Por Mariana Honesko
Ao tomar um banho ou mandar embora a sujeira do banheiro e da cozinha, um caminho sem exatamente um final adequado tem início. Nem tudo o que é expulso de casa vai para o lugar certo. Na verdade, conforme o escritório regional da Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar), apenas 37% do esgoto lançado nas Cidades Irmãs recebe tratamento. União da Vitória está um pouco mais avançada no projeto e consegue filtrar os resíduos em 23,84% de cobertura. Em Porto União, a ação ocorre apenas no anel central, o que garante números inexpressivos: apenas 14,64% do esgoto é tratado.
O assunto é sério e preocupa a gestão da companhia que, diante das cifras, prepara-se para dobrar a área de atuação. Até 2019, conforme o gerente da unidade local, Bolivar Luiz Menoncin, a meta é ter 60% do esgoto com tratamento. “E, em 30 anos, chegar aos 80%. É uma meta escalonada”, diz. As três décadas mencionadas por Menoncin referem-se especialmente à União da Vitória. Com a prefeitura, a Sanepar renovou em agosto do ano passado o contrato de concessão de serviço por mais 30 anos. Em Porto União, as negociações continuam. “Estamos bem avançados na negociação, mas por causa deste atraso de um ano, o alcance das metas ficará um pouco mais distante”, explica.
Além dos contratos e das metas, a Sanepar aposta na proposta que fará com o Governo Federal. Por meio do PAC 2, três novas estações de tratamento de esgoto serão construídas. Ambas ficam em União: próximo ao extinto Clube Floresta, em São Cristóvão, no Jardim Muzzollon e tecnologia nova na Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) do bairro São Bernardo, pivô de reclamações. “Vamos mudar as tecnologias de tratamento. Ele será aeróbico, ou seja, quando utiliza o oxigênio no tratamento”, destaca. A obra é grande e vai exigir alguns anos para, só então, estar concluída e apresentar os efeitos adequados.
A ETE do São Bernardo é ampla e terá sua tecnologia de tratamento modificada a partir da parceria da Sanepar com o Governo Federal. Mesmo assim, a companhia aposta em sua funcionalidade. Alguns problemas, contudo, ainda são eventuais.
Recentemente o comportamento da ETE chamou a atenção da comunidade. O leitor Sérgio Amaral registrou o momento em que, supostamente, o esgoto era lançado no rio Iguaçu sem tratamento. A direção da Sanepar foi até o local e fez sua análise. O problema seria fruto da ação popular. “Aquilo que aparece é o esgoto tratado que, por algum motivo, estava transbordando na ocasião e gerando espuma”, explica Menoncin.
Segundo a Sanepar, o local é frequentado por pescadores e eles, algumas vezes, lançam lixo dentro de um dos tubos da companhia. O equipamento é protegido por uma tampa de cimento mas pode ser mexida, com facilidade. Podia. Depois de visitar o local, a gerência da Sanepar deve intervir no modelo. “Esclareço que o efluente desta estação atende aos parâmetros da resolução do Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente) para lançamento em corpo receptor”, completa.
Espuma é gerada por detergente de louça
As fotos feitas por Amaral revelaram mais do que o entupimento de uma das saídas do tratamento da ETE. A espuma branca e concentrada também chamou a atenção. Inclusive, da própria Sanepar. A análise é simples e preocupante. “A espuma é gerada pela utilização nas residências de detergente utilizado para lavar louça, não biodegradável”, afirma Menoncin.
Conforme o gerente do escritório, os químicos utilizados no tratamento do esgoto não combatem o detergente. Assim, eles caem livres no Iguaçu, sem qualquer intervenção. “Os produtos que não são biodegradáveis o nosso processo não retira”, diz. Legal e ambientalmente, outros reagentes poderiam ser introduzidos ao processo, mas a companhia de saneamento optou por não alterar o sistema. “É um produto a mais que deixamos de colocar. É melhor, é algo a menos”, diz. O mecanismo agiria na redução da espuma e, em consequência, incrementaria o aspecto visual do processo.
Ainda que nocivo, o detergente não representa tanto impacto ao meio ambiente. “Tudo depende da concentração do detergente. Depois que é diluído, dificilmente traz sérios riscos”, aponta o químico Gustavo Stentzler Garcia de Lima. A exceção é para o local onde está o despejo do produto. No local, a concentração pode trazer danos, mas não são tão significativos.