O mercado de bicicletas brasileiro vive um ‘boom’ de vendas em meio à pandemia da Covid-19. Apontado como transporte sem aglomeração, desde o ano passado, a bike vem recebendo destaque positivo e confiança durante a crise sanitária, inclusive seu uso foi recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Dados da Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares (Abraciclo), apontam que cerca de 90 mil unidades foram montadas em setembro do ano passado, o que representa um crescimento de 39,6% na comparação com agosto.
Segundo o empresário Daniel Alejandro Carbajal Palacios, “em meio à crise econômica, o mercado de bikes vive uma contradição: segue aquecido”. Carbajal comentou o assunto em recente entrevista à CBN Vale do Iguaçu.
Uruguaio, de 54 anos, Carbajal há 33 anos é um entusiasta do transporte de duas rodas. Sua história começou em 1988, como ajudante de mecânico de bicicletas da Caloi, em São Paulo. Depois disso, em 1990, viajou para a Europa para se aperfeiçoar na profissão.
De volta ao Brasil, empreendeu a loja Bikemania, e depois, em 1994, criou a Bikerspoint, a conhecida bicicletaria na zona sul de São Paulo, que existiu até 2006, com foco nas modalidades mais extremas do ciclismo, como o Downhill, sendo o pioneiro na organização de eventos dessa modalidade na Serra da Cantareira, em São Paulo.
Em 2003, ampliou seu ramo de atuação. Passou a importar e distribuir algumas importantes marcas como a Manitou, abrindo inclusive um centro de assistência técnica por meio de uma parceria que nasceu na Califórnia, na dona da marca de suspensões, a Answer Products.
Atualmente, Daniel reside em Curitiba (PR) e é proprietário da Bike Shop Barigui, com atuação nos três estados do Sul do Brasil, (Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná), com representação comercial de grandes marcas internacionais.
Confira a entrevista:
Jornal O Comércio (JOC): Na sua vida, a bicicleta foi uma espécie de amor à primeira vista?
Daniel Alejandro (DA): Totalmente. Desde criança sempre fui aficionado por bicicletas. E hoje, graças a Deus, eu consigo trabalhar com aquilo que é minha paixão; é uma satisfação dupla.
JOC: Como mantém esse relacionamento duradouro?
DA: (Risos) a bike, cedo ou tarde, sempre vai passar na vida das pessoas, sejam elas crianças, adolescentes, exercícios ou até competições. No meu caso, aconteceu quando criança. Eu adorava aquele vento na ‘cara’, sensação de liberdade e de aventura. A relação com a bicicleta é um amor antigo.
JOC: Como um uruguaio veio parar no Brasil?
DC: Resumindo (risos), eu me considero um brasileiro nascido no Uruguai. Moro aqui há 33 anos. Meu fanatismo pela bike começou em uma oficina de bicicletas, consertando, adquirindo expertises. Sempre consertei as bicicletas da família. Iniciei minha trajetória em São Paulo, em 1988, em uma loja representante da Caloi, onde atuei durante 23 anos como lojista. Após, desenvolvi um trabalho na importação e distribuição de marcas para competição para ciclismo. Em 2009, me mudei para Curitiba, capital do Paraná, com intuído de qualidade de vida e para negócios profissionais. A capital tem proximidade com o Porto de Paranaguá, cujos benéficos fiscais, naquela ocasião, foram atraentes para mim e para as operações que pretendia. Me tornei o primeiro lojista na capital do Paraná com marcas internacionais. Por fim, estou sete anos atuando no ramo do varejo.
JOC: O mercado de bicicletas é desafiador?
DC: É desafiador porque o mercado não estava muito estruturado para essa onda intensa de consumo que aconteceu durante a pandemia. Aí, apareceram várias questões que tornaram o negócio desafiador, apesar do mercado ter explodido a nível mundial. A demanda aumentou demais e a oferta não acompanhou. Foi um momento atípico.
JOC: Vários setores padeceram com a crise sanitária. No caso do mercado de bicicletas, o cenário foi contraditório?
