No dia 24 de agosto o 25° aniversário de independência da Ucrânia foi comemorado. Em União da Vitória, o palco para a festa não poderia ser outro: a praça que carrega o nome da etnia, no Bairro São Basílio Magno.
Por lá, conforme o presidente do Folclore Ucraniano Kalena, Wilson Kotviski, uma sessão cívica foi realizada. Ela terminou e abriu espaço para as apresentações do Kalena, depois, para um minuto de silêncio pelas mortes na guerra da Ucrânia e, finalmente, com a recitação de um dos poemas de Taras Schevtchenko. “Quem recitou foi Sofia Kuzma, única imigrante viva na região”, ressaltou Kotviski.
A comemoração da independência – curiosamente apenas alguns dias antes da brasileira – teve ainda espaço para o hasteamento das bandeiras do Brasil e da Ucrânia.
O Brasil abriga hoje a maior comunidade ucraniana na América Latina, cerca de 1 milhão de pessoas, das quais 80% vivem no Paraná, segundo a Embaixada da etnia no País. Eles formam o segundo maior contingente eslavo a emigrar para o Brasil, atrás apenas dos poloneses.
Os ucranianos que se radicaram no Paraná, a partir do final do século 19, tiveram a capacidade de assimilar os hábitos locais, apesar das adversidades que caracterizaram o processo de imigração no Brasil. “Nós participamos ativamente da vida da nossa sociedade, em diferentes atividades. E além disso preservando nossas tradições enriquecemos a cultura local. Somos bons brasileiros sendo bons ucranianos”, encerra.
Independência
O dia 24 de agosto é considerada a “data magna” da soberania contemporânea da Ucrânia. E a comemoração é dupla já que justamente no dia 24, também é dia da comunidade ucraniana no Brasil, segundo lei federal.
No ano passado, O Comércio trouxe a opinião do embaixador da Ucrânia no País, Rostyslav Tronenko. Conforme ele, em 1991, a Verkhovna Rada (Parlamento) da então República Socialista Soviética da Ucrânia aprovou a Independência, resultando no surgimento do Estado moderno ucraniano. “A proclamação da independência coroou a luta de muitos anos para que os ucranianos tivessem o seu próprio Estado e pudessem desenvolver livremente a cultura nacional e ser membro da comunidade internacional”, disse ele.
A independência nacional trouxe também ao povo, os direitos e liberdades individuais, colocando fim ao sistema totalitário soviético. Hoje, “a Ucrânia tem uma contribuição significativa para o fortalecimento da paz e da segurança internacional, sendo o primeiro país no mundo a renunciar voluntariamente ao arsenal nuclear poderoso que havia herdado da União Soviética”.
Praça da Ucrânia, uma conquista do povo da “terrinha”
O espaço, em União da Vitória, é símbolo de uma nação forte que, mesmo colonizada, deu a volta por cima. Mas, o espaço público nem sempre foi assim tão emblemático. Na verdade, a revitalização entregue em 2015, encerrou essa espera da comunidade local por um espaço “só seu”, bonito, com qualidade.
A sensibilidade e a vontade de “tocar” a comunidade ucraniana parece terem sido os ingredientes principais do projeto desenhado pelo engenheiro e arquiteto Klaus Piper, profissional de Curitiba escolhido para a execução da obra. Dá para ver a beleza do arranjo na terra e no céu. Imagens aéreas da praça revelam o traçado bem-disposto, o cuidado com o verde e a homenagem para o “anfitrião” da cultura, Taras Shevchenko.
A Praça da Ucrânia fica no Bairro São Basílio Magno, próximo ao quartel da Polícia Militar.
Sofia Kusma, hoje com 90 anos, já apareceu em O Comércio. Foi em 2014, quando a construção da estátua de poeta Taras era pauta. Sua história merece ser recontada. Ela nasceu na Ucrânia, em 1926. Aos 14 anos, durante a Segunda Guerra Mundial, Sofia e seus sete irmãos e seus pais, foram separados. “Eu nunca mais tive notícia dos meus pais”, contou.
Hoje, a vovó – baba, em ucraniano – mora sozinha. Perdeu o marido em um acidente e todos os filhos, seus cinco netos e dois bisnetos, vivem em outras cidades. Sofia não tem mais contato com qualquer familiar ucraniano, de sangue mesmo. Desde a guerra, voltou a ver três de suas irmãs apenas mais uma vez. Depois, os endereços perderam-se. “Sinto saudade do tempo que eu perdi”, repete Sofia. “Vivo assim, só com Deus”, sorri.