Os dados levantados pela Diretoria de Vigilância Epidemiológica (Dive) de Santa Catarina apontam um crescente número de casos de dengue no Estado. O Governo de Santa Catarina, através da Secretaria de Saúde, está realizando uma série de ações para que os casos da doença sejam minimizados. De acordo com o último informe epidemiológico, foram identificados 7.185 focos do mosquito Aedes aegypti em 182 municípios. Dos 295 municípios catarinenses, 154 são considerados infestados pelo vetor. Santa Catarina já tem 5.897 casos prováveis da doença.
Conversamos com o diretor da Dive, João Fuck, que falou sobre o cenário da doença no Estado. Confira:
Pelo Estado – Qual o atual cenário da dengue em Santa Catarina. Vivemos uma epidemia?
João Fuck – O que temos visto neste início do ano 2024 é um aumento do número de casos aqui no Estado de Santa Catarina. Quando a gente analisa, são mais de 5.800 casos prováveis, ou seja, isso é um aumento de mais de 600%, comparado ao mesmo período do ano passado. Mas o estado ainda não atingiu uma transmissão em nível de epidemia, esses números mostram que a gente precisa ter atenção e estamos realizando o monitoramento frequente da situação. Há uma possibilidade de aumento de casos nas próximas semanas, mas não ainda numa condição de epidemia, embora seja sempre importante ficar alerta. Se não reforçarmos as medidas de prevenção, a crescente do número de casos tende a continuar.
PE – Quais as regiões mais críticas em relação à doença no Estado?
JF – Com base nos dados, que foram atualizados no final do mês de janeiro, o que a gente tem visto de transmissão no Estado afeta, principalmente, a região Nordeste, ou seja, região de Joinville, seguido pela região da Grande Florianópolis e da Foz do Itajaí. Isso não quer dizer que a gente não vê transmissão em outros municípios, pelo contrário, nós temos aí 120 municípios catarinenses com registro de casos prováveis, mas essas três regiões são aquelas que têm o maior número de casos até o momento.
PE – Quais as principais ações do Governo do Estado, através da Vigilância Epidemiológica e Secretaria de Saúde (Ses), que estão sendo adotadas para minimizar os casos da doença?
JF – A Secretaria de Estado da Saúde (SES) já vem realizando diversas ações ao longo de todo o ano 2023, como campanha de mídia, repasse de recursos financeiros, apoio técnico das equipes tanto do nível Central como Regional, mas justamente nesse início de 2024, a gente tem intensificado as ações através da atualização do plano de contingência, de reuniões realizadas com os municípios que estão registrando maior número de casos. Contudo, mesmo mobilizando o colegiado do Governo do Estado para que as diversas áreas possam intensificar as ações e, claro, mais especificamente a SES, apoiando as equipes municipais que são as equipes que realizam as atividades no dia a dia, também precisamos que a população faça sua parte para que consigamos diminuir o impacto dessa transmissão no Estado. Estamos tentando reduzir a curva, especialmente também estamos tentando evitar os casos graves e óbitos, já que a gente sabe que é uma doença que pode evoluir e ser fatal.
PE – Quais os maiores desafios enfrentados no combate e prevenção à dengue no Estado?
JF – Acho que a principal dificuldade é que as pessoas ainda não entendem como um risco ter locais com água parada. Para muitas pessoas esta situação ainda é um problema muito distante, ou seja, parece que o aedes aegypti e a dengue não existem no Estado de Santa Catarina. Então, acho que é preciso mudar esse entendimento porque o mosquito já está muito presente na maioria dos municípios catarinenses, sendo que muitos deles já registram transmissão da doença. É fundamental que as pessoas coloquem em prática o ato de eliminar os locais com água parada, mesmo aqueles que talvez não sejam grandes como um pratinho de planta, um pneu, uma garrafinha. Enfim, é importante lembrar que qualquer local com água parada pode ser um local de reprodução do mosquito e, por isso, é fundamental que cada um faça a sua parte.
PE – Quem são os maiores vilões (principais fontes) da doença? Seriam residências, comércios, terrenos abandonados? É possível fazer essa avaliação?
JF – Acho que a gente tem visto nos últimos anos aqui no Estado de Santa Catarina que tanto as residências quanto os estabelecimentos comerciais vêm sendo responsáveis pelos maiores números de focos. De uma forma geral, é isso que podemos falar. Qualquer imóvel que tem água parada é um potencial local para reprodução do mosquito aedes aegypti. Então, mais do que a gente falar de residência ou comércio, a principal orientação tem que ser eliminar os locais com água parada. Se cada um fizer sua parte, seja na sua residência ou no seu local de trabalho mesmo, isso certamente pode ter um impacto na redução da presença do mosquito e, consequentemente, no impacto da transmissão da dengue aqui em Santa Catarina.
PE – Como o senhor vê o fato de Santa Catarina ter sido um dos primeiros estados a receber a vacina contra a dengue?
JF – A chegada da vacina contra a dengue aqui no Estado de Santa Catarina é mais uma ação importante no enfrentamento da doença. É claro que a gente sabe que uma vacina que não está disponível para toda a população, porque os critérios de prioridade foram definidos junto com o Ministério da Saúde. As vacinas serão distribuídas, primeiramente, para 13 municípios, vacinando, especialmente, adolescentes de 10 a 14 anos. Ainda estamos no aguardo da chegada das doses e de informações mais detalhadas por parte do Ministério da Saúde. Mas sempre é importante lembrar que mesmo com a vacina disponível, mesmo com as outras tecnologias que têm sido utilizadas no controle no combate ao mosquito aedes aegypti, como é o caso do uso da Volks no município de Joinville, cada um precisa fazer a sua parte. A melhor estratégia de prevenção continua sendo eliminar os criadouros de mosquitos. Mas já estamos nos organizando para, a partir do momento que elas chegarem aqui no Estado, a gente possa fazer a distribuição rapidamente e iniciar a aplicação por parte da Secretaria Municipal de Saúde, mas certamente as demais ações precisam ser reforçadas.