Viajar pelo mundo. Talvez essa seja a vontade da maioria dos jovens, ou daqueles vovôs rock’n’roll super para “frentex” que curtem aventuras despojadas. Esse tipo de roteiro bem low cost – quando é baratinho e cabe no bolso – é o que O Comércio vai falar hoje. Nada de jantar em restaurante caros, refinados com uma carta de vinho que você precisa vender sua bagagem para pagar – e olha lá. A questão aqui é aprontar uma mochila com as coisas essenciais, mas não deixar de comer, beber, conhecer e aproveitar muito.
Havia algum tempo que a pauta sobre turismo estava no bloquinho, confesso que desde quando voltei da África do Sul no ano passado, mas pensava que faltava, mesmo, um personagem cheio de história e com boas dicas aqui, em União da Vitória. Até que Angela Sant Anna surgiu com uma bagagem cheia. A designer é da terrinha mas pode-se dizer que já faz parte do mundo. Ela tem 26 anos, e começou a viajar em 2011, quando foi para a Alemanha, depois de lá não conseguiu mais parar. “Fiquei viciada em viajar. Morei na Nova Zelândia em 2013 por 6 meses e aproveitei que estava perto da Ásia e fiz um mochilão de 50 dias por aquelas bandas”, conta.
Angela já passou por diversos lugares. Desde de seu primeiro roteiro internacional ela circulou pela França, República Tcheca, Vietnã, Camboja, Tailândia, Malásia, Cingapura, Indonésia, Argentina e Uruguai, e o próximo destino já está escolhido. “Estou planejando em ir ao Ushuaia com meu namorado e de carona no final do ano. Minha mãe vai descobrir isso quando ler a matéria do jornal!”, brincou.
A designer costumava viajar sozinha e até recomenda, diz que é aprendizado para vida. “Você cresce demais, melhora auto estima e confiança e aprende a se amar”. Contudo, recentemente ela conseguiu juntar um grupo de viajantes, pois compensa pela facilidade de veículos, e porque Angela escolheu destinos próximos das terras tupiniquins, por aqui mesmo, na América do Sul.
E é isso que interessa: se o money compensa. Quem viaja, em especial quem escolhe por mochilões, já sabe que vai ter de enfrentar hotéis mais baratos e conseguir organizar o dinheiro para que nenhum ponto turístico fique de fora do roteiro planejado. O blog Apure Guria, que a Angela administra, tem justamente a intenção de dar dicas low cost – como já expliquei lá no início do texto – para os mochileiros. E a designer que trabalha numa loja online, a ShopCama, também não está com o cofrinho cheio sempre, então, a dica principal é economizar. Coisa clichê que, cá entre nós, é frase pronta de mãe, mas funciona mesmo, principalmente com Angela. “Não faço compras desnecessárias, não saio muito e não tenho gastos com carro ou criança por exemplo. O segredo está em ver o quanto você tem e o quanto quer gastar e aí decidir o destino”, explica. “Quer fazer compras? Quer mais natureza? A Europa está muito cara no momento, ao contrário da Ásia. A passagem pode custar mais, mas os custos são menores, já que para dormir em um hotel no Vietnã, por exemplo, paguei 6 dólares com café da manhã e na Europa sairia no mínimo 10-20 euros.”
Para esclarecer, o tal do hostel é estrangeirismo, frequentemente sinônimo de albergue, mas é daqueles bem aconchegantes se souber procurar – um tipo de acomodação que se caracteriza pelos preços convidativos. Por outro lado, se quiser gastar menos ainda e multiplicar a aventura, o sistema de couchsurfing é muito usado, em especial na Europa. O modelo é bem prático, tem sites na internet que são especialistas no assunto, é quando o turista se hospeda na casa de um nativo e só paga o quarto, a comida, uma cerveja ou, às vezes, nada.
Outra tática do baixo custo é planejar antes o roteiro, procurar dicas e vídeos em blogs sobre os lugares onde deve visitar, avaliar as opiniões dos turistas que já passaram por lá e, o melhor, otimizar o tempo. “Escolho o país e aí decido o que cabe no tempo que ficarei na cidade e quais (pontos turísticos) são perto um do outro”, explica.
A blogger também incentiva a venda de alguma habilidade para tirar proveito da aventura, não só “turistando”. “Tente descobrir um talento que você possa usar enquanto viaja e vende-lo, como fotografia, web design, pinturas.” Angela pinta em aquarela imagens dos lugares por onde passa. O material está no Apure Guria.
No final, mesmo passando um tempo guardando dinheiro para a viagem “nem que seja vendendo geleia ou docinhos”, brinca Angela, a intenção é não deixar de lado a vontade de encontrar com o desconhecido. “A melhor sensação que tive foi durante o mochilão na Ásia, pois vi muita coisa diferente, percebi como as pessoas viviam, a simpatia e felicidade delas em diferentes situações, a comida (nunca comi tanta pimenta na vida), experiências boas e ruins assim não tem preço e não tem jeito de viver se não fazer uma viagem”, relata a blogger.
apureguria.com
O blog Apure Guria surgiu como um diário de bordo, enquanto Angela morava na Nova Zelândia. A ideia de criar foi pela praticidade de não ficar contando a mesma história para várias pessoas – digita tudo duma vez, posta lá, e manda o link pra galera!
Depois de postar as primeiras linhas Angela viu que tinha o feeling para os relatos do roteiro e que o número de leitores só crescia. “Houve um feedback muito positivo do jeito que escrevo e decidi continuar”, contou. O Apure Guria é direcionado para um público mais jovem, pois usa muitas gírias da internet, como memes e gifs. “Além de o blog ser um incentivo para viajar, pois precisa de conteúdo novo sempre”, sorri.
Outra novidade do Apure Guria é que a página está no Youtube. “Mostro os lugares que visito, os pontos turísticos e informações de uma forma divertida e clara.”
As voltas e suas histórias
O Comércio também perguntou para a viajante qual seria uma das histórias mais cômicas que já vivenciou em suas voltas. Uma delas se passou no Vietnã, com uma galinha de personagem. “Quando cheguei na minha cabine havia um casal de vietnamitas com uma mala gigante no chão. Dei “oi” e subi para deixar a minha mala na cama de cima. Quando meu pé desceu, parei muito próxima à mala deles… e a mala fez POCÓÓÓ, típico de uma galinha. Eu achei aquilo muito engraçado e sai rindo, pois, meu pai sempre me contava histórias de animais dentro do trem aqui em União e redondezas, no passado. Saí para comprar uma água e quando voltei o casal e a galinha haviam sumido. Um tempo depois chega um oficial do trem vendendo alguma coisa… quando vi era CANJA DE GALINHA! Coitada dela gente! hauehaueahe”.
Da viajante…
Quero muito visitar a Escandinávia, Egito, Belize e a costa oeste dos Estados Unidos. Quero voltar à Indonésia e ao Vietnã, me surpreendi com a cultura, com as pessoas, com os cenários de cair o queixo e com a comida (fantástica!). Eu tenho algum ressentimento com a Nova Zelândia, minha vida não deu muito certo por lá, mas voltaria para a ilha sul, ela é fantástica!