Por Carlos Eduardo Moreira
Somos o país onde mais se faz uso da internet e de telefones celulares no mundo. Muitos de nós possuímos mais de um aparelho celular e um computador. Definitivamente vivemos nesta era digital como consumidores, usuários e cidadãos planetários. Não por acaso, os que mais utilizam essas ferramentas são jovens na faixa de 15 a 29 anos de idade. É um novo hábito, uma necessidade e pode se tornar um vício. Uma prática que reúne as formas mais sofisticadas de comunicação humana que já existiram. É a experiência de viver intensamente na chamada “cultura-mundo”, como afirmaram os pesquisadores franceses Gilles Lipovetsky e Jean Serroy, no livro “Cultura-mundo: resposta para uma sociedade desorientada” (Companhia das Letras, 2011). Ao mesmo tempo em que coloca novos desafios para o processo de educação formal.
Até porque, a maioria dos educandos das escolas de educação básica e das instituições de ensino superior, no Brasil, não só utiliza regularmente várias ferramentas da nova tecnologia comunicacional, como também sofre influências de um mundo globalizado, na compressão tempo e espaço, no qual as informações são mundializadas muito rapidamente. Um educando globalizado que já experimenta a angústia da desorientação pelo “excesso”, pelas diferentes e novas formas de conhecer a realidade. O “excesso” precisa ser criticado e requalificado pelos professores-educadores, aproveitando, para isso, as inúmeras possibilidades da própria globalização, que têm ampliado saberes e conhecimentos para além do local, do vivido de cada um. Mas como fazer essa crítica?
Como não assumir posicionamentos extremos: ora negando o potencial das ferramentas comunicacionais da globalização, ora aceitando acriticamente os usos e o conteúdo veiculado? Para isso, entendo que a utilização diálogo proposto pelo educador brasileiro Paulo Freire é extremamente útil. Pensar o diálogo como um instrumento de mediação entre pessoas, numa relação horizontal e amorosa é, antes de tudo, problematizar e dialetizar o próprio existir da humanidade que, como bem afirmou o educador no livro “Pedagogia do Oprimido” (Paz e Terra, 1981), tem vivido a negação da possibilidade de um diálogo franco e aberto entre todas as pessoas. Um diálogo que não tem o objetivo de impor uma determinada visão ou uma perspectiva da realidade, mas, antes de qualquer coisa, de permitir que as pessoas possam “pronunciar a sua palavra” e debater ideias e propósitos com outras pessoas. Nesse sentido, os atuais educandos precisam que seus professores-educadores criem momentos para que eles possam expor o que sabem, o que sentem e o que esperam deste mundo globalizado.
Com isso, no trabalho do professor-educador, a conjugação entre temas e tarefas pode ser mais bem compreendida pelos educandos a partir da utilização de novas ferramentas comunicacionais, tais como: fórum de discussão virtual, redes sociais, sites científicos, games educativos, Whatsapp, etc. Na busca de participar desse debate, no mês passado, apresentei resultados parciais de uma pesquisa sob o título “Diálogo freireano num contexto de cultura-mundo: reconhecendo um educando globalizado”, para professores universitários, diretores de escolas e administradores educacionais no XXVI Simpósio Catarinense de Administração da Educação, organizado pela Associação dos Administradores de Santa Catarina (AAESC), no Instituto Estadual de Educação de Florianópolis, em Santa Catarina. Nesta oportunidade, pude problematizar a relação entre novas tecnologias de comunicação, utilizáveis em ambientes formais de ensino, e os fundamentos teóricos e filosóficos da teoria dialógica de Paulo Freire. Houve uma reação “bem animada” e problematizadora dos presentes quanto ao conteúdo do trabalho.
A maioria dos presentes concordou que não se pode mais negar a importância dessas ferramentas comunicacionais na vida dos educandos, bem como também reconheceram que os professores-educadores, em todos os níveis de ensino, podem utilizá-las no processo formal de ensino. Enfim, entendo que a experiência do educando globalizado não é um problema, um transtorno para o processo formativo nas instituições de ensino. Muito pelo contrário. Pode ser considerada como mais um meio para compreendermos a forma como os nossos educandos aprendem, pensam e agem neste mundo globalizado, complexo e altamente competitivo.
Carlos Eduardo Moreira é professor universitário e professor do Colégio São José