Responsável por boa parte da economia do Estado, o agro catarinense é referência em produção e exportação de diversos produtos. Somente neste primeiro semestre de 2023, o setor registrou US$ 474,6 milhões em exportações, graças às safras positivas de grãos e vendas de carnes suína e de aves.
A Pelo Estado conversou com o secretário Valdir Colatto, que está à frente da pasta para saber quais os desafios e planos para o setor. Confira:
Pelo Estado – Em 2022, o agronegócio respondeu por 64,4% das exportações de Santa Catarina. Como o senhor pretende manter esse alto percentual em 2023?
Valdir Colatto – Santa Catarina se destaca pela qualidade dos produtos e, acima de tudo, a credibilidade pela exportação das nossas proteínas de suínos e aves. Também somos importadores de grãos como milho, destes consumimos sete milhões de toneladas e produzimos duas e meia. As exportações foram boas, tivemos um momento bom e não podemos esquecer que ela depende ainda do cenário internacional. Recentemente tivemos alguns problemas com a questão da suspensão temporária que o Japão impôs aos nossos produtos, justamente um dos nossos maiores importadores. Hoje, também temos uma dificuldade com o dólar, que é a moeda que regula o preço dos produtos exportados. Mas, com certeza, esperamos resolver qualquer dificuldade que venha a surgir para nos manter como um dos grandes exportadores de alimentos para o mundo.
PE – Quais são os principais desafios do agronegócio catarinense?
VC – O primeiro é o mercado internacional, é essa inconstância do dólar da exportação, mas também precisamos de políticas públicas nacionais favoráveis. Nesta área, hoje vivemos uma incógnita de como será a condução do Governo Federal, principalmente na questão de recursos para a safra, que está para ser plantada. Já foi lançado o Plano Safra, mas os recursos ainda não estão nos bancos e o plantio já começa agora em agosto. Precisamos ainda que não haja exigências absurdas para que o produtor possa começar a plantação. Quanto ao Governo Estadual, estamos tentando dar estrutura para o agricultor com a implantação e ampliação de um sistema de energia trifásica, com qualidade da telefonia, planos de melhoria das rodovias, que é o nosso problema maior que o gargalo, já que o frete interfere diretamente no custo da produção. Outra dificuldade que a gente encontra é em relação à mão de obra, já que temos uma legislação trabalhista que não contempla a realidade do campo.
PE – O Governo do Estado anunciou um investimento bilionário que irá ampliar a presença de energia trifásica em Santa Catarina. De que forma isso poderá afetar os pequenos produtores rurais?
VC – Essa é uma luta muito grande