Toda vez que um órgão da imprensa é acusado, principalmente por ocupantes passageiros de cargos públicos, a conclusão mais provável é que este veículo esteja fazendo seu trabalho com o necessário nível de independência. Pois é daí que vêm sua reputação e o respeito. Esta é a verdadeira força da mídia e que varia e muito de veículo para veículo, de meio para meio e de lugar para lugar.
Sempre haverá meios de comunicação de fato enviesados, mas seu alcance acaba se tornando restrito a pequenos grupos, como as redes sociais de pseudo-celebridades. Em tempos polarizados como os atuais, essa lógica se quebra e não é só a política que sofre com os extremos, também diminui o público disposto a ouvir e avaliar os diversos ângulos da realidade por meio da imprensa. A paixão domina as opiniões e as pessoas se mostram menos dispostas a escutar ou ler notícias que contrariem suas convicções ou simpatias.
Poucos sabem que a invenção da imprensa barateou a produção de conteúdo a tal ponto que, com o tempo, criou uma massa crítica intelectual ajudando a formar o movimento renascentista dos séculos 16 e 17. A história do mundo conta que a polarização, em diversos momentos colocou a imprensa sob rígido controle do Estado. Atualmente novas tecnologias deram origem a avanços sociais espetaculares e é bem possível que nas próximas décadas o mundo experimente algo semelhante a um novo iluminismo. Mas o contrário também é plausível: que vivamos uma nova era de trevas.
E pelo jeito em União da Vitória ela pode estar mais próxima do que se imagina, se depender da Câmara de Vereadores, pelo menos é o que pensa seu atual presidente, que mostrou todo seu pouco apreço pelo contraditório e destilou parte de seu autoritarismo reprimido contra segmentos da imprensa local, que sob sua ótica não contam a verdade sobre o que ocorre durante sua gestão prestes a findar.
Proferindo talvez o discurso mais apaixonado que já foi capaz de verbalizar durante toda sua medíocre presidência, o vereador escancarou suas preferências pela imprensa que divulga somente as ações da casa de acordo com sua própria filosofia; chegando ao cúmulo de dizer que é preciso parar o outro tipo de imprensa, aquela que diverge dele. Em determinado momento de seu particular devaneio, transparece desejar louros por economizar dinheiro do contribuinte, como se mérito fosse; e deixa claro traços de sua vaidade pessoal ao sentir-se ofendido por não aparecer em fotos.
Já diziam que para conhecer o real caráter de um homem bastava dar-lhe poder. Pois eis que no apagar das luzes revelou-se o lado obscuro e temerário de mais um político comum como tantos outros mundo afora.
Levou muito tempo até que a imprensa se convertesse nessa espécie de guardião do diálogo, de fiscalizador do poder; papel este que perseguimos incansavelmente há quase um século. Independentemente de críticas ou solavancos, seguiremos fazendo nosso trabalho norteado pelo interesse público e não dos poderosos de plantão.
“Não concordo com uma palavra do que dizes, mas defenderei até o último instante seu direito de dizê-las.”