Não é novidade falar que a pandemia da Covid-19 virou o mundo de cabeça para baixo. Sonhos adiados, perdas irreparáveis e a preocupação com o que estava por vir. Segundo o economista e mestre em Desenvolvimento Regional em União da Vitória, Tiago Kohut, ainda que a situação permaneça, há uma área que tem vislumbrado não apenas uma, mas várias luzes no fim do túnel: a construção civil.
O segmento, segundo ele, tem se destacado desde o ano passado, oferecendo enorme demanda e postos de emprego. Tiago é pós-graduado em Administração Financeira Contábil e Controladoria e professor do Centro Universitário de União da Vitória (Uniuv). “O mercado imobiliário nacional está otimista em 2021 e se encontra aquecido; um dos fatores foi à queda da taxa básica de juros, a Selic, no ano de 2020, com juros menores. Em razão disso, houve o aumento da procura por imóveis, já que as condições de crédito estão mais favoráveis. Juros menores representa um valor menor a pagar para quem pretende financiar a aquisição do imóvel, motivando até mesmo os consumidores que não tinham o desejo da compra da casa própria. Outro fator é a facilidade para acessar o FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço)”.
Em 29 de abril de 2020 o Governo Federal anunciou decreto em que as atividades de construção civil e industriais também eram consideradas essenciais em meio à pandemia da Covid-19. Ao serem classificados como essenciais, as atividades e serviços continuaram em operação mesmo durante restrição ou quarentena em razão do vírus, porém, sempre obedecendo as determinações do Ministério da Saúde.
O mercado da construção civil na pandemia teve seus momentos críticos, porém, a tendência é que o setor se normalize, trazendo novas oportunidades de negócio às construtoras. Exemplo disso foi a adoção de canais de comunicação adequados aos meios para impulsionar as empresas do setor. A tecnologia consolidou a sua importância como uma grande aliada das empresas desse segmento, auxiliando em diferentes níveis. “Com a pandemia a negociação ficou on-line e menos burocratizada, eliminando tantas visitas ao imóvel, às vendas on-line deixaram de ser um diferencial de uma empresa, e se transformou em um novo padrão de comportamento do consumidor”, comentou o economista.
De acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), o setor de construção civil gerou mais de 30 mil contratações em 2020 no estado de São Paulo. Já o Paraná foi o estado da Região Sul e o terceiro do País que mais abriu postos de trabalho com carteira assinada em fevereiro. Os setores que mais se destacaram em fevereiro no Paraná foram o de serviços com 17.819 postos, seguido pela indústria da transformação (9.090), comércio (8.302), construção (4.961), agricultura (1.123) e serviços industriais de utilidade pública (321).
Foram 41.616 vagas, de acordo com os dados do Caged, que é o órgão ligado ao Ministério da Economia. Santa Catarina finalizou fevereiro de 2021 com saldo positivo de 33.994 admissões.
É hora de investir em imóveis?
Com a diminuição da instabilidade gerada pela pandemia neste ano, a tendência é de que mais pessoas comecem a adquirir residências. Intenção é que o mercado volte a se erguer. “Na pandemia da Covid-19 muitas pessoas ficaram isoladas nas suas casas e passaram a perceber seus imóveis, onde viabilizaram a troca ou aquisição de um imóvel maior. Por isso, o mercado imobiliário foi um dos poucos setores da economia que não sofreu com a crise causada pela pandemia”, acrescenta Tiago.
Para o especialista, com a retomada da economia brasileira, o segmento da construção civil é visto como um dos grandes motores do crescimento do Brasil. “O mercado imobiliário possui efeito multiplicador na economia. É um setor que emprega muitos trabalhadores, além de ser uma alternativa para os investidores que tem visto uma queda nos rendimentos dos fundos tradicionais, como a poupança e a renda fixa, devido à queda da taxa de juros”, explica.
O mercado da construção civil fechou 2020 com o otimismo elevado após ter registrado alguns dos melhores números de desempenho de sua história. Em 2020, houve 10% mais vendas do que em 2019. “As projeções para 2022 são otimistas, uma vez que a taxa de juros deverá permanecer baixa para o próximo ano”, acredita Tiago.
Ainda, segundo ele, entre as principais transformações que a pandemia impôs ao mercado imobiliário está a busca por parte dos consumidores em imóveis maiores, com área de lazer. “As pessoas que ficaram em casa devido ao isolamento social e continuaram no teletrabalho relataram que sentiram a falta de contar com mais cômodos para acomodar um escritório, e os espaços pequenos geraram desconforto para quem passou tanto tempo em casa”.
