Pelo Estado entrevista Dagnor Schneider, presidente da Fetrancesc

“A infraestrutura de Santa Catarina precisa de uma atenção especial dos órgãos públicos”

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Atualizado há 9 meses

Nos últimos dias, a Federação das Empresas de Transportes de Cargas e Logística no Estado de Santa Catarina e os sindicatos filiados que compõem o Sistema Fetrancesc reforçaram a preocupação com o bloqueio da BR-470 e com a interdição de um trecho da rodovia após a abertura de uma cratera provocada pelas chuvas. A situação atual da malha viária catarinense foi pauta da conversa com o presidente da federação, Dagnor Schneider.

pelo estado entrevista Dagnor Schneider, presidente da Fetrancesc
Foto: Fetrancesc/Divulgação

Confira:

Pelo Estado – Como representante das Empresas de Transportes de Cargas e Logística no Estado, como o senhor avalia a situação das rodovias de Santa Catarina?

Dagnor Schneider – O cenário é preocupante. Vou usar como referência a pesquisa CNT das rodovias, da qual pegamos um recorte especial para Santa Catarina e constatamos que o estado tem a menor malha rodoviária per capita do Brasil pavimentada. Além de ser uma das piores em termos de manutenção ao longo do tempo, demonstrando que a gente tem um passivo muito grande quando se fala de infraestrutura rodoviária. E as consequências disso vão aflorando ao longo do tempo. Uma demonstração mais recente é o caso que a gente vê da BR-470, na altura de Rio do Sul, quando uma cratera acabou abrindo um pavimento da rodovia sem que tenha tido a adequada manutenção na linha do tempo e acabou gerando um transtorno extremamente relevante para a sociedade catarinense.

PE – O senhor tem uma estimativa de valores deste prejuízo?

DS – É difícil quantificar valores neste caso, mas sabemos que é extremamente robusto.  Por exemplo, impacta no escoamento da produção que parte do Oeste em direção aos portos de Santa Catarina, porque ocasionou um alongamento de trecho de 130 km, pela br-282, um aumento de jornada de tempo de rodagem de, pelo menos, mais três horas, aumentando o custo operacional. Isso sem falar no aumento do congestionamento da via, que já é uma via que tem trânsito intenso, não é duplicado, é uma via de pista simples e, nessa condição, há cada vez mais uma redução da velocidade média, comprometendo a fluidez do trânsito. Então, o aumento de custo operacional, do tempo de rota acaba comprometendo o abastecimento e até o atendimento dessas demandas nas exportações catarinenses.

PE – E onde estão os pontos mais críticos do Estado?

DS – Na BR-158, SC-350, SC-283 na rota Oeste, BR-153, BR-70, a BR-282, a BR-163, SC-305, também na região Oeste. SC-477, no Planalto Norte, e a própria BR-101, que mesmo sendo concedida, o pavimento já está em deterioração e o próprio fluxo do trânsito também já está colapsando. Então, infelizmente, a infraestrutura de Santa Catarina precisa de uma atenção especial dos órgãos públicos para que, efetivamente, a gente faça planejamento com ações de curto, médio e longo prazo.

PE – De quem seria a responsabilidade de melhorar as rodovias? O investimento do Governo Federal estaria sendo suficiente?

DS – Eu entendo que o gestor do estado é o Governo do Estado, ele precisa olhar com mais carinho para infraestrutura, para este patrimônio relevante que a gente tem. A meu ver, é a ele que compete a manutenção e a ampliação da malha rodoviária em Santa Catarina. Claro que também é preciso uma interação com o Governo Federal para que ele proceda com a adequada manutenção e ampliação da capacidade da malha rodoviária federal. Então, eu atribuo a responsabilidade ao Governo do Estado, mas estou falando das gestões anteriores de um modo geral, não atribuo a esse governo. Temos um legado histórico que nos impõe um passivo que remete a uma perda de competitividade.

Santa Catarina tem, aproximadamente, sete mil quilômetros de rodovias pavimentadas. Enquanto isso, o Paraná, que é um estado um pouco maior que o nosso, tem mais de 19 mil quilômetros. Agora, o estado do Paraná concedeu mais de 3.300 km para iniciativa privada em projeto de concessão. O investimento previsto é na ordem de R$ 50 bilhões para os próximos 10 anos. E Santa Catarina não tem nenhum projeto de concessão. Recentemente, estivemos em uma audiência com o Ministro do Transporte e infraestrutura Renan Filho, e ele sinalizou que não existe no Governo Federal nenhuma previsão, antes de 2025, para inserir novos projetos de concessões, portanto, Santa Catarina não será contemplada, o que aumenta ainda mais a responsabilidade do Governo do Estado para a efetiva aplicação dos recursos que são designados para a área.

PE – Além da competitividade, quais as consequências para o Estado desta falta de investimento e melhoramento da malha rodoviária?

DS – Primeiro, precisamos falar da questão dos acidentes, das vidas que se perdem e que não têm preço. A gente começa a aceitar como normal transitar em rodovias com pavimento ruim, com congestionamento de fluxo, com acidentes e mortes. E isso já faz parte da nossa rotina, aceitamos como normal quando deveríamos nos indignar.

Volto a frisar que o Estado de Santa Catarina arrecada anualmente, e tem a previsão para esse ano, de arrecadar em torno de 4 bilhões de reais de automóveis e caminhões, que recolhem os cofres do Estado. Este valor é partilhado com os municípios e nós defendemos que uma parcela desse recurso seja aplicado de maneira compulsória na linha do tempo, para que a gente possa ter a recuperação desse passivo que acabou ficando pela carência de investimentos. Outro projeto de extrema importância é a rodovia paralela da BR-101, que já está em colapso em termos de fluidez. O trecho de Santa Catarina, com a conclusão do Contorno Viário de Florianópolis, aquele que contempla Porto Belo, Balneário Camboriú, Itapema, Itajaí, Navegantes e Penha, em direção a Joinville, vai entrar em colapso também.

Existe um projeto em tramitação na Secretaria de Infraestrutura que liga Joinville ao contorno de Florianópolis. Entendo que este é um projeto estratégico e, quando a gente fala de infraestrutura, a gente fala de projetos, de implementação de mais de 10, 15, 20 anos. Então, realmente nós precisamos melhorar o planejamento com visão de médio e longo prazo.

PE – Diante deste cenário, quais ações serão tomadas pela Fetrancesc?

DS – Realizaremos no próximo dia 7, em Joinville, juntamente com a CNT, uma audiência onde a pauta prioritária é a infraestrutura de Santa Catarina. Neste dia, convidamos a estar presentes o Governador Jorginho Mello, o Deputado Mauro de Nadal, o Secretário de Infraestrutura, lideranças estaduais e federais, senadores e parlamentares do Estado. Já no dia 29 haverá outro evento, desta vez na Assembleia Legislativa de Santa Catarina, também para debater a situação da infraestrutura do Estado.

Nós tratamos o tema infraestrutura como uma pauta permanente e prioritária e com articulação junto à SEI, o Governo do Estado, Governo Federal, Fórum Parlamentar Catarinense e Assembleia Legislativa, enfim, nós precisamos da sociedade como um todo mobilizada para essa realidade, para que nós possamos, através de planejamento, criar estratégias de execução e ter uma trilha de avanço na competitividade e na melhoria da infraestrutura de Santa Catarina.

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