DC: Teve uma tremenda contradição. A bicicleta apareceu como solução para vários problemas durante a pandemia, principalmente para desafogar o transporte público. As pessoas perceberam que poderiam se locomover de bike para os seus trabalhos e nos afazeres do dia a dia, evitando aglomerações e fazendo exercícios diariamente, sendo um exercício individual. Mas, voltando à pergunta, o mercado de bicicletas apresentou um tremendo ‘boom’ nas vendas.
JOC: Foi surpreendente esse aquecimento nas vendas?
DC: Foi uma grata surpresa. Em abril de 2020, começou a explosão pelo consumo das bicicletas. O setor, de lá para cá, não tem tido calma (risos).
JOC: Explosão na demanda com aperto na oferta?
DC: No cenário do mercado de bicicleta existem vários segmentos: infantis, urbanas, de entrada – que são as mais econômicas -, competição, enfim, um leque enorme de possibilidades. Porém, houve a quebra em alguns modelos mais comerciais, o que a gente chama da base da pirâmide. Ou seja, houveram problemas de abastecimento na China por conta da interrupção na produção. A demanda ficou mais acelerada nos grandes mercados mundiais, como Europa e Estados Unidos. Já nos países da América Latina, posso dizer que estamos no final da fila para o abastecimento do produto. O impacto foi diferente para cada fornecedor. Teve fábricas com estoques de insumo na produção e outras que tiveram queda de produção, como foi o caso de Manaus, que é um polo industrial, onde a maioria das grandes marcas se movimentam lá. Porém, aos poucos essas grandes indústrias e lojas retomarão seus estoques com força perante os fornecedores. Sabemos que há filas de espera no mercado da bicicleta.
JOC: O Brasil está bem servido no mercado das bikes?
DC: Sim. Hoje em dia operam as grandes marcas globais e grandes empresas como subsidiárias das fábricas dentro do País. O mercado de bicicletas gera muitos segmentos de consumo, como acessórios, vestuário, indumentárias, peças, serviços e outros. O Brasil tem sim um mercado superatrativo de bikes para os mercados globais.
JOC: Em porcentagem, quando aumentou a procura pelo mercado de bicicletas durante a pandemia?
DC: Depende de empresa para empresa. Mas, aqui na empresa, o crescimento foi de 300%. Apostamos há três anos nas vendas online e na tecnologia. No País diria um aumento em torno de 80%.
JOC: A bike elétrica também apresentou crescimento?
DC: Totalmente. Porém, o grande entrave da bike elétrica hoje é a tributação. As grandes indústrias brasileiras buscaram alternativas para entregar o produto através de custo benefício. A bike elétrica é a número 1 em vendas.
JOC: Nos conte, qual é a sua bike preferida: as antigas ou as modernas?
DC: A bike foi evoluindo igual um carro de Fórmula 1, de tanta tecnologia que possui. Mas eu sou apaixonado pelas bikes antigas.
JOC: Temos bikes para todos os bolsos?
DC: Sim. A faixa de preços para uma bike que funcione bem e com peças confiáveis, fica em torno de R$ 2.500 a R$ 20 mil.
JOC: Qual a maior fabricante de bicicletas do mundo?
DC: É a taiwanesa chamada de Giant. Além de ter a sua marca própria, também fabrica para várias outras marcas em Taiwan.
JOC: Qual é o conselho para os amantes do pedal?
DC: Que respeitem as leis de trânsito e outros modais de transportes. Oriento também que o ciclista seja bem assessorado, com suporte de um produto adequado e ajustado com equipamentos de segurança. Não ouça música enquanto pedala, pois deve estar conectado com o habitat do trânsito. No mais, percam o medo e vão para a rua pedalar.
Maio Amarelo
A entrevista aconteceu em maio, justamente para lembrar o movimento Maio Amarelo. A iniciativa nasceu em 2014 e fomenta uma ação coordenada entre o Poder Público, iniciativa privada e sociedade civil para discutir o tema segurança viária com o objetivo de reduzir os acidentes e mortes no trânsito.