Entrevista: Marcelo Fett, Secretário da Ciência, Tecnologia e Inovação

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Atualizado há 2 meses

Recentemente, o secretário de Estado da Ciência, Tecnologia e Inovação, Marcelo Fett, integrou uma comitiva em missão internacional, capitaneada pela Associação Catarinense das Fundações Educacionais (Acafe). A comitiva foi liderada pela atual presidente Luciane Ceretta, na Finlândia e Suécia.

A Coluna conversou com o secretário sobre os objetivos e experiências da missão e, ainda, sobre o setor de tecnologia e inovação do Estado.

Entrevista: Marcelo Fett, Secretário da Ciência, Tecnologia e Inovação
Foto:Secom/Divulgação

Confira:

Pelo Estado – O senhor acaba de participar de uma missão na Finlândia e Suécia. Qual foi o objetivo desta missão, quais experiências o senhor viu lá e o que trouxe para Santa Catarina?
Marcelo Fett – Nos últimos 10 dias tive a oportunidade de participar de uma missão técnica organizada pela ACAFE e liderada por sua presidente Luciane Ceretta, imergindo no universo da educação, da pesquisa, da ciência, da tecnologia e da inovação em dois dos países mais desenvolvidos e inovadores do planeta: Finlândia e Suécia. Investir em educação e inovação é fator de sucesso de uma política pública de desenvolvimento econômico e este é um dogma facilmente validado quando se conhece in loco esses dois países. Nesses países, o setor produtivo diz para onde está indo e quais os fatores críticos de produção que precisam ser resolvidos para atingir seus objetivos. As universidades direcionam, então, os seus investimentos em educação, pesquisa, desenvolvimento e inovação nessa mesma direção. Com esse drive, empresas privadas enxergam valor na relação com a academia e se unem ao governo para cofinanciar esses investimentos. Foi uma experiência única e verdadeiramente enriquecedora. Se de um lado conclui-se que temos um longo caminho pela frente, por outro tive a certeza de que Santa Catarina está no caminho certo. Sob a liderança do governador Jorginho Mello, iniciativas como programa Universidade Gratuita (em inglês, Free University for All) e o CATEC somados a iniciativas como o PRONAMPE, a revisão de programas de incentivo econômicos e a própria criação da Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Inovação colocando o setor produtivo no centro de sua estratégia de desenvolvimento, evidenciam o alinhamento com o que há de mais bem sucedido no planeta em termos de políticas públicas. E reforçam ainda mais a minha crença particular de que nosso Estado deve liderar a agenda nacional do capital humano, da tecnologia e da inovação. Porque aqui, educação, governo e o mundo real estão de fato conectados.

Pelo Estado – Florianópolis acaba de receber o título de Capital Nacional das Startups. A que o senhor atribui este título qual?

Marcelo Fett – Isso enaltece o trabalho de anos das lideranças, entidades e empreendedores de Florianópolis, que compõem o exemplar ecossistema da capital. O polo de tecnologia e inovação da Ilha é referência nacional e esse título coroa a cidade que tem o maior número de empresas de tecnologia por habitante.  Florianópolis abriga mais de 676 startups, o que representa 42% do Estado de Santa Catarina. À frente da secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Inovação, criada pelo governador Jorginho Mello, no início de 2023, tenho atuado para que o modelo de Florianópolis sirva de exemplo e amadureça todo o ecossistema de Santa Catarina, respeitando as vocações regionais. O setor tem um potencial ainda maior à medida que conectado com os setores tradicionais da economia, em especial da indústria. Essa conexão é um dos nossos focos de atuação na secretaria.

Pelo Estado – Como o senhor avalia sua gestão na pasta até o momento?

Marcelo Fett – Nesse um ano e meio à frente da Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Inovação – SCTI, tenho buscado aproximar o setor de tecnologia e inovação do setor produtivo tradicional, bem como do Governo do Estado. Essa foi uma das missões que me foi dada pelo governador Jorginho Mello quando da criação da secretaria no início de 2023. Rodei o Estado conhecendo grandes empresas e personalidades que constroem diariamente o ecossistema empreendedor catarinense. A partir disso, entendo que Santa Catarina é solo fértil para trazer ainda mais desenvolvimento econômico utilizando inovação e tecnologia. Estamos trilhando um caminho promissor para estabelecer ainda mais Santa Catarina como referência em inovação tecnológica e empreendedora. Não há dúvidas de que a agenda de Santa Catarina precisa ser a agenda da agregação de valor, do capital humano e da inovação. A simbiose entre setores tradicionais e a nova economia, capitaneados por um estado empreendedor vai fazer com que Santa Catarina lidere esse movimento no país. Seja no agronegócio, na indústria, no varejo, no setor logístico ou no setor de tecnologia da informação e comunicação. Nenhuma outra unidade da federação reúne essas condições e apostar nessa agenda certamente será o passaporte para garantir um novo ciclo de desenvolvimento para nosso Estado. Esse é um dos focos da nossa atuação na secretaria.

Pelo Estado – Para o desenvolvimento do setor de Tecnologia e Inovação, quais os maiores desafios que Santa Catarina enfrenta?

