Por Mariana Honesko
A reunião foi bastante técnica mas pautada em ações práticas, de contenção das cheias do Rio Iguaçu ou, pelo menos, na redução de seu impacto. O encontro, promovido pela Sec-Corpreri e que fez lotar o auditório da Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL), promoveu uma avaliação mais profunda do que causa e do que pode amenizar as enchentes na região de União da Vitória.
A discussão nasceu da certeza, comprovada a partir de gráficos de acompanhamento da “subida” do nível, de que a Companhia Paranaense de Energia (Copel) não tem, de fato, “culpa no cartório”. Embora embasada, a tese não é unanime. Para o engenheiro Roberto Pedro Bom, por exemplo, a Copel ainda “peca” por não divulgar informações precisas. “Precisamos de informações confiáveis e ainda não vejo isso. O que não temos é informação baseada em todos os índices de chuva que caem, desde a nascente até aqui. Isso a gente não tem visto até hoje”, cobrou.
A Copel tentou provar o contrário e convenceu a maioria do auditório. Anderson Araújo, engenheiro da companhia, trouxe novos dados que isentam a empresa de responsabilidade sobre as cheias, inclusive as de 1983 e 1992. O presidente da Corpreri, Dago Woehl, organizador do encontro de ontem, aceitou bem a explicação e, a partir disso, acredita que o momento exige braços descruzados. “Vendo que a Copel não teve nada a ver com a enchente, precisamos de soluções práticas mesmo. Essa reunião, com diferentes opiniões, serve justamente para isso, para encontrarmos um rumo”, explicou.
As maiores contribuições vieram do poder municipal. O prefeito Pedro Ivo Ilkiv concorda com Woehl e defende projetos estruturados, capazes de garantir uma vida melhor e de qualidade. Neste aspecto, Ilkiv afirma estar com a consciência tranquila. O efeito, garante, é fruto de dois amplos projetos já desenvolvidos na atual e na sua primeira gestão como prefeito. “Tivemos ao longo deste tempo todo muitas ações de prevenção. Primeiro, a construção do eixo de desenvolvimento, na parte mais alta de São Cristóvão. A proposta havia nascido ainda em 83, quando se pensou nisso como escape das cheias”, lembra.
A política de habitação, para o prefeito, é a segunda medida bem executada. Conforme ele, 640 casas já migraram das áreas mais baixas para a parte alta de União da Vitória. Deste total, 210 famílias moravam “dentro” do rio, em áreas de invasão. Endossa o pacote, ainda, a construção do parque linear, que ocupa as áreas ribeirinhas com atividades permitidas, em um investimento de R$ 3 milhões.
Canal
Embora consideráveis, as ações já executadas pela prefeitura, por exemplo, não garantiram o fim das enchentes. Por isso, a nova proposta sugere a construção de um canal extravasor, um desvio de curso, na altura da curva da “Fazenda Brasil” – próximo da empresa GR. “Já tivemos duas reuniões com as empresas que extraem areia nesta região e há interesse delas. Tive ainda o aval de Brasília para investir até R$ 200 milhões na construção deste canal e acho que vamos ter boas notícias ao longo do tempo, para viabilizar isso”, anuncia Ilkiv.
Com a medida, a previsão é de que um fôlego de 1,5 metro no nível da cheia seja reduzido. Na prática, o efeito garantiria muito menos imóveis atingidos e um impacto bem menor na economia local.
Sobre o encontro
A reunião é consequência de um acordo assinado ainda em 2001, que determinou o encontro de lideranças e da comunidade logo após um fenômeno de cheias. Depois do encontro, o próximo passo envolve a colocação do projeto de investigação e controle das cheias no orçamento da União.
Paralelo à isso, campanhas mais lúdicas, de reorganização da Defesa Civil, da confecção de uma cartilha de “crise” e incentivo fiscal para quem construir imóveis de dois pavimentos – no caso de quem mora perto do rio – serão estudados.