Somente neste fim de semana, sete ocorrências envolvendo violência doméstica aconteceram na região. Seis em União da Vitória e uma em General Carneiro. Esse tipo de crime, faz parte do dia a dia dos relatórios a muito tempo. Inclusive a região é conhecida por estes altos índices. A questão cultural e a prevalência do machismo são os principais fatores, que não escolhem raça e muito menos classe social.
A primeira ocorrência foi sábado, 13, no bairro Limeira em União da Vitória, onde o marido danificou o suporte do seu celular da esposa. Tudo começou como uma discussão familiar; quando chegaram em casa, o agressor – neste caso praticando ameaças, não quis entregar os pertences da vítima, que por sua vez, decidiu não ir a diante com a denúncia.
Depois foi a vez de uma ameaça no Horst Waldraf – também em União da Vitória, onde a vítima contou que se desentendeu com o cônjuge, pois os dois haviam ingerido bebidas alcoólicas. Ela também decidiu não ir a diante com a denúncia.
No mesmo dia, em General Carneiro no bairro Planalto, uma mulher contou que seu marido a agrediu com socos, puxões de cabelo e empurrões após uma discussão. O suspeito não foi localizado, e a vítima foi para casa de familiares.
Já no domingo, 14, as situações começaram em União da Vitória as 19h30, uma no Horst Waldraff onde a mulher contou para a PM que seu marido estava bêbado e lhe agrediu com um soco no nariz e quebrou vários objetos da casa. Antes da chegada da viatura o suspeito fugiu. A mulher afirmou que procuraria a delegacia da mulher para o registro da situação.
No mesmo horário, não longe dali, no bairro São Braz, outra mulher acionou a PM porque o ex descumpriu a medida protetiva imposta pela justiça. Foi até a casa buscar o filho que ambos são genitores, agarrou no pescoço da mulher após uma discussão, os dois foram parar na 4º SDP.
As 20h30, mais uma situação desta vez no centro. A vítima relatou que o ex marido a agrediu no meio da rua, e ainda a arrastou pelos cabelos, mordeu seu pescoço e a bicicleta foi jogado contra a mesma. Recebeu ameaças de morte tanto a ela quanto ao filho de quatro anos, se acaso ligasse para a polícia. O suspeito não foi localizado.
Por fim, as 22h30 outro chamado da mesma natureza, descumprimento de medida protetiva e ameaça. A vítima contou para a PM que seu ex marido passou várias vezes em frente à sua casa com uma motocicleta, e enviada através do WhatsApp várias ameaças de morte, inclusive em uma das mensagens a foto de um possível revólver com a seguinte frase “olhe o que te espera aqui em casa”. O casal está separado há mais ou menos três meses e as ameaças são constantes, por isso, a medida protetiva.
Seguindo o atendimento, os policiais foram até a residência do suspeito, que não estava em casa, mas o pai dele autorizou a entrada da equipe na residência, durante revista, os policiais encontraram na cama o simulacro de um revólver, o mesmo enviado na foto. O objeto foi apreendido.
Números
Os números não mentem. Durante a pandemia os casos envolvendo violência doméstica se multiplicaram. A cada dois minutos uma mulher é agredida no Brasil.
Ainda no ano passado, durante o primeiro ano da pandemia, o Monitor da Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher no Período de Isolamento Social, já haviam quase 120 mil casos de lesão corporal decorrente de agressão doméstica. Por outro lado, as denúncias despencaram na mesma proporção. Não pela diminuição, mas sim, pela dificuldade em realizar as denúncias.
“A mulher foi a mais afetada pelo isolamento social. Muitas mulheres passaram a conviver com o agressor, dentro de casa e sem grandes possibilidades de escape”, explica a advogada criminalista Hanna Gomes.
Ela explica que é difícil evitar as agressões quando o inimigo é alguém próximo.
“Muitas vezes, essas agressões vêm de uma pessoa pela qual se nutre algum tipo de afeto”, diz.
Os principais agressores possuem algum vínculo com a vítima, sendo um ex-companheiro, atual ou o próprio pai.