Marcelo Fett – Hoje, já é mais do que realidade o conceito de Nova Economia, que tem como base o desenvolvimento do setor produtivo a partir de inovações e soluções tecnológicas. Em Santa Catarina, temos exemplos de empresas que têm se adaptado a esse novo modelo de produção. Cito como exemplo a WEG, Gelnex, Gran Mestri e Duas Rodas. Elas são exemplos de indústria onde o investimento em pesquisa e inovação é a base para o desenvolvimento de soluções para agregar ainda mais valor ao seu negócio.

Somos um Estado com dificuldades geográficas, sem áreas agricultáveis, reservas minerais ou de petróleo e, mesmo assim, Santa Catarina é destaque nacional em desenvolvimento industrial e econômico.

Enxergo como principal desafio fomentar um solo cada vez mais fértil para a multiplicação de cases como os citados acima, aproximando o setor produtivo tradicional da inovação e da tecnologia, processo esse, que vai gerar competitividade e riqueza para o Estado.

Neste caminho, um dos maiores desafios é o déficit de mão de obra para atuar no setor de tecnologia e inovação do Estado. Temos um gap de produtividade que afeta a competitividade das empresas catarinenses. A falta de profissionais na tecnologia permanente alta e se multiplicarmos isso por um salário médio de 4 mil reais, temos uma ideia da massa salarial que está deixando de ser incorporada à economia de Santa Catarina por não termos pessoas com as competências técnica e socioemocionais aderentes a este novo modelo de desenvolvimento.

Pelo Estado – A pedido do governador Jorginho Mello, o senhor vem trabalhando, em conjunto com outras pastas, para ampliar a rede de Internet e conectividade no Estado, principalmente no meio rural. Como está este projeto?

Marcelo Fett – Foi criado um grupo de trabalho liderado pela Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Inovação,  envolvendo também as Secretarias de Agricultura; Planejamento; Fazenda, Articulação Internacional, Celesc e Epagri para viabilizar a conectividade nas áreas rurais, rodovias federais e estaduais.

Ainda estamos trabalhando para a criação do programa que levará a conectividade através de mecanismos para viabilizar incentivos fiscais, projeto de lei para flexibilizar o aluguel de passagem de postes para operadoras de telefonia e ações de proximidade com a ANATEL para trabalhar em políticas públicas de incentivo à expansão e compartilhamento de infraestrutura.

Pelo Estado – Além dos projetos já citados, quais outros estão em desenvolvimento pela Secretaria?

Marcelo Fett – Na SCTI recebemos diretrizes do governador Jorginho Mello pautadas em 3 pilares: capacitação humana, desenvolvimento do ambiente de inovação e tecnologia; e a melhora da vida dos cidadãos catarinenses a partir de soluções de CT&I.

Tendo isso como base, alguns programas já estão em fase de desenvolvimento mais avançada, ao passo que outros estão sendo finalizados.

Posso citar o SC Games, projeto voltado para a capacitação de desenvolvedores de jogos e de fomento do setor de games no Estado. Reativamos presencialmente o programa Novos Talentos, que é um curso de programação para crianças e adolescentes no contraturno escolar.

Cito, também, a Rede Catarinense de Centros de Inovação. Com grande participação no desenvolvimento do empreendedorismo inovador do Estado, a rede contempla todas as regiões de Santa Catarina, gerando empregos, além de criar e fortalecer empresas. Temos buscado aproximar ainda mais o governo dos centros de inovação, por isso, mesmo em pouco tempo, podemos garantir que o atual governo foi o mais investiu na Rede Catarinense de Centros de Inovação. Em parceria com a Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina – FAPESC, foram lançados recentemente três editais com fomento de mais de R$ 17 milhões.

Atualmente, as startups e empresas incubadas ou residentes nos centros de inovação catarinenses faturam cerca de R$ 1,2 bilhão, o que reforça o papel dos CI em apoiar o desenvolvimento de projetos de tecnologia e inovação e que as soluções, produtos e serviços cheguem ao mercado.

Não se faz inovação sem infraestrutura, sem capital humano, e, principalmente, sem recursos. É mais uma entrega do governador Jorginho Mello para o ecossistema de inovação. Esse apoio financeiro vem para fortalecer as operações, estimular a criação de escritórios de projetos e, principalmente, potencializar os eventos dentro dos Centros de Inovação.

Além disso, estamos em fase de finalização do projeto de ativação e aceleração dos polos de inovação em parceria com a ACAFE – ACAFE – Associação Catarinense das Fundações Educacionais. Inclusive, aproveito para destacar, que a entidade educacional, liderada pela magnífica reitora Luciane Ceretta tem sido uma das grandes parceiras dos projetos da secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Inovação.

Pelo Estado – E quais são as “vantagens” do nosso Estado que proporciona tamanho desenvolvimento?

Marcelo Fett – Como eu sempre digo: “Enquanto uns choram, o catarinense vende lenços”. Com espírito empreendedor, temos o dom de gerar riqueza, emprego, renda e oportunidades. O resultado disso vemos nos números que representam os indicadores como IDH, taxa de desemprego, representatividade na economia nacional e geração de empregos.

Santa Catarina é referência de desenvolvimento humano, econômico e industrial.

Essa capacidade de resiliência é o que nos coloca muito à frente em vantagens para fazer um Estado cada vez melhor para se viver.

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