voltar ao normal. Na Europa, por exemplo, a maioria dos clubes conta com conteúdos onlines exclusivos para sócios-torcedores.
“A pandemia mostra para os clubes a necessidade de diversificar receitas e de apostar mais em plataformas digitais para cativar a participação do torcedor”, ressaltou Amir Somoggi, especialista no estudo de finanças dos clubes, em entrevista ao Estadão.
O presidente do Fortaleza, Marcelo Paz, admitiu que a pandemia trouxe à tona a vulnerabilidade dos times brasileiros. “O futebol consegue ter um apoio popular tão massivo, que resistiu mesmo sem os públicos no estádio, buscando concluir as competições e arcar com os compromissos. Sabemos que é um cenário momentâneo, mas os esportes possuem um apelo muito forte. Por outro lado, expôs a fragilidade financeira dos clubes, a perda de receitas causadas pela pandemia está abalando a economia de diversos clubes.”
Marcelo Paz ainda acredita que o coronavírus fortaleceu a ideia de que no futebol se torna ainda mais necessário ter uma gestão responsável. “Sem dúvidas, o equilíbrio financeiro deve ser sempre prioridade. Não só para o futebol, mas isso pode servir de lição para diversas atividades no setor econômico.”
Com a perda de receitas, os dirigentes não arriscaram investir em reforços, dando mais espaço para garotos da base. São Paulo, Santos e Palmeiras são exemplos de times que passaram a contar com muitos jovens no elenco principal nesta temporada. O Corinthians fez mais contratações, mas a maioria sem custos, como Fabio Santos, Cazares e Otero.
Resta saber se os clubes vão manter as ações quando o mundo voltar ao normal. Bruno Maia, especialista em inovação e novos negócios na indústria do esporte, acredita que, para realmente haver mudanças permanentes no futebol brasileiro, a única saída é a união entre os times.
“Se o modelo não mudar, os erros serão os mesmos. A grande possibilidade de mudança seria a possibilidade de negociação dos clubes em grupo, pacificando uma relação e colocar o futebol brasileiro para trabalhar como indústria. Não temos nenhum progresso no modelo atual. O futebol está se tornando um produto cada vez mais difícil de ser consumido pelos torcedores, afasta o mercado de marcas e patrocinadores. Em 2021, 11 clubes da Série A irão trocar de direção, fica a esperança de uma visão diferente para mudanças benéficas ao futebol brasileiro”, disse.
Opinião mais otimista tem André Monnerat, diretor de negócios da Feng, empresa especializada em programa de sócios e engajamento de torcedores. Para ele, as ações devem se desenvolver mesmo quando a pandemia de coronavírus não existir mais.
“Acredito que poucas atividades e mesmo pessoas poderão dizer que não mudaram de alguma forma depois de tudo o que aconteceu em 2020. Muitos estão apenas tentando segurar as pontas na ansiedade de que as coisas voltem ao normal. E claro que há também dificuldades financeiras para investimentos em novidades, mas acredito em iniciativas nascidas das experiências traumáticas deste ano se desenvolvendo”, afirmou. “Tanto a interrupção dos jogos quanto depois a volta sem público nos estádios deixaram a lição de que há muitas possibilidades a serem exploradas.”