Apesar da estiagem, produtores do Paraná colhem safra recorde

Mesmo com chuva abaixo do normal, precipitações caíram no momento certo e, somado ao investimento em tecnologias no campo, Estado alcançou maior produção da história

·
Atualizado há 5 anos

(Foto: FIEP).
(Foto: FIEP).

Com a colheita praticamente terminada já é possível afirmar que os agricultores paranaenses vão conseguir a façanha de colocar 20,7 milhões de toneladas da oleaginosa no mercado, segundo estimativa do Departamento de Economia Rural (Deral), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento (Seab). Até então, a marca recorde tinha sido alcançada no ano safra 2016/17, com 19,9 milhões de toneladas.

O chefe do Deral, Salitiel Turra, salienta que o bom resultado nos 5,4 milhões de hectares dedicados à soja nesta temporada se deve principalmente pelo investimento em tecnologias, por parte do produtor rural, e também a um pouco de sorte. “Estamos passando por um período de chuvas abaixo da média. Mas no decorrer do desenvolvimento da cultura fomos agraciados de ter chuva no momento correto, nas fases de floração e frutificação. E claro, os produtores rurais, cada vez, estão tecnificados, investindo em insumos, sementes mais apropriadas, adubação melhor”, avalia.

Outro aspecto que chama a atenção é o preço. Conforme levantamento do Deral, a saca estava custando em torno de R$ 66 nessa mesma época de 2019. Nesse ano, está beirando os R$ 90, alta de quase 30%. “Um dos fatores que mais contribuem para esses preços atrativos no Brasil é a cotação do dólar, em patamar acima dos R$ 5 desde meados de março. Com isso, mesmo com os preços em Chicago estando em patamares mais baixos, o câmbio acaba compensando e proporcionando valores atrativos aos produtores rurais”, reflete Ana Paula Kowalski, técnica do Departamento Técnico e Econômico (DTE) da FAEP (leia mais abaixo).

Soja 2ª safra 

Uma mudança nas regras do prazo máximo de plantio da soja (Portaria 342/2019) permite que produtores semeiem as lavouras depois do dia 31 de dezembro. A soja que é plantada após essa data é contabilizada, pelo Deral, como “soja segunda safra”.

Turra enfatiza, porém, que não houve qualquer mudança sobre o vazio sanitário. É preciso seguir a regra de ter apenas uma safra de soja e extinguir qualquer planta por um determinado período para reduzir a incidência da ferrugem asiática. “A segunda safra de soja está próxima a 100 mil toneladas numa área de 39 mil hectares”, revela Turra.

Manejo Integrado de Pragas 

O curso do SENAR-PR sobre “Manejo Integrado de Pragas (MIP)”, mais uma vez, levou economia aos produtores rurais paranaenses. Com a pandemia do coronavírus, as turmas ainda não foram encerradas, pois as capacitações foram interrompidas, faltando o último módulo para dois terços dos alunos. “O número de aplicação de inseticidas se manteve entre 1 e 1,5 aplicação em toda a safra. Isso reflete diretamente no custo de produção e na redução de exposição de produtores a agroquímicos”, aponta Flaviane Medeiros, técnica do Departamento Técnico (Detec) do SENAR-PR. “Não teremos prejuízo nenhum ao levantamento na base de comparação, pois estamos finalizando os números e, em breve, o balanço completo será divulgado”, revela.

Outras culturas 

No total, o Paraná deve colher 41,6 milhões de toneladas de grãos na safra 2019/20. O volume é 16% maior em relação à anterior, quando houve quebra significativa por conta de condições climáticas desfavoráveis.

No milho verão, a colheita está praticamente encerrada, com incremento de 100 mil toneladas sobre a estimativa inicial, impulsionado pela produção acima do esperado em núcleos regionais como Ponta Grossa, Curitiba e Guarapuava. A produção está estimada em 3,5 milhões de toneladas em uma área de aproximadamente 353 mil hectares.

O milho segunda safra, por sua vez, principal safra do cereal no Estado, deve sofrer com a falta de chuvas, na previsão do Deral. A produção está estimada em 12,2 milhões de toneladas em 2,3 milhões de hectares. Apesar do incremento de área, Paraná registrou perda de 5% na estimativa de produção – em torno de 600 mil toneladas, principalmente nos núcleos regionais de Cascavel e Toledo.

O feijão primeira safra teve uma boa produção, com cerca de 323,3 mil toneladas em 152,3 mil hectares. O que preocupa nessa cultura é a segunda safra. A colheita iniciou entre o final de março e início de abril. Neste período, os produtores colheram 14% do total cultivado. Devido à estiagem, as estimativas iniciais mostram perdas de 24% na produção, o que representa 104 mil toneladas de feijão a menos disponíveis no mercado. Espera-se agora  uma produção de 334 mil toneladas, uma redução de 7% em relação à safra 18/19, e a área estimada é de 222 mil hectares, 11% menor.

Análise – Um recorde inesperado 
Ana Paula Kowalski, técnica do DTE da FAEP 

Com a consolidação da safra de soja 2019/20 e a 2ª safra de milho avançando para a metade do ciclo, fica evidente o antagonismo em relação à safra passada.

Na safra 2018/2019, o produtor amargava uma severa seca que comprometeu quase de 3,5 milhões de toneladas de soja no verão e apostava todas as fichas na 2ª safra de milho, que teve bom resultado com rendimento médio superior a 98 sacas por hectare.

Nessa safra, lá em setembro de 2019, às vésperas de iniciar o plantio de soja, mais tardio devido à estiagem, já se sabia que a safra subsequente de milho não seria tão bem sucedida, com o plantio fora da janela ideal.

O que não se esperava é que a soja atingiria recordes de produção e produtividade, com média de 63 sacas por hectare, e o milho enfrentaria a pior seca da história, o que deverá resultar em perdas significativas em grande parte do estado.

A comercialização, tanto para soja quanto para milho, segue sendo destaque, com uma antecipação das negociações jamais vistas. No caso da soja, já foram comercializados 74% da safra contra 44% no mesmo período do ano passado. Para o milho 2ª safra, as vendas antecipadas chegam a 24%, ante 15% no mesmo período de 2019.

O fato gerador das vendas aquecidas são os preços recordes vistos nos últimos meses no Brasil, que resulta de uma combinação de menor oferta ocasionada por problemas climáticos, exportações aquecidas, no caso da soja e fatores conjunturais como o real extremamente desvalorizado.