De forma resumida, vale comprar um imóvel nas seguintes situações: quando as taxas de juros estão baixas e o momento econômico é favorável. “Para quem não tem experiência no mercado de imóveis, mas quer começar a investir, a opção são os imóveis na planta, pois você não precisa ter muitos recursos financeiros, comparando com imóveis construídos e o lucro será alto, normalmente terá valorização do imóvel e baixo risco quando feito com construtoras que apresentam boa reputação no mercado”.
Quando vale a pena trocar o aluguel por um financiamento?
Para Tiago, antes de fazer uma escolha, é importante ter plena consciência de sua realidade financeira. “Verifique se é possível passar alguns meses com uma renda menor, fazendo esse exercício você poderá até descobrir alguns gastos desnecessários. É preciso fazer um planejamento e verificar se a prestação cabe no seu orçamento. É importante que as prestações sejam similares ao valor que paga de aluguel. O benefício da casa própria é a construção do patrimônio, como a possibilidade de decorar e adequar o ambiente conforme suas preferências”.
Conforme Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua realizada anualmente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), existem aproximadamente 72 milhões de domicílios no Brasil. Sendo que há muito mais casas do que apartamentos, em torno 85,6%.
Já o relatório lançado pelo Programa das Nações Unidas para Assentamentos Humanos, revela que o Brasil possui cerca de 33 milhões de pessoas sem moradia. Desse número, cerca de 24 milhões não possuem habitação adequada ou não têm onde morar.
Como o mercado imobiliário vem driblando a Pandemia?
Presidente do Nipuv e analista de imóveis comenta cenário atual do mercado imobiliário no Vale do Iguaçu
O momento pelo qual o mundo passa fez com que as empresas, incluindo as do setor imobiliário desenvolvessem certa capacidade adaptativa aos diferentes desafios impostos pelo isolamento social por conta da Covid-19. De acordo com a presidente do Núcleo de Corretores de Imóveis de Porto União e União da Vitoria e analista de imóveis no Vale do Iguaçu, Vivian Beatriz Bona Vargas, a pandemia impôs adaptações durante a intermediação das vendas e administração de imóveis.
Segundo Vivian, o mercado imobiliário no setor de vendas conseguiu se manter aquecido e equilibrado por meio das taxas de juro baixo e disponibilidade de crédito, oferecida pelos bancos. Já no setor locativo, para ela, o fator principal no incremento do setor está no diálogo, com bons acordos evitando prejuízos neste momento, tanto para os clientes de imobiliárias, quanto para os proprietários de imóveis.
A profissional acredita que o bom senso tem sido um aliado na hora de renovar os contratos de aluguéis, assim como para fazer o cálculo de reajuste anual nos imóveis locados. “Desde que foi anunciada a pandemia e, consequentemente o isolamento social e o fechamento do comércio, buscamos um consenso junto ao Núcleo Imobiliário por meio de reuniões virtuais e parceiros para ajudar. A pandemia estourou vários problemas. Foi tudo muito rápido e muitas pessoas estavam nervosas diante da situação que se apresentava. Não foi e não está sendo fácil para as imobiliárias e corretores, porém estamos ajustando uma modalidade que fique boa para ambos. Devido as dificuldades impostas pela pandemia foram necessárias adaptações, como redução e desconto de aluguel, carência de pagamentos nos contratos e financiamentos. No caso dos contratos particulares em que houveram a compra e venda do imóvel para que não houvesse o cancelamento. São necessários estudos para driblar essa situação delicada. Foi um dia após o outro; um mês após o outro; sempre estudando cada caso e assim vamos há mais de dois anos”.
Próximo de completar quatro anos de atuação, o Núcleo de Corretores de Imóveis de Porto União e União da Vitoria (NIPUV), conta com a colaboração de dez profissionais de imobiliárias das cidades, com reuniões mensais para tratar das dificuldades que o mercado imobiliário vem sofrendo: como aluguéis, compra e venda e avaliações de imóveis. Vivian Beatriz ocupa hoje a presidência da entidade. “Em breve será divulgado um site para que o cliente possa ter informações sobre as imobiliárias locais. Essas imobiliárias já dispõem de um selo instalado na entrada dos estabelecimentos. O NIPUV atua em parceria com a Associação Comercial e Empresarial de União da Vitória (Aceuv)”.
De acordo com Vivian desde o início da pandemia, em março de 2020, representantes de diversos segmentos empregatícios ficaram assustados. “Foi necessário rever a situação dos aluguéis e reajustá-los para que não houvessem os distratos. A comercialização dos imóveis nesse período também foi se ajustando aos poucos. As linhas de crédito na modalidade, taxas de juros baixos e financiamentos estão bem mais atrativos no atual cenário. Os próprios bancos propuseram acordos, até postergando os vencimentos. O que propomos é ajudar os mutuários no seu cumprimento com o pagamento. A situação do mercado imobiliário no Vale do Iguaçu não foi diferente do cenário nacional; as dificuldades foram praticamente as mesmas”.