Por Mariana Honesko
A família da funcionária pública Fernanda Grabowski precisou sair de casa às pressas. O pedido foi da Defesa Civil de Porto União que, na noite do dia 6, não teve dúvidas ao sugerir a saída. Quase duas semanas depois da orientação, o que se vê é um rastro de danos. O sobrado número 789, na Rua Marechal Deodoro, Cidade Nova, está repleto de rachaduras. O portão não abre ou fecha. Escadas têm falhas e um dos muros avançou sobre a construção em quase um palmo. “O sentimento é de impotência. Você vê as coisas acontecerem e não tem o que fazer”, afirma Fernanda.
A funcionária teve prejuízos mas, conforme ela, bem menores que seus vizinhos. Fernanda, que morava no endereço com o marido e três filhas, pagava aluguel. É a exceção: todos os outros três vizinhos são donos dos imóveis de tamanho e planta idênticas. O comerciante Odinei Marcos Cremonini resiste à sugestão da Defesa Civil. Ele mora no sobrado de cor azul e continua dormindo lá. “Não saí ainda. Depois daquela chuva do domingo, não rachou mais nada”, conta. Sua esposa e filhos, por outro lado, estão na casa de um familiar. Odinei está quitando o imóvel que vale cerca de R$ 300 mil. Há uma década, ele pagou R$ 90 por ele. “Falta pouco ainda para quitar. Não vou deixar de pagar”, afirmou. “Gosto daqui. É um lugar tranquilo, deve ser asfaltado logo. Eu achava seguro”, lamenta.
A situação que enfrentam os moradores dos sobrados não é isolada. Conforme a Secretaria de Planejamento da prefeitura de Porto União, outros casos de retirada urgente e situações de risco foram identificados especialmente desde a chuva que caiu com força na região. Os dados apontam até 40 endereços observados com mais atenção.
Na Rua Mathias Olinger, no loteamento de mesmo nome, outras duas famílias também precisaram sair às pressas. Na Otto Eggers, foram outras três. Houve registros ainda na Rua Padre Landell de Moura e no Loteamento Palmas. “A enchente não mata a pessoa. O desmoronamento pode matar”, avalia o secretário e engenheiro civil Cláudio Tilgner. Ele defende o pedido de saída dos imóveis. “Primeiro temos que preservar a vida da pessoa e depois ver o que ocorre para frente”, diz. Para Tilgner, mais do que solo encharcado ou outras condições climáticas, os casos de deslizamentos levantam outra polêmica. Trata-se da ocupação desordenada e, quando ordenada, em que condições de segurança ela ocorre.
Dê olho nos sobrados da Marechal Deodoro
Os imóveis da Marechal, pela dimensão e valor imobiliário, chamam especialmente a atenção neste momento. A orientação segue a mesma: as famílias moradoras do endereço devem continuar longe dos imóveis. Pelo menos, até que laudos conclusivos dêem a real dimensão do local. “Ainda não dá para saber se a massa de terra vai deslizar ou não. Pode ser que ela se estabilize mas, por enquanto, são apenas hipóteses”, explica o secretário. Na semana passada, a prefeitura contratou os serviços de uma geóloga. Ela é da região e deve entregar o parecer sobre a situação da Marechal nos próximos dias.
A conclusão exata, contudo, só será possível a partir de um laudo geotécnico, que trabalha com perfuração de solo e de todo o perfil do local isolado. “Para só então, em cima disso, calcular os problemas do que está em cima do terreno”, reforma Tilgner. A prefeitura estuda a possibilidade de contratação da intervenção. O levantamento é caro e moroso. Até lá, voltar para casa não é a melhor opção.
Os donos dos sobrados devem se reunir no final de semana para decidir a interdição. Quem saiu, deixou para trás parte de seus pertences e quer saber, de fato, qual é o próximo passo.