REI DO SHAWARMA: Sabor árabe em terras tupiniquins

Em União da Vitória “sanduíche” libanês está caindo no gosto de muitos. Lanche é rápido e sustenta

·
Atualizado há 9 anos

IMG_7583
“Nunca sofri preconceito por ser do Líbano ou muçulmano, brasileiro sempre me tratou bem”. (Foto: Bruna Kobus).

O sotaque ainda é bem forte, a conjugação de verbos às vezes se perde nas raízes árabes e a acentuação libanesa vem à tona. Ibrahim Muhieddine, filho de uma brasileira com um libanês e nascido em terras árabes é jovem, mas sua história rende uma boa página de jornal. Hoje com 19 anos, ele mora em União da Vitória e tem encantado o paladar de muitos brasileiros, em especial aqui da região, com um sanduíche árabe, o chamado Shawarma.

O lanche é quase um X-salada brasileiro. Ele é envolto a um pão sírio, dentro é recheado com fatias de carne de vaca ou de frango, saladas e muita batata frita. Para acompanhar um molho de alho especial da casa. “Eu trabalhava em uma loja de roupas dos meus tios em Bituruna quando meu tio começou a cozinhar”, lembra Ibrahim. “O pessoal começou a gostar e aí ele fechou a loja e nós começamos com os trailers de Shawarma”, conta.

Na cidade o lanche ficou ainda mais conhecido durante a oitava edição da Festa Nacional da Costela, em setembro deste ano. Mas a história de Ibrahim com a cozinha começa um pouco antes. Até cruzar o Atlântico para chegar no Brasil demorou um bocado de tempo. A primeira vez que pisou por aqui foi em 2006. Na época com 9 anos, o Líbano – país onde nasceu – estava em guerra com Israel. O conflito durou poucos meses, mas as feridas continuaram abertas. Por ser descendente de brasileiro Ibrahim junto dos outros três irmãos e da mãe vieram para o Brasil. A estadia por aqui foi passageira e o convite foi da embaixada Brasileira, mas logo a família retornou para o Líbano. No entanto, o gosto pela cultura brasileira não criou apenas saudades para ele, e a vontade de vir definitivamente para cá se tornou mais forte a cada dia. Três anos depois o adolescente começou a trabalhar como torneiro mecânico – sim, no Líbano é natural que pais encontrem empregos para seus filhos se tornarem independentes, isso não só no financeiro. “Eu ganhava bem lá, só que não parava de pensar no Brasil”, comentou Ibrahim.

SHAWARMAXX2XQuando fez 16 anos, influenciado por um tio que mora por aqui – seu companheiro na cozinha do Shawarma – Ibrahim convenceu seu pai de que se mudaria para terras tupiniquins.

A adaptação não foi difícil, conta Ibrahim, o problema mesmo foi com a língua. “Às vezes eu achava que o pessoal estava falando mal de mim, porque falavam em português do meu lado e eu não entedia nada. Mas não foi difícil”, conta. “O Brasil é muito bom, eu gostei da cidade (União da Vitória) e quero ficar aqui, morar aqui, não quero mais voltar para o Líbano.”

“O povo reclama que o Brasil não vai bem, mas no Brasil tem muita oportunidade, aqui tudo é mais fácil e melhor”, compara.

Ibrahim pretende ingressar na faculdade de Odontologia, mas para isso ele precisa terminar o ensino médio. “Todo o estudo de lá não vale aqui no Brasil”, explica.

Contraste

Mesmo se acostumando rápido com as manias brasileiras a época de feriados, em especial religiosos, bate um ponta de saudade em Ibrahim. “Lá temos duas datas de Natal, nós muçulmanos respeitamos o dia 25 de dezembro também, mas sinto saudades de estar com a minha família em nossos momentos.”

Saudade que só pode ser esquecida, ao menos um pouco, durante as conversas pela internet. É pelo computador que Ibrahim conversa com os pais e irmãos que continuam morando no Líbano. “Conversamos todo dia.”

Outro contraste é como quem mora por aqui recebe imigrantes. “O pessoal me chama de turco do Shawarma”, brinca Ibrahim. “Nunca sofri preconceito por ser do Líbano ou muçulmano, brasileiro sempre me tratou bem.”

Serviço

Para experimentar o Shawarma aqui em União é preciso ir até o Bairro Rio D’Areia, o carrinho de lanches fica em frente a Uniguaçu. O Shawarma custa R$ 10. O lanche também é servido em Bituruna e recentemente começou as vendas em Cruz Machado. Por lá tem o “Shawarma na Praça”. O itinerário do Rei do Shawarma pode ser acompanhado pela rede social na página facebook.com/Rei-do-Shawarma.