A Folha de S.Paulo procurou as plataformas pertencentes à Meta (Facebook, Instagram, WhatsApp), além de TikTok, Kwai, Twitter e Google, que controla o YouTube. O Telegram foi a única companhia a ignorar os contatos.
Devido ao volume de dados que circula nas plataformas, as big techs recorrem a sistemas automatizados combinados a moderação humana e a denúncias de usuários para avaliar que conteúdos violam suas regras.
Essas informações até agora não fornecidas pelas empresas são consideradas cruciais por especialistas para entender como elas estão investindo no combate à desinformação e ao discurso de ódio.
Também em ofícios para responder a questionamentos do Ministério Público Federal em São Paulo em relação à moderação de conteúdo, Facebook, Instagram, TikTok e YouTube não forneceram informações.
Além de discurso de ódio e violência de gênero, outros focos de atenção quanto à moderação das redes são postagens que contenham desinformação sobre as urnas eletrônicas, alegações infundadas de fraude no pleito e a narrativa golpista disseminada pelo presidente Jair Bolsonaro (PL).
“As empresas estão fazendo um trabalho tradicionalmente do Judiciário, decidindo na prática o que deve ser mantido ou não”, diz Yasmin Curzi, pesquisadora do Centro de Tecnologia e Sociedade da FGV Direito Rio.
“É uma atividade muito importante e precisa de muito mais transparência do que estão ofertando.”
A Folha também pediu às plataformas o motivo para não informar o tamanho -e uma eventual ampliação, devido às eleições de outubro- das equipes de moderação. A maioria das empresas não deu nenhuma justificativa.
A falta de transparência não é exclusividade do Brasil. Os gigantes de tecnologia têm sido pressionados em todo o mundo a explicar como atuam para regular o conteúdo postado nas redes.
Frances Haugen, ex-funcionária do Facebook responsável pela área de integridade cívica da plataforma, disse à Folha que a empresa aloca seus recursos de segurança nos países onde teme ser regulamentada.
A afirmação corrobora apontamentos de especialistas, segundo os quais o investimento feito pelas big techs para determinadas línguas, em especial o inglês, é desproporcional à quantidade de usuários ativos.
Em 2021, Haugen revelou documentos que ficaram conhecidos como Facebook Papers. Os relatórios mostram que 87% do orçamento global da empresa para classificação de desinformação era para os EUA.
À Folha de S.Paulo a Meta, dona de Facebook e Instagram, disse que os “números específicos de um determinado país ou idioma não refletem a complexidade desse trabalho”. Segundo a empresa, 40 mil pessoas lidam com segurança e integridade na plataforma, dos quais cerca de 15 mil são revisores de conteúdo.
Já o YouTube apontou questões de segurança para não responder às perguntas. “Não compartilhamos dados específicos dessa equipe devido à sensibilidade da função que exerce. É nosso dever preservar os perfis e as identidades dessas pessoas, assim como zelar pela segurança delas.”
A reportagem, no entanto, não questionou o perfil nem quem são os funcionários que realizam essa tarefa. A companhia mencionou ainda “a contratação de milhares de revisores humanos em diversas partes do mundo”.
Quanto ao serviço de anúncios, já que é possível fazer propaganda política tanto no YouTube quanto na ferramenta de busca durante a campanha eleitoral, o Google também não especificou o número de moderadores para o português que possui nem explicou por que não informou o dado.
O TikTok, por sua vez, respondeu que “não informa números específicos” e que conta “com milhares de moderadores de conteúdo no mundo todo, entre os quais profissionais brasileiros aptos a lidar com o contexto e as particularidades do país”.
O Kwai não deu qualquer informação sobre a dimensão das equipes de moderação e afirmou que a empresa “não revela essa informação por razões estratégicas”.
O Twitter disse contar “com uma equipe ao redor do mundo para analisar potenciais violações às suas regras, o que inclui falantes de português”. A empresa afirmou ainda que, em momentos como eleições, dedica “mais esforços desses e de outros times, que incluem brasileiros, para monitorar as conversas”.
Apesar de não ter dado nenhum número concreto, o Twitter foi a única empresa a perpassar a questão do aumento das equipes devido ao pleito presidencial. As outras companhias ignoraram a pergunta.
O WhatsApp, que também pertence à Meta, afirmou que “não abre esses números” e que “não realiza moderação de conteúdo”.
Por usar criptografia de ponta a ponta, o aplicativo em tese não tem acesso às mensagens trocadas. Mas, como a própria empresa alerta, em caso de denúncias a plataforma pode receber as cinco últimas mensagens enviadas numa determinada conversa.
A companhia afirma ter uma equipe “com domínio de diversas línguas, incluindo o português brasileiro,” e trabalhar com parceiros para auxiliar “no trabalho fundamental de revisar e responder questões e denúncias de usuários”.
Dados também não foram fornecidos ao Ministério Público A Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão (Ministério Público Federal em São Paulo) enviou ao diretor-geral do Facebook no Brasil em novembro de 2021 questionamentos sobre Facebook e Instagram.
A Meta não especificou o número de moderadores em português nem o investimento em inteligência artificial no idioma, dizendo que as equipes, globais, analisam conteúdo ininterruptamente e contam “com mais de 20 pontos físicos” que verificam conteúdo “em mais de 50 idiomas”.
A companhia também não informou o número de usuários ativos nas plataformas, dizendo se tratar de “informações confidenciais, sendo necessária a preservação do segredo comercial”.
Na resposta às mesmas perguntas do órgão, a Bytedance Brasil Tecnologia, que controla o Tik Tok, foi ainda mais vaga. Não especificou o número de moderadores no Brasil ou que falam português, limitando-se a dizer que possui um “time de análise e moderação de conteúdo que conta com um relevante número de funcionários brasileiros, localizados no Brasil e contratados diretamente pela Bytedance Brasil”.
O Twitter alegou segredo de negócio para não responder a parte dos questionamentos. Sobre o valor de investimento no Brasil e o tamanho da equipe de moderação, a empresa disse apenas que “é possível constatar que o Twitter está investindo fartos valores para manter a plataforma segura”.
O Google, ao responder a questionamentos sobre o YouTube, nem sequer abordou diretamente as perguntas sobre o time de moderadores em português e os recursos em inteligência artificial no idioma.