Maria da Penha
A primeira forma de proteção da mulher vítima de violência no Brasil veio com através da Lei da Violência Doméstica e Familiar, ou Maria da Penha, como é popularmente conhecida. Outro avanço foram as delegacias especializadas no atendimento de mulheres, criadas para assegurar a proteção às vítimas. Mesmo assim, os casos se multiplicam a medida em que os meses vão passando.
“As pesquisas indicam também que as mulheres têm muito medo do que pode acontecer a elas a partir do momento que elas decidem comunicar a violência ao órgão social, à saúde, à Justiça”, disse a juíza Teresa Cabral da capita paulista.
Paraná
Segundo dados compilados ainda no ano passado, o Paraná registrou um amento de mais de 8,5% no número de violência doméstica nos primeiros meses da pandemia.
Depois disso, os números caíram, não pela diminuição da violência, mas sim, pela dificuldade de se fazer uma denúncia, afinal, com o isolamento, a maioria dos maridos, também ficaram mais em casa. Para se chegar a essa informação, foi fácil, bastou acompanhar os dados sobre o feminicídio – esse cresceu cerca de 17,5% no mesmo período.
No dia 12 de março, o Paraná lançou o Botão Pânico Virtual, que funciona através de aplicativo 190. Agora, mulheres com medidas de proteção podem acionar a PM pelo celular.
As mulheres que terão direito a usar o dispositivo não precisarão possuir créditos no telefone, nem pacote de internet.
Ele funcionará como ligação de emergência gratuita. A integração foi executada pela Celepar e o Tribunal de Justiça será responsável por determinar quem serão as mulheres que receberão acesso ao botão do pânico.
Segundo o chefe do Estado-Maior da PM, coronel Gelson Marcelo Jahnke, a medida possibilita que a mulher seja atendida de maneira prioritária e emergencial em 15 comarcas. “O botão do pânico permitirá que em três segundos seja aberta a ocorrência. Por 60 segundos o som ambiente será gravado e ele servirá de prova para um futuro processo criminal. O sistema, quando acionado, também oferece a correta localização da mulher através do GPS”, destacou.
União da Vitória deve receber o botão pânico, mas, até agora não existe uma data especifica para sua implantação. O anuncio foi feito em fevereiro, pela chefe regional da Secretaria da Justiça, família e trabalho (Sejuf) de União da Vitória Gabi Bakri.
Santa Catarina
Segundo dados, em 2020 – primeiro ano da pandemia, 57 mulheres morrem em decorrência do feminício em Santa Catarina. Em um ano tão atípico, em que as ocorrências de violência doméstica causaram uma preocupação acima do normal por causa do isolamento motivado pela pandemia.
As dificuldades criadas pela pandemia em 2020 também forçaram a criação de novas formas de combate à violência contra a mulher em Santa Catarina. Assim, os registros de violência são feitos pela internet, e podem ajudar que os órgãos de segurança façam uma intervenção no caso antes do feminicídio se concretizar.
Santa Catarina, lançou em julho do ano passado o Botão do Pânico para mulheres vítimas da violência. A ferramenta visa aproximar o cidadão de serviços de proteção.
Segundo a PM através do aplicativo, é possível verificar a localização em tempo real da vítima, além de fotos, vídeos e áudios sobre o incidente.
As interessadas podem acessar o aplicativo pela loja de Apps disponíveis em cada celular, para isso, é necessário que o aparelho seja um com sistema Android ou Iphone.
Como denunciar
- O Ligue 180 é um serviço de utilidade pública essencial para o enfrentamento à violência contra a mulher.
- O Disque 100 recebe, analisa e encaminha denúncias de violações de direitos humanos relacionadas aos seguintes grupos e/ou temas: Crianças e adolescentes. Pessoas idosas. Pessoas com deficiência.
- 190 é o número de telefone da Polícia Militar que deve ser acionado em casos de necessidade imediata ou socorro rápido.
Delegacia da Mulher de União da Vitória
- Endereço: Rua Ipiranga, 444, Centro,
- Tel: (42) 35225898
Delegacia da Mulher de Porto União
- Rua XV de Novembro, 100 – Centro
- Telefone: (42) 3523 3821