Hoje não é 15 de outubro, Dia do Professor. Mas é dia de lembrar de uma profissional que marcou a vida de muitas pessoas no Vale do Iguaçu e região, independentemente de ser data comemorativa. Seu nome é sempre citado aqui e ali, por pessoas das mais variadas idades, profissões e ideais.
Embora aposentada atualmente, Fahena Porto Horbatiuk, nunca deu adeus à sua profissão. Afirmou à reportagem que seu coração ainda está no Vale do Iguaçu, a qual considera sua terra querida. Mulher plural, de muito pensar, escrever e ensinar, sua memória começa a ser delineada por àqueles que a conheceram.
Onde está Fahena?
“Estou em Florianópolis, mas com coração aí, na minha terra querida (Vale do Iguaçu). Junto comigo estão todos os amigos e lembranças agradáveis, de tantos anos de contínuo diálogo com milhares de pessoas, tramando um leve tecido com esses fios, expressos em gestos, sorrisos e palavras. Estou tão feliz por vocês me acompanharem aqui (em Florianópolis). Estou deste o ano passado, reclusa. Mas tudo vai passar (pandemia), e estaremos aí, para usufruir dos abraços tão necessários”.
E disse mais:
“Faz quatro anos que estou em Florianópolis, em Santa Catarina. Moramos eu e o Paulo (esposo) em nossa casa, no bairro Trindade, perto da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), e próxima à residência das filhas e netos”, conta a professora.
Com 55 anos de magistério, a Faheninha, como é carinhosamente chamada pelos amigos e colegas de profissão, não fez planos pós aposentadoria. Não era algo que ela planejasse. Deixou rolar e aguardou o que vinha depois de encerrar sua carreira como educadora. Os convites para irem embora de Porto União foram incontáveis e aconteciam há anos. Uma de suas irmãs, que também é professora, sempre chamou Fahena para trabalhar em universidades de Florianópolis; porém ela nunca aceitou.
Discreta e sempre disposta a ajudar, ou responder prontamente sobre uma dúvida da língua portuguesa, Fahena também sempre esteve rodeada de livros escritos por professores e alunos da região. Ela ensinou o português para muita gente e certamente continua a ensinar.
História de sucesso
Sua história iniciou em 11 de janeiro de 1943, data de seu nascimento, em Nova Galícia, Porto União. Ela é a segunda filha do casal Amaury Porto, comerciante e Egydia Papaleo Porto, professora. Fahena é irmã de Diana, Taís e Suli.
Durante a infância, viveu tempo suficiente para conhecer a vida no interior de União da Vitória. Fahena foi aluna de sua mãe, em escola multisseriada. Além dos estudos escolares, também fazia a leitura de enciclopédia e antologia de escritores notáveis, brasileiros e portugueses, dos quais muitas vezes decorava os seus poemas.
“De forma que, quando eu tinha dez anos de idade, e a Diana, 11, a família mudou-se para a cidade de União da Vitória, para que cursássemos o Ginásio e Magistério no Colégio Santos Anjos. Eu e minha irmã Diana estudávamos na mesma classe, no mesmo banco escolar, e o ensino era de bom nível. Sempre gostei de livros, aprender satisfazia meu espírito, embora estudar fosse visto como profissão do adolescente e do jovem”, relata.
Recém-formada no Magistério, foi contratada pelo Colégio Santos Anjos, para lecionar nas séries iniciais.
“Foi uma experiência exitosa, de muito amor e produtividade. Quantos abraços e beijinhos recebi daqueles pequenos, ouvindo suas interessantes conversinhas. Posso afirmar que sempre amei meus alunos… grandes e pequenos, até os da Terceira Idade da Fafi”, lembra.
Simultaneamente ao Magistério, fez a Escola Técnica de Comércio no Coronel David Carneiro, em período noturno.
“Era preciso muita dedicação para bem trabalhar todas aquelas informações. Mas o principal é que, tanto no Santos Anjos como na Escola Técnica, os mestres nos ensinavam com suas aulas e com seu exemplo de cidadania, amor à terra e conhecimento da disciplina: médicos, engenheiros, padres, juízes, advogados, pessoas que sentiam a necessidade de preparar o futuro desta região”.
Quando terminou o Ensino Médio, conheceu seu namorado Paulo, e, por três anos se prepararam para constituir a família que hoje tanto amam: duas filhas, quatro netos e uma bisneta.
“Essa família é nosso tesouro, e, por causa dela, mudamo-nos para a bela capital catarinense”.
Após o casamento, Fahena passou a lecionar em casa, com aulas particulares.
“O que me ensinou a dar atenção e afeto a cada aluno, conforme sua dificuldade. E daí, cursando Letras, na Fafi, hoje Unespar, na primeira turma, meus colegas eram quase todos senhores e senhoras que já lecionavam nos colégios locais, e, graças a eles, tive acesso a dar aulas, antes mesmo de formada, no Túlio de França e no Cid Gonzaga. Depois, em outras instituições de ensino. Precisava estudar para dar conta do Curso, cuidar das filhas pequenas, e lecionar nos colégios. Tinha de conversar pouco e aproveitar todos os minutos”.
Ingressou no Movimento Familiar Cristão, lecionou Ensino Religioso no Colégio Túlio de França, e também Catequese pela Paróquia de Porto União, onde ministrou cursos de Pais e Padrinhos, de Noivos e muitas outras atividades ligadas à fé.
“Fomos assim nos engajando em atividades comunitárias, como a Feira de Livros e a colocação da revista Mundo Jovem, liderados pelo saudoso Padre Estevão Hubert; nos retiros com o Padre Abel Zastawny e, com outras lideranças; em atividades sociais e religiosas na Região dos Conjuntos, em Porto União, anos a fio, que nos renderam excelentes amizades e satisfação. Como diz o poeta Drummond Andrade, “de tudo fica um pouco … ”.
Após o término do Curso de Letras, foi convidada a ser professora no mesmo curso.
“Mas, por insistência da direção, participei do concurso, comecei a lecionar e fui buscar o Mestrado em Linguística, em Porto Alegre. Como era intensivo, de férias, pude realizá-lo. Para que bem finalizasse minha Dissertação, muito contribuiu a querida e competente Professora Delci Christ, que já lecionara para mim no Magistério do Santos Anjos e a quem sou muito grata”.
Fahena integra outros grupos culturais que consolidam sua trajetória no Vale do Iguaçu.
“Como se depreende, a gente, como um espelho, recebe das outras luzes o reflexo e a vida torna-se animada e feliz. Ser membro da Academia de Letras (Alvi) e da Academia de Cultura (Acupre), está sendo, desde o início, mais uma bênção em nossa vida. Por tudo isso, Porto União e União da Vitória são nossa Casa a Céu Aberto, ladeada pelas paredes verdejantes e azuladas da natureza; e, nossa grande família, sua população. Minha gratidão a todos que conheci, e mesmo aos que não conheci, mas deram de sua vida para que a minha fosse possível”.
Para ‘matar’ a saudade
Fahena também é colunista da CBN Vale do Iguaçu. Apresenta nas quintas-feiras, às 14h25, o CBN em Bom Português.
Que tal ‘matar’ a saudade? Sintonize 106.5 FM.
Serviço
O Comércio desde a semana passada apresenta a série “Por Onde Anda”, com reportagens sobre personalidades que estiveram no Vale do Iguaçu e que escreveram seus nomes na história.