Parte 5
Enquanto o sistema de informatização dos dados sobre tipos, quantidades e distribuição de agrotóxicos em território catarinense não tem suas funções plenamente desenvolvidas e sendo aplicado, o que dá o alerta para exagero ou inadequação do uso de agrotóxicos são as abelhas. No começo do ano foi divulgada a mortandade elevada, em Santa Catarina e outros estados, desse inseto fundamental no processo de polinização. Tão fundamental que a Organização das Nações Unidas (ONU) tem feito campanhas de conscientização para proteger as abelhas.
A expectativa de Ricardo Miotto, secretário adjunto estadual de Agricultura, Pesca e Desenvolvimento Rural, é que, informatizando o controle, será possível identificar o ingrediente ativo que pode ter causado o grande número de mortes de abelhas. O fipronil, por exemplo, é um princípio ativo largamente aplicado em plantações de soja e para o qual as abelhas são muito sensíveis. “Vai ser possível cruzar informações, como o receituário e as localidades com casos de mortes de abelhas. Vai acender um alerta e a ação será mais rápida”, prevê.
No caso específico das abelhas, as informações são cruzadas com o cadastro das colmeias existentes no estado mantido pela Epagri. A exatidão trazida pelo sistema informatizado será tão grande que será possível colocar filtros já no momento da prescrição. “Quando o profissional registrar o que pretende receitar e para qual comunidade, vai acender um alerta informando que ali tem colmeias e que o uso do fipronil não é recomendado. É nossa obrigação proteger o meio ambiente e a sociedade como um todo.”
A preocupação é pertinente. Santa Catarina tem mais de 10 mil produtores que respondem pela produção de mais de 8 mil toneladas de mel. Como é um produto de elevado consumo por aqui e também vai para outros estados e países, o rigor no controle da qualidade e na preservação das boas condições de produção vem aumentando. Outra preocupação é manter o selo de mel orgânico de 98% da produção melífera catarinense que é exportada, o que exige a ausência absoluta de resíduos de agrotóxicos no nosso mel. Não à toa, nos últimos cinco anos os técnicos saíram de 1,7 mil para mais de 12 mil atendimentos em propriedades que produzem mel, conforme informou Miotto.
Ele explica que a ocorrência do começo do ano, ainda que tenha chamado a atenção para um problema grave, não foi tão dramática como se fez entender. Na ocasião anunciou-se a morte de 20 milhões de abelhas. Boa parte por conta do agrotóxico aplicado em lavoura pelo desavisado dono das colmeias, que foi negligente ao não respeitar a distância determinada e fez misturas inadequadas de defensivos.
“Acendeu uma luz amarela, mas não estávamos diante de um extermínio de abelhas como pareceu ser pelas manchetes dos jornais. Se partirmos da premissa de que temos, em média, 50 mil abelhas por colmeia, e morreram 20 milhões, estamos falando de 400 colmeias em um universo de 315 mil do cadastradas. Ou seja, essas 400 colmeias que tiveram problema de intoxicação representam 0,03%. E já houve a regeneração completa, já que o ciclo de vida desses insetos é de 40 dias. Temos que ter preocupação, é claro. É preciso agir para evitar esse tipo de problema, mas estamos falando de 20 milhões de abelhas de um total aproximado de 16 bilhões de abelhas no estado”, calcula o engenheiro agrônomo.
Miotto destaca que no período de inverno, quando as floradas não ocorrem, morrem muito mais abelhas por falta de alimento do que no ano todo por agrotóxicos. Nesse período do ano, naturalmente a população de abelhas decresce.