O Simepar – Sistema Meteorológico do Paraná, do Governo do Estado, ganhou um importante reforço tecnológico para incrementar a qualidade das previsões. O Sipper – Sistema de Previsão Probabilística de Eventos de Raios – é capaz de prever o comportamento futuro de uma tempestade de raios.
O sistema foi calibrado para ser alimentado por dados provenientes da Rede Nacional de Detecção de Descargas Atmosféricas (Rindat) e do serviço GLD360 (Global Lightning Dataset) provido pela empresa finlandesa Vaisala. Ambos registram, em tempo real, o instante, a localização e as características elétricas das descargas atmosféricas ocorridas em uma região. O primeiro abrange as regiões Sul, Sudeste e Centro Oeste do país. O segundo fornece ao Simepar dados de todo o Brasil e alguns países vizinhos, incluindo áreas marítimas. O Sipper rastreia por até três horas o caminho dos núcleos das tempestades elétricas a cada minuto e projeta seu comportamento na hora seguinte.
SIMULTÂNEOS – Capaz de processar centenas de milhares de raios em eventos simultâneos no território nacional, o sistema delimita as áreas em que cada tempestade já ocorreu e está ocorrendo, indicando aquelas que ainda serão atingidas com maior e menor intensidade. Entre as variáveis fornecidas pelo sistema estão a probabilidade maior ou menor de ocorrência do evento, posição geográfica delimitada por latitude e longitude, densidade (número esperado de raios por quilômetro quadrado), direção e velocidade de deslocamento.
Informa, ainda, a possibilidade de ocorrência de altos picos de corrente elétrica e identifica os núcleos das tempestades, indicando a “idade” de cada raio: os mais claros são os mais “velhos” e os mais escuros são os mais “jovens”. Uma representação elíptica da incidência dos raios mostra a redução ou a ampliação da área da tempestade. Todo o processo é visualizado, monitorado e analisado em tempo real pelos meteorologistas em ambiente tecnológico de alto desempenho.
PRATA DA CASA – O Sipper foi incrementado no próprio Simepar, pela professora do Departamento de Engenharia da Produção da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Mariana Kleina, como bolsista de doutorado do Programa de Pós-Graduação em Métodos Numéricos em Engenharia. Intitulada “Identificação, Monitoramento e Previsão de Tempestades Elétricas”, a tese foi defendida em dezembro de 2015. Artigo versando sobre o trabalho foi publicado no Anuário do Instituto de Geociências da Universidade Federal do Rio de Janeiro e outro foi aceito pelo Boletim de Ciências Geodésicas da UFPR.
“Um dos objetivos do sistema é a previsão de tempestades severas com potencial de danos às linhas de transmissão de energia elétrica”, explica a pesquisadora. Para desenvolver o novo recurso, ela utilizou uma técnica de clusterização (agrupamento de dados) e métodos de inteligência artificial. Foi criada uma plataforma de visualização dos deslocamentos das tempestades em todo o Brasil em alta frequência, atualizada a cada minuto. Por meio de tecnologias de geoprocessamento, a visualização é possível em diversas plataformas: cidades, rodovias, divisões administrativas (estados), linhas de transmissão e redes de distribuição de energia elétrica.
O diretor do Simepar e coordenador do projeto de pesquisa, Eduardo Alvim Leite, assinala a importância do sistema em um país que registra alta incidência de raios, com casos que registram mais de 100 mil descargas por hora: “Entre as aplicações da emissão de alertas de tempestades estão a proteção de linhas de transmissão e redes de distribuição do sistema elétrico, bem como a defesa civil, salvando vidas humanas em locais de trabalho sensíveis e campos abertos, como as praias”.
Segundo ele, o sistema já vem sendo utilizado por gestores de importantes empresas dos setores petrolífero e elétrico como Petrobras, Copel e Operador Nacional do Sistema (ONS). Alvim destaca, ainda, o perfil do Simepar como empreendimento de pesquisa e desenvolvimento altamente qualificado para oferecer soluções em serviços hidrometeorológicos e ambientais com excelência tecnológica.