Uma Casa de Cultura

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Atualizado há 10 anos

Nos mês em que, novamente, as duas cidades enfrentaram o transtorno causado pelas cheias do Iguaçu, eu privilegiadamente sem esse obstáculo para frequentar o lugar onde trabalho, recebi muitas pessoas que adentraram à Casa Cultural Anibal Khury, o “Castelinho”, interessadas em visitá-la.

Perguntas como “Aqui é o Museu?” ou “O que fazem aqui?” eram frequentes. Então uma ideia já antiga de confeccionar uma cartilha para explicar as atividades ali desenvolvidas, foi concretizada com o nome “Castelando”. Poucas foram, infelizmente, as unidades elaboradas e entregues às escolas e visitantes, não só locais, mas de outras paragens.

Pelo que tudo indica, ainda hoje visitantes não sabem o que é uma Casa de Cultura.  Qual a sua finalidade, principalmente em se tratando da Casa Cultural Anibal Khury, instalada em imóvel de valor histórico.

Sirvo-me hoje da coluna deste jornal que tem sido uma das molas a impulsionar o trabalho cultural, para colocar alguns esclarecimentos aos interessados e que poderão ser de grande valia, com base no documento instituído pela Gestão Cultural em Curitiba num Fórum de representantes regionais em 2000.

A Casa de Cultura, além de ser espaço para divulgar a produção local, deve promover a cidadania.

É ela uma solução que vem se disseminando, oferecendo diferentes oportunidades de forma integrada. Além de ser utilizada para favorecer o acesso da população aos bens culturais, pode dinamizar a produção da cidadania. Não deve ela somente oferecer aos cidadãos oportunidade para tomar contato com a produção do mercado artístico. Ela pode se tornar uma referencia para a sociedade local constituindo-se em espaço onde as pessoas agem de forma organizada e coletiva.

Dando um passo a diante é importante que a Casa de Cultura seja o lugar onde os produtores de cultura da região, compreendendo aqui professores, estudiosos e pensadores possam criar núcleos de produção, através do debate, da crítica e da divulgação de suas experiências.

Ali podem ser realizadas atividades que facilitem acesso a produção artística local, regional, e até internacional, sediando mostras, exposições e espetáculos.

Oferecer oficinas das diversas áreas artísticas, abrangendo técnicas de criação e produção.

Promover o resgate da memória e a valorização da história local com debates, conferencias ou exposições.

Auxiliar as atividades de ensino da rede escolar, realizando eventos complementares conjuntamente com os educadores e alunos.

Articular atividades de produção local de rádio ou TV.

Em qualquer dessas atividades o desenvolvimento da cidadania deve ser colocado como elemento central para as ações voltadas aos diversos públicos de acordo com suas especificidades como: escolaridade, faixa etária, condição profissional e acesso aos bens culturais.

À medida que se prioriza a gestão de uma Casa de Cultura como instrumento de promoção da cidadania, é possível oferecer a população um espaço para individuação sem mercantilismo, nem ideologia acrítica, onde o cidadão atue e se perceba como agente ativo da política cultural e da vida de sua comunidade.

Valorizando a produção local, chamando a população a participar de sua gestão e a socializar seu saber individual, a Casa da Cultura atua contra a dominação cultural por modelos e procedimentos massificados ou do mundo “ilustrado” das elites.

Dentro dessa visão concluímos que uma Casa de Cultura é espaço de vivência comunitária. Contribui portando, para a criação de reforço das relações sociais baseadas na identidade local e na solidariedade.