Inflação acelera para 0,67% em junho

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Atualizado há 2 anos

RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Puxada por alimentação fora de casa e planos de saúde, a inflação oficial do Brasil, medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), acelerou para 0,67% em junho, informou nesta sexta-feira (8) o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

A variação até veio abaixo das expectativas do mercado financeiro. Na mediana, analistas consultados pela agência Bloomberg projetavam alta de 0,71%. Em maio, o IPCA havia subido menos: 0,47%.

Com a entrada dos novos dados, a inflação chegou a 11,89% no acumulado de 12 meses até junho. Nessa base de comparação, a alta havia sido de 11,73% até maio.

O resultado mensal foi influenciado pelo aumento nos preços dos alimentos para consumo fora do domicílio (1,26%), com destaque para a refeição (0,95%) e o lanche (2,21%), conforme o gerente da pesquisa do IBGE, Pedro Kislanov.

“Nos últimos meses, esses itens não acompanharam a alta de alimentos nos domicílios, como a cenoura e o tomate, e ficaram estáveis. Assim como outros serviços que tiveram a demanda reprimida na pandemia, há também uma retomada na busca pela refeição fora de casa. Isso é refletido nos preços”, afirmou.

Segundo o pesquisador, outro fator que influenciou o resultado de junho foi o aumento nos planos de saúde (2,99%). Em maio, a ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) autorizou o reajuste de até 15,50% nas modalidades individuais, destacou o IBGE.

O plano de saúde foi o maior impacto individual (0,10 ponto percentual) no IPCA do mês passado. Assim, impulsionou a alta de 1,24% no grupo de saúde e cuidados pessoais.

Os outros oito segmentos de produtos e serviços pesquisados também tiveram alta de preços em junho. A maior variação foi do grupo de vestuário, com alta de 1,67%. O segmento teve 0,07 ponto percentual de contribuição.

Já o maior impacto entre os grupos (0,17 ponto percentual) veio de alimentação e bebidas. A alta foi de 0,80%, puxada pelo consumo fora de casa.

CHOQUES NA PANDEMIA E EFEITO POLÍTICO
A escalada da inflação ganhou forma ao longo da pandemia devido a uma combinação de fatores.

Houve aumentos em preços administrados, como combustíveis e energia elétrica, carestia de alimentos e ruptura de cadeias globais de insumos da indústria.

A pressão inflacionária no Brasil foi intensificada pela desvalorização do real em meio a turbulências na área política.

No primeiro semestre de 2022, o cenário teve o impacto adicional da Guerra da Ucrânia. O conflito pressionou ainda mais o petróleo e parte das commodities agrícolas no mercado internacional.

Em meio a esse contexto, a Petrobras promoveu reajustes na gasolina e no óleo diesel nas refinarias em 18 de junho, gerando reflexos sobre os preços ao longo da cadeia produtiva.

O aumento fez o presidente Jair Bolsonaro (PL) intensificar os ataques contra a estatal às vésperas das eleições.

A inflação é vista por membros da campanha de Bolsonaro como principal obstáculo para a reeleição.

Para tentar conter a carestia, o governo aposta em cortes de tributos federais e estaduais sobre combustíveis e outros itens.

A definição de um teto de ICMS (imposto estadual), por exemplo, começou a provocar redução nos preços da gasolina nos últimos dias do mês passado.

De acordo com economistas, cortes de tributos trazem um viés de baixa para as projeções do IPCA neste ano, mas há risco de a perda de receitas gerar uma espécie de bomba fiscal, com impactos negativos sobre a inflação mais à frente.

O BC (Banco Central) vem aumentando os juros devido à escalada dos preços. O efeito colateral é a dificuldade para a recuperação do consumo das famílias e dos investimentos produtivos das empresas.

O IPCA está em dois dígitos no acumulado de 12 meses desde setembro do ano passado. Assim, caminha para estourar a meta de inflação perseguida pelo BC pelo segundo ano consecutivo.

Em 2022, o centro da medida de referência é de 3,50%. O teto é de 5%.
Por ora, economistas enxergam o índice abaixo de 10% até dezembro, mas ainda distante da meta.