Dom Walter: Vida dedicada à medicina da alma

Dom Walter recebe homenagem por seus 60 anos de vida em prol da religião. Padre e bispo emérito, religioso garante que vida foi boa

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Atualizado há 11 anos

Por Mariana Honesko

Dom Walter 02No alto de seus 84 anos, Dom Walter caminha com passos tranquilos. Nos pés, calça um tênis preto, confortável e seguro. Depois dos 80, as pernas não são mais as mesmas. “Ando de bengala de vez em quando”, sorri. Vestido de maneira elegante, o bispo emérito não aproveita sua “aposentadoria” como a maioria. “Estou cheio de trabalho”, conta ele que embarca em fevereiro para o Rio de Janeiro. Por lá, ministra um retiro – comum entre os católicos – durante uma semana.

Fôlego e disposição sobram e se traduzem em experiência. Ao olhar para trás, encontra uma vida saudável e plena. Às vésperas da comemoração de seus 60 anos de vida sacerdotal, Dom Walter não vê méritos. “O tempo passa”, diz, com sabedoria. “Minha vida foi longa e boa”, completa.

A vida longa começou no dia 3 de agosto de 1929, em Dingli, na Ilha de Malta. Filho de Joseph e Mary Ebejer, apenas Walter reconheceu sua missão na vida religiosa aos 16 anos. “A gente sente este chamado de Deus, que é para ser um missionário mesmo”, diz. De lá para cá, a vida mudou. Walter cursou o seminário e em 24 de janeiro de 1954, foi ordenado como padre em Malta. Mais tarde, trabalhou no Colégio Santo Alberto Magno, ainda em Malta e dois anos depois, desembarcou no Brasil. “Escrevi para outros lugares mas apenas no Brasil me aceitaram”, brinca.

País tropical, abençoado por Deus

O que encontrou no País não foi exatamente a descrição da música de Jorge Ben Jor. Dom Walter tornou-se missionário no sertão de Goiás. Foi no pó vermelho da região e das horas cavalgando que encontrou inspiração para escrever sua primeira obra, “Eu, meu Deus e minha mula”. “Andei três anos no sertão. Ficava várias horas por dia andando a cavalo, de casa em casa”, lembra.

O então padre foi transferido para Curitiba e meses depois, para Faxinal, no Norte do estado. Na cidade, iniciou a construção do Colégio São Domingos e iniciou as obras da Igreja Matriz de São Sebastião. Dom Walter também trabalhou nas paróquias de Ponta Grossa, Matinhos, já no litoral paranaense e Pontal do Sul, também na região litorânea.

Mas, foi em União da Vitória que Dom Walter viu seu trabalho ganhar ainda mais força. Em dezembro de 1976, foi eleito como o primeiro bispo da região. No cargo, ficou por mais de 30 anos. Da função, Dom Walter está “aposentado” desde 2007. Daí o nome “emérito”. “Sou bispo, mas não estou em atividades na função. Ainda faço missas, algumas celebrações, casamentos quando me convidam”, explica.

O tempo é de descanso e Dom Walter parece não ter entendido, de fato, o que é isso. “Escrevo para o Estrela Matutina (jornal da diocese), escrevo livros”, conta. Para quem gosta da redação do religioso, há novidades. Outros dois livros – Dom Walter tem dois publicados no currículo – estão saindo do forno. “Estão quase prontos”, afirma, sem revelar mais detalhes. Intelectual, Dom Walter não esconde o gosto pelas músicas clássicas e carrega em seu histórico ações que impulsionaram o contexto educacional da cidade. Entre elas, está, por exemplo, a participação na fundação da Academia de Letras Vale do Iguaçu (Alvi) e a construção do Seminário Rainha das Missões.

Do Brasil e das Cidades Irmãs, Dom Walter garante que não vai mais embora. Ele mora há seis anos na casa paroquial que fica no bairro Jardim Brasília, em Porto União.

Dom Walter 01Um homem que gostava de patins

“Torço pelo Palmeiras”, sorri Dom Walter ao brincar sobre sua preferência no futebol. “Não gosto muito disso. Eu era especialista com patins. Aprendi sozinho e ensinei os outros”, narra, orgulhoso. Dono de uma infância feliz, Dom Walter tinha na patinação sua paixão. Aos 12 anos, era ágil sobre quatro rodas. “Subia até escada”, detalha. O tempo passou e o sonho do sacerdote não pode ser realizado. “Gostaria muito de ter patinado no gelo. Mas, a idade chegou, fiquei velho demais para isso. Hoje acho que é até perigoso”, diz.

Apenas com as ovelhas

Dom Walter ficou muito longe de casa e de sua família. Irmão de outros quatro filhos do casal de Malta, ele tem apenas um elo vivo. “Meu irmão mora na Austrália. É o único irmão vivo ainda”, conta. Na sua cidade natal, vivem ainda – e apenas – sobrinhos e sobrinhos-netos. Uma irmã, falecida há dez anos, era seu contato mais próximo de sua terra natal e de sua linhagem. “Ela veio muitas vezes para cá”, lembra.

Papa Francisco, homem que impulsiona

Na sala de visitas da casa onde mora, Dom Walter exibe uma sequência de fotos que narram um pouco de sua trajetória. Nas paredes, há imagens de santos, de Jesus Cristo, de seus encontros com outro papas. Com Francisco, Dom Walter ainda não trocou cumprimentos, mas, de longe, elogia o desempenho do líder. “Estou gostando muito do trabalho dele. É um homem que veio impulsionar a Igreja, dar esperança. É algo que a Igreja e a sociedade estavam esperando”, avalia. “Nossa sociedade está precisando disso. Ela está efervescendo. É perigoso”, pontua.

A homenagem

A comemoração ocorre justamente no dia em que o religioso completa 60 anos de ordenação (quando se tornou padre). Para isso, uma missa especial foi preparada. Ela ocorre no dia 24, às 18 horas, no Salão Paroquial da Catedral Sagrado Coração de Jesus. O evento é aberto à comunidade. Além da celebração, o evento homenageia Dom Walter com a leitura de um recorte de sua vida.

Dom Walter - CAPADe Malta para o mundo

A ilha é mediterrânea e agrada pela temperatura, belas paisagens, história, cultura e mar azul. Ela fica à 290 quilômetros da África. O verão é quente, se estende de maio a outubro. O inverno, porém, é rigoroso. Apesar de ser pequena, com 400 mil habitantes, Malta tem muitos atrativos. O país é formado por três ilhas e tem muita história.