“Amei e chamei de irmão um monstro”, diz filha de idoso assassinado

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Atualizado há 1 mês

Filha e enteada do casal assassinado em Porto União, Marlize Lerner usou as redes socias para fazer um desabafo sobre o crime inacreditável para ela e muitos a sua volta. Fato que chocou o Vale do Iguaçu compelta um ano dia 26 de oubutro.

O pai e madrasta de Marlize foram brutalmente assassinados por Marcelo Lerner, filho de Ivo Romano Lerner, uma das vítimas.

” Dia 22.10.2023, neste exato momento meu celular tocou…era você Pai como sempre me ligando para conversarmos…sentei na porta do apto e por mais de uma hora conversamos e eu já de saco cheio com a enchente e vc me dando conselhos, falou enchente vai embora e na guerra que inocentes morrem?..me contou como estavam e como foi o domingo..falou pra mim não reclamar e nem trabalhar tanto para olhar ao redor que pessoas estão em situações piores, para aproveitar mais a vida e não me matar trabalhando…Ahhh tantas ligações …Tantos conselhos…mau sabia eu que aquela ligação seria a última e que na vdd era uma despedida…Há menos de 4 anos atrás eu tinha tudo e hoje já faz um ano que perdi praticamente tudo…vi minha família ir ralo a baixo e nem pude fazer nada …Há um ano …vazio …sdds.. dor..medo…Não sei qual sentimento usar para descrever o que sinto… um ano que a vida mudou drasticamente e luto todo dia para tentar entender e seguir, morro cada dia um pouco em lembrar de como tudo teve fim”, diz o desabafo.

Marlize perdeu a mãe em 2020. Desde então, as visitas a casa do pai, no interior, tinham o objetivo de ajudar Ivo com os afazeres da casa.

“Eu ia lá todo final de semana para ajudar a lavar roupas, fazer faxina. Meu pai se virava bem, mas eu sempre ajudava. Quando a Ana chegou, as coisas mudaram. Uma mulher humilde, com o mesmo estilo de vida nosso. Eu continue frequentando a casa para passear, conversar, tomar chimarrão. A Ana cuidava muito bem dele“, lembra a filha.

Marlize e o pai. Segundo ela, Ivo sempre gostou de confraternizações (Foto: Divulgação família)

Pórem, tudo mudou depois daquele dia 22 de outubro.

“Na verdade a gente só deu conta do sumiço dia 25. Pois lá onde eles moravam só pegava celular no Wi-Fi e quando chovia inúmeras vezes caia o sinal. Aí achamos que não tinha internet. Aí dia 25 de manhã o vizinho dele me mandou mensagem perguntando deles. Aí falei, tão em casa aí que ele me falou não tem ninguém e a casa tava fechada. Então mandei mensagem para o Marcelo que demorou responder. Quando respondeu falou que eles tavam na filha dela em Caçador. Falei com a filha eles não tavam lá. Foi aí que demos conta que tinha algo errado “, conta.

Marlize começou uma procura desesperada pelo casal. “Mandamos mensagem para todos os parentes, ninguém tinha visto eles. Fomos então na delegacia, que mandou ir até a casa ver se tinha algo. Neste momento eu já estava tomada pelo medo, apavorada. Mesmo assim, eu e minha irmã com medo fomos até a casa”.

Segundo Marlize, aparentemente, tudo estava em ordem na casa, porém o casal não estava, nem os documentos e os celulares. “Quando achamos a chave do banheiro e entramos, tinha sangue, e o quarto deles tinha cheiro de sangue”, lembra a filha. 

Marlize lembra que, quando ela e a irmã, Marlene, chegaram na casa, já a noite, o irmão Marcelo também chegou. “Tivemos muito medo e te digo, achei que eu ia morrer ali. Quando achei o sangue no banheiro o Marcelo só dizia que não era sangue.

As irmãs começaram a suspeitar de que Marcelo pudesse ter feito algo, pois esse se contradizia quando perguntavam pelo pai.

As irmãs ficaram no local até próximo das 3h da manhã, depois foram até a delegacia com fotos da casa. Porém, era necessário aguardar o nascer do dia para que o juíz autorizasse o mandado de busca.

“Às 5h meu tio, vizinhos e amigos voltaram a procurar. Às 7h meu tio achou um buraco e eles, infelizmente, estavam lá”, lembra.

Marlize, depois daquele dia 26, nunca mais falou com o irmão, apenas o viu durante a audiência. “Decepção, tristeza, não sei definir certo o que sinto. As vezes penso que amei e chamei de irmão um monstro a vida toda, e não percebi o que tava acontecendo”.

“Por vezes pensei em ir falar com ele para entender, para ele me falar o porque. Mas a dor e o medo me tomam conta. Tenho medo do que possa falar e doer mais ainda”, desabafa.

O desaparecimento 

No dia 25 de outubro de 2023, informações começaram a circular sobre o desaparecimento de um casal no interior de Porto União.

Ivo Romano Lerner, de 63 anos, e Rita Zanelle, de 68 anos, não foram mais vistos depois do domingo, 22. Na quarta-feira, 25, familiares registram um boletim de ocorrência sobre o desaparecimento do casal.

Ivo e Rita Foto: Divulgação família

A localização

A procura terminou no dia 26 de outubro, quando Ivo e Rita foram encontrados mortos e enterrados na propriedade em que residiam, em São José, localidade do Maratá, área rural de Porto União.

Os corpos foram localizados por familiares e vizinhos e recolhidos pelo Instituto Médico Legal (IML).

No mesmo dia, o principal suspeito, Marcelo Lerner, filho de Ivo e enteado de Rita, foi preso. Na época, ele negou qualquer envolvimento nos crimes, mas as circunstâncias apontavam para sua participação.

Vizinhos e familiares, desconfiados da situação, começaram a investigar por conta própria e encontraram vestígios de sangue no banheiro da casa, além de pertences do casal, como óculos e bengalas, no quarto. Do lado de fora, um colchão queimado foi encontrado, aumentando as suspeitas.

Outro detalhe que chamou a atenção foi o fato de Marcelo ter sido visto arando a terra com um trator na parte de trás da propriedade dias antes da descoberta dos corpos.

Segundo a Polícia Militar, os cadáveres estavam envenvoltos em plástico e já em avançado estado de decomposição. Junto aos corpos, foram encontrados travesseiros e lençóis sujos de sangue, indicando mortes violentas.

No momento da prisão, Marcelo chegou à casa em uma motocicleta, aparentando surpresa com a presença dos policiais. Ele foi detido e encaminhado à Delegacia de Polícia Civil.

Em sua posse, foram encontrados documentos, R$ 3 mil em dinheiro e uma passagem de ônibus para São Paulo, sugerindo uma possível tentativa de fuga.

Além disso, foram apreendidas duas espingardas e munições na residência. O trator utilizado por Marcelo foi localizado na garagem da casa.

O crime gerou grande comoção na cidade, especialmente pela crueldade com que foi cometido. A investigação também indicou que Marcelo realizou saques de aproximadamente R$ 17 mil das contas das vítimas.

Em abril deste ano, Marcelo foi condenado a 60 anos, 10 meses e 20 dias de prisão, por latrocínio e ocultação de cadáver. Ele está preso em Mafra.

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