HOTEL CASA VERDE: O verde que foi amarelo e agora é vermelho

Hotel que leva no nome sua cor, ganhou novos tons no início de 2021

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Atualizado há 4 anos

Hotel Casa Verde

Sua cor não é mais o verde. Mas seu nome está marcado na história do Vale do Iguaçu como Hotel Casa Verde. O empreendimento é antigo, erguido na década de 20, situado até nos dias atuais no mesmo endereço – Rua Carlos Cavalcanti – centro de União da Vitória. A história da região Sul do Paraná passou por ali. O trem, através de seus trilhos tinha como referência o Casa Verde.

O comércio era familiar, tudo começou com uma bodega de secos e molhados. Em frente do empreendimento, o casal Hugo e Catharina Ulrich. Os filhos, nove no total, também ajudavam no trabalho.

A casa era de madeira, tinha sótão e sacada. “Era uma bodeguinha de secos e molhados”, lembra a filha Alice hoje aos 87 anos.

“Mamãe fazia comida para alguns carroceiros, a freguesia foi aumentando cada vez mais com ferroviários e visitantes”.

Além da comida, uma das mais saborosas, um outro pedido chegou através de seus frequentadores. Que tal oferecer ali a modalidade pensão? Inicialmente quatro dormitórios foram erguidos nos fundos. O desenvolvimento foi grande, e o casal decidiu encerrar os trabalhos da casa de comércio, transformando o local em Pensão Casa Verde.

Durante a II Guerra Mundial vários militares também passaram por ali.

“Uns voltaram, outros não”, lembra Alice que na época já ajudava os pais junto com os irmãos.

Para a jovem Alice, boas lembranças da época. Uma delas diz respeito a um militar chamado Alceu, que naquela ocasião namorava uma moça de nome Catarina, ambos de Palmas (PR). O rapaz carregava consigo uma foto da amada, onde ia, mostrava a todos.

“Alceu foi para a guerra, e quando voltou passou pelo Pensão Casa Verde. A triste notícia quem deu a ele foi minha mãe. Pelo mando do pai, Catarina havia se casado com outro rapaz”, disse Alice.

Ainda durante a II Guerra Mundial, devido ao sucesso, a estrutura de madeira deu espaço a novo local. Nascia então, de alvenaria o Hotel e Pensão Casa Verde. Inclusive, o mesmo prédio existe e abriga espaço para locações.

Por noite, as mais de 100 camas disponíveis eram ocupadas. Em 1948, o Casa Verde servia mais de 200 refeições por dia.

Em 1950, foi instalada em União da Vitória, a Escola do Comércio. O hotel ganhava outros estilos de pensionistas. Estudantes oriundos na maioria da região sudoeste e oeste do Paraná, desembarcavam na cidade, e tinham como morada provisória, as camas do Casa Verde.


O hotel

Hotel Casa Verde / Foto: Arquivo Pessoal
Hotel Casa Verde / Foto: Arquivo Pessoal

O espaço contava com mais de 100 camas – a maioria de solteiro e no meio de tudo isso, algumas camas de casal. O banheiro era coletivo. Os colchões eram de crina, os acolchoados de ganso – o enxoval era confeccionado pela matriarca Catharina e pelas filhas mais velhas – Adélia e Adelina.

Todos os filhos ajudavam na composição do espaço que também ganhou destaque com seu atendimento familiar.

O alojamento estava em um lugar estratégico, e era o preferido de todos. Ficava na entrada da cidade, para quem chegava de Dionísio Cerqueira, Barracão, Marmeleiro, Francisco Beltrão, Dois Vizinhos, Barro Preto hoje Coronel Vivida, Santo Antônio do Sudoeste, Pato Branco e Palmas.

Com a expansão das serrarias, não demorou muito para que o Hotel recebesse os caminhoneiros, que deixavam seus veículos estacionados ao longo na Rua Carlos Cavalcanti. Aproveitavam os dias chuvosos, para contar causos e fazer uma grande roda de chimarrão em frente ao prédio.

O espaço sempre foi verde. A filha Alice tem essa recordação. O pai, Hugo pintou dessa cor e sempre a manteve, para tanto o nome do local foi escolhido com essa referência.

O tempo passou, seu Hugo adoeceu, ficou cerca de 18 anos “acamado”. O filho mais velho, Alvin ficou à frente do empreendimento junto com a mãe.

Um tempo depois, em 1969, o empreendimento foi vendido a Balduíno Ângelo Sebben, morador de Santo Antônio do Iratim – interior de Bituruna.

 

Família Ulrich, foto encontrada no livro "Pegadas Amigas" da senhora Therezinha Leony Wolf
Família Ulrich, foto encontrada no livro “Pegadas Amigas” da senhora Therezinha Leony Wolf

Linha do Tempo

Por lá ainda passaram de forma arrendada em 1970, a família de Ivo Gonzaga, que continuou com o Hotel. De 1976 até 1978 Almiro Kreling assumiu os trabalhos.

Em 1980, o então proprietário Baldúino Sebben, abriu mão do empreendimento, repassando o local a família Abbas. Depois disso, existe uma lacuna sobre as pessoas que ficaram à frente do local.

A reportagem soube que uma mulher de sobrenome “Kuci ou Cucci” esteve por lá. Mas, datas e nomes corretos não foram encontrados. Entre os anos de 1990 e 2007, a senhora Judite Melek Gueguerelluf, assumiu a “instalagem”. Segundo ela, nos primeiros anos, o local servia de pensionato, mas as instalações mais antigas perderam a preferência de seus frequentadores.

Durante os 17 anos em quem ficou no local, Judite oferecia comida e hospedagem a seus clientes. Depois desse tempo, ela cedeu espaço para outras pessoas.

Segundo Abbas, eles até tentaram manter o espaço como hotel e restaurante, mas, não houve prosperidade de quem alugou o espaço neste tempo. E o local fechou há alguns anos. A data precisa ninguém se recorda.


Nos dias atuais

Hotel Casa Verde 2
Foto: Jaqueline Castaldon

Hoje, o Casa Verde abriga no térreo uma loja de artigos religiosos – esta inclusive transformou parte da fachada.

O que era verde, ficou vermelho.

Ainda do térreo, mais uma sala ampla está disponível para locação. Na parte superior quitinetes – onde era os antigos quartos, podem ser alugadas, além de dois apartamentos e vagas de estacionamentos.