Ex-assessor de Gleisi é condenado por estupro de menor

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Atualizado há 10 anos

O ex-assessor da Casa Civil da Presidência da República, Eduardo Gaievski, foi condenado a 18 anos e um mês de prisão pelos crimes de estupro de vulnerável, estupro presumido e estupro qualificado. A sentença foi dada no Fórum de Realeza, na região Sudoeste. Gaievski trabalhava diretamente com a então ministra Gleisi Hoffmann, que deixou o posto para disputar o governo do Paraná em fevereiro de 2014. Gaeivski foi demitido em agosto do ano passado, quando a revista “Veja” revelou as acusações de abuso sexual de menores.

Esta foi a primeira sentença dos 17 processos contra Gaievski por crimes sexuais contra menores de idade. Os outros 16 processos também estão na fase final. Gaievski foi levado para a Casa Civil pela própria Gleisi, que diz nunca ter sido informada sobre os crimes do petista. Natalício Farias, advogado de algumas vítimas, espera uma pena total bem maior. “Fizemos as contas e a pena dele poderá chegar a 356 anos de prisão”, diz.

Assessor- A sentença que condenou Gaievski foi proferida pela juíza Janaína Monique Zellato Albino, do Fórum de Realeza. Com a condenação, o petista deixa o regime de detenção provisória e vai cumprir pena em presídio, em regime fechado.

Gaievski foi prefeito de Realeza pelo PT e, no Palácio do Planalto, cuidava das políticas para saúde e para crianças e adolescentes, como a prevenção do crack. Gaievski também ajudou a criar o programa Mais Médicos, que trouxe médicos de Cuba para trabalhar no Brasil. Sua prisão pode representar mais um baque na candidatura de Gleisi Hoffmann no Paraná, que amarga um terceiro lugar nas pesquisas.

Segundo depoimento das vítimas, Gaievski tinha assessoras que iam atrás das adolescentes e o ex-prefeito só aparecia na hora dos estupros. Muito das vezes, as próprias vítimas indicavam outras amigas, em geral colegas de escola, que poderiam estar precisando de dinheiro também. “Eu estudava no (colégio) João Paulo e conheci essa amiga lá e ela já saía com ele.” disse A. P., na época com 13 anos.

Sem camisinha – Segundo ela, os estupros geralmente aconteciam em motéis nas cidades vizinhas, sempre mais de uma adolescente por vez. “Minha amiga foi junto, eu e uma amiga fomos no motel, no Jetaime ali que vai para Ampére. Foi a tarde.” continua o relato.

A.P. disse ainda, que perdeu a virgindade com o ex-prefeito e confessa que ele não usava preservativo “Ele disse que tinha feito uma cirurgia e que não podia ter filhos, e como a minha amiga já tinha saído com ele, era verdade, que ele não precisava, não tinha nada. Daí eu acreditei e não usamos nada aquela vez. E eu sabia que ele saía com mais meninas, aí eu nunca mais saí com ele. E as outras meninas que eu falava elas diziam que ele não usava camisinha.” A família da menina votava em Gaievski e o ex-prefeito a visitava em busca de apoio “Ele vinha aqui em casa na maior cara de pau visitar minha mãe e minha mãe mal sabia que ele não prestava.”

‘Ele gostava de ser chamado de papai’

X. S., 14 anos, deu mais detalhes sobre os encontros com o ex-prefeito de Realeza e ex-assessor de Gleisi Hoffmann, Eduardo Gaievski. “Ele gostava de ficar com gurias mais novas tudo junto. Depois fui eu, a Aline, a Jenifer. E ele fez amor com as três” disse. Disse ainda: “Ele dizia para as gurias na hora do ato “me chama de papai”.

Todas no final recebiam o pagamento “era em torno de uns R$ 150, R$ 200” continua X. S., mas quando as meninas negavam a continuar a sair com ele, começava as ameaças “Eu tava na oitava série, com 14 anos. E ele ameaçava, falava que se alguém abrisse a boca poderia acontecer alguma coisa e daí eu prometi que não ia falar nada e nunca mais saí com ele.”

Mesmo depois quando o MP já estava o acusando oficialmente, Gaievski ameaçava usar sua influência política no julgamento “A segunda vez que eu saí, ele sempre falava que se um dia alguém descobrisse, ele não ia ficar legal, aí depois que saiu esses depoimentos para uma juíza aqui de Realeza, aí ele ameaçou, disse pra gente sair do processo se não ia acabar acontecendo coisas”.

Ex-prefeito usava assessora para agenciar adolescentes

Já P. P. S., hoje com 27 anos, explica mais como Gaievski usava seu poder de prefeito, pois tinha trabalho temporário na prefeitura e foi demitida “Porque eu entrei em depressão. Ele não me deu nem chance de explicar alguma coisa.” relata. Segundo ela, ‘Marta’, professora, era a responsável por todo esquema quando Gaievski não podia aparecer: “A Marta que arranjava as mulheres para ele disse que ia ver com ele se conseguia um serviço para mim na prefeitura e para eu conseguir esse serviço eu tive que sair com ele. A gente foi umas duas vezes numa ruazinha perto do cemitério. A Marta levava as meninas lá e ele pegava também.”

Por ser mais velha, conta alguns detalhes sobre os estupros de meninas e adolescentes. “Eu vi as meninas fazendo comentários sobre ele dizendo que tinham ganho cenzão (R$ 100,00) dele e o negócio era pequenininho e davam risada. E eram tudo de menor, eu só que era de maior na época”.

Porém, detalha como se sentia abusada: “Ele era abuso de autoridade e não tava nem aí, se tinha gente perto ou não. Ele achava que por ele ser prefeito, podia fazer tudo que ele quisesse. Então ele abusava mesmo e a gente pobre, tem que abaixar a cabeça e ficar quieto. Ele oferecia dinheiro, às vezes R$ 200 e às vezes dava para a Marta, mas ela não me passava.”

Ela detalha também, como era a relação dele com suas funcionárias na prefeitura “Para conseguir o emprego tinha que sair com ele. Vocês podem procurar a Jaqueline. Ela me mostrava as mensagens que a Daia Bedin mandava e falava que ela tinha que sair com o Eduardo se não ela ia perder o emprego. Ficava pressionando a Jaqueline. Eu nunca falei pra Jaqueline que tinha ficado com o Eduardo mas ficava falando pra ela cair fora e ela que perdesse o emprego mas não fizesse isso, porque eu sabia que ele era assim. Porque ele enjoa das pessoas e nesse enjoar ele te manda embora.” No final, P. P. S. foi demitida. “Eles alegaram que eu tinha abandonado o serviço.”

‘Não tenho trauma, só raiva’, diz vítima

Em comum aos três casos, é o trauma deixado pelos estupros de Gaievski. A.P. mais nova, diz pouco sobre isso: “Claro que isso vai ficar me marcando pro resto da minha vida, mas fazer o que é um trauma, né, às vezes eu me lembro, não tem como não lembrar e nem voltar atrás.”

Já X. S. nega mas deixa evidente o que sente “Não tenho trauma, só raiva.”. E a mais velha, P. P. S. diz não saber o que fazer. “Tô faz 5 anos com depressão. Ele me tirou o que eu mais gostava de fazer que era trabalhar, ter minha vida independente e quando eu vi que eu era dependente de um homem pra comprar minhas coisas, coisas pro meu filho, foi o que me matou”.