Quem imagina deixar a faculdade e conquistar logo na primeira porta seu primeiro trabalho dentro da área da graduação pode ter sérias decepções. Não é cinema, nem novela. Embora possa soar um tanto desanimador, a realidade no Vale do Iguaçu vai exigir do recém-formado habilidade para driblar a crise, bem como destreza para logo começar uma capacitação ou algo do gênero, tão logo deixe os bancos acadêmicos. É que na região, onde boas opções para o Ensino Superior estão distribuídas em quatro instituições de ensino – três privadas e uma pública – também falta emprego. E, sim, falta oportunidade até para quem tem “estudo”.
Ana Maria Cunha, formada em Publicidade desde 2009, nunca trabalhou na área. Está no quarto ano de Pedagogia e trabalha como secretária na instituição em que estuda. “Mudei de graduação para ver se consigo um trabalho na área”, conta. Ana não é a única nesta situação. Contudo, na Unespar, onde cursa a segunda graduação, percebe que há luz no fim do túnel.
Por formar essencialmente professores, o campus em União da Vitória garante a colocação da maioria de seus, em média, 200 formandos anuais. Contudo, essa inserção se pulveriza no País. Valderlei Sanches, diretor do campus, entende que essa colocação relativamente rápida nem sempre vai acontecer perto de casa, por exemplo. “Estamos em um País que nunca forma o número necessário de professores. Na nossa região sim, há dificuldade para ficar. Mas todas as pessoas que concluem seu curso de licenciatura e vão para o interior ou para outras regiões, encontram mercado de trabalho”, avalia. “Temos em alguns casos alunos que estão concluindo a graduação e já estão dando aula”, completa.
Não tem a mesma sorte, por exemplo, os jovens profissionais das áreas de Direito e Nutrição. No caso de Direito, o Vale do Iguaçu tem curso replicado: a Uniguaçu e a Universidade do Contestado (UnC) oferecem a capacitação, o que obriga a procura de “novos horizontes” ou o enfrentamento de uma concorrência quase desleal. “Penso que a universidade precisa proporcionar ao acadêmico, formação e fundamentação para que ele alcance as necessidades da sociedade, seja onde for: de Norte a Sul, de Leste a Oeste. Ouço muita gente reclamar que uma cidade como a nossa, com cem mil habitantes, não deveria ter tanta faculdade. Pois bem, a universidade forma profissionais que devem alçar os mais distantes lugares”, observa o coordenador do campus da UnC em Porto União, Marcos Tadeu Grzelczak. “Acredito que o mercado interno de nossas cidades, apresenta disponibilidade para um profissional bem qualificado, com formação ampla e que realmente se diferencie”, diz.
E quando a crise encontra este profissional, tudo, absolutamente, pode funcionar. O resultado vem em crescimento, tanto de quem acaba de se formar, quanto de quem acaba de contratar. Alguns setores específicos, como Administração, vêm sendo observado com mais carinho pelos empregadores. A aposta é de que este profissional, de “cuca” fresca, encara isso como uma oportunidade, pois existe grande procura por parte dos empresários locais pelos alunos, para estágio e vagas de emprego”, avalia o professor e coordenador da Agência Experimental de Comunicação Agexcom da Uniuv, Fernando Gohl. Para ele, a instituição deve preparar o aluno para o mercado desde os primeiros anos do curso. “Isso serve como primeira experiência prática na atuação profissional”, diz, referindo-se aos programas de bolsas e estágios, mantidos pela Instituição.
Na Uniguaçu, a empregabilidade também é assunto sério. “Dizer que é fácil se colocar no mercado de trabalho dentro da sua área é incoerente, porque realmente fácil não é, já que o mercado exige profissionais qualificados”, justifica o professor Hilton Tomal.
Na Instituição, assim como na Uniuv, os projetos práticos, que “testam” os acadêmicos em ambientes reais, ajudam na conquista do primeiro trabalho e, o que é melhor, dentro da área. “E a grande preocupação do corpo docente dos cursos passa a ser então em proporcionar uma experiência de educação muito focada na qualidade do profissional durante o seu curso”, define. “Acreditamos que o momento de crise nos dá dois caminhos: o desanimar e o de se reinventar a todo instante, e é este que escolhemos seguir”, sorri.
Marcos Joaquim Vieira, também docente da Uniguaçu, compartilha do conceito. Segundo ele, além de todo o trabalho prático feito com os alunos, o estudo de campo feito antes da instalação dos 19 cursos confirma a necessidade do mercado, logo, a colocação dos formandos. “Portanto, não verificamos dificuldades em nossos egressos no processo de inserção no mercado de trabalho”, diz.
No balcão de emprego
É fato que algumas áreas se saem melhor. Alguns profissionais, especialmente que se qualifiquem mais, também. Mas, às vezes, nem tudo isso garante a tão sonhada vaga de trabalho. Perfil encontrado na Agência do Trabalhador de União da Vitória, confirma a realidade local: sobram bons trabalhadores, mas faltam oportunidades.
O saldo dessa conta que não fecha, são jovens profissionais topando qualquer negócio, literalmente. “Temos muitos recém-formados que aceitam qualquer trabalho mesmo, porque precisam trabalhar”, conta o responsável pelo setor de vagas da agência, Hugo Gabriel Scwebel. Conforme ele, profissionais das áreas de Educação Física e Ciências Contábeis são os que mais visitam o órgão. “Há alguns dias, inclusive, um jovem formado em Ciências Contábeis acabou indo para uma entrevista para uma vaga de estoquista”, conta. No balcão, formados na licenciatura de Pedagogia, também são comuns.