Por Mariana Honesko
De repente, como em um passe de mágica, a sacolinha de lixo colocada na rua na noite anterior sumiu. “O trabalho deles é invisível. Ninguém enxerga”, sorri a sócia-admistradora da Ecovale, empresa que explora a coleta de lixo nas Cidades Irmãs, Scheila Antunes de Lima. Talvez não chega a ser tanto mas a realidade é que poucos, bem poucos, prestam atenção no trabalho feito pelos coletores de lixo. Há quem ignore, inclusive, o próprio profissional. Boa parte de suas ações só são percebidas quando não ocorrem. Pior: basta um dia sem o trabalho deles para que a cidade se transforme em um corredor de lixo. Recentemente, a greve dos coletores no Rio de Janeiro deu uma mostra do quão importante estes trabalhadores são para a saúde de qualquer lugar.
Em pequenos grupos, os coletores da Ecovale vão se organizando e trabalhando como formiguinhas. O efeito é grande. “Por mês, eles varrem 900 quilômetros de rua”, revela Scheila. Na empresa, os “vassourinhas” compõem uma equipe de 12 trabalhadores. Eles se revezam em jornadas. “Um grupo começa as 7 e interrompe às 16 horas o serviço. O outro, trabalha das 18 à meia-noite, uma hora da manhã”, explica a sócia.
Com a vassoura na mão e uma garrafa de água para um eventual alívio do calor, eles cuidam da limpeza de ruas e praças. O serviço ocorre apenas em União da Vitória, já que Porto União mantém por conta a varrição de seus locais públicos. Às onze horas de quinta-feira os colegas Vilmar Santos da Silva, Camilo Godoy e Antônio Valdir Misda, paravam para o almoço depois de uma manhã toda no anel central. “Não é um trabalho difícil, mas 70% das pessoas jogam lixo no chão”, conta o mais velho do trio, Godoy, de 52 anos e há quase dois anos na Ecovale. É dele também a sorte grande. Godoy foi o único que encontrou algo valioso nas cestas públicas de lixo. “Um anel folheado”, lembra. Misda e Silva não tiveram a mesma sorte mas ambos concordam que o respeito pelo trabalho que fazem está longe do ideal. “Tem quem respeita, tem quem não”, diz, sorrindo, Misda, de 48 anos.
Cada varredor tem seu próprio roteiro de trabalho. A redução da carga de trabalho ocorre apenas no final de semana e feriados, quando os plantões são de quatro horas. “Se eles deixam de passar um único dia, o trabalho dobra”, indica Sheila. O que os vassourinhas fazem nas ruas replica-se nos caminhões. Para a gestão da frota e o recolhimento de, em média, 820 toneladas mensais, outros 16 coletores percorrem todas as ruas de União da Vitória. Outros sete motoristas reforçam o time. Nos bairros e estradas rurais, outros 40 homens trabalham na roçada e capinagem de ruas. O trabalho, diferente do perfil dos coletores, é feito por homens mais velhos, geralmente acima dos 40 anos.
Na contramão de quem tapa os olhos diante dos coletores, há quem enxerga bem e abre os braços à receptividade. “Tem pessoas que na época de Natal, por exemplo, já separam cestas para dar aos coletores”, conta Sheila. Faça chuva, sol e mais recentemente, neve, lá estão eles.
Afinal, quem é lixeiro?
A resposta que deixou boquiabertos os diretores da Ecovale nasceu em uma reunião de trabalho e foi de um catador. “Lixeiro é quem gera lixo. Nós somos profissionais da coleta”, reproduziu Sheila.
Preço da reciclagem cai
A Ecovale já está praticando os novos preços da reciclagem das lâmpadas fluorescentes. A proposta prevê o aumento do número de unidades recicladas e, em consequência, de menos lixo no aterro sanitário ou em endereços clandestinos. Para reciclar, basta levar as lâmpadas até a Ecovale. Pelas pequenas, a taxa é de R$ 0,30. Para as maiores, R$ 0,50. Há pouco tempo, cada unidade custava em média, R$ 2 para ter destinação correta.
A Ecovale recebe também pilhas, baterias e lixo eletrônico, este, inclusive, sem qualquer custo. A política da logística reversa, que obriga as empresas que vendem a recolher as lâmpadas usadas, também pode ser exigida pelos consumidores. Nem sempre, contudo, a prática vai ocorrer. Nas Cidades Irmãs, o costume é pouco convencional, mas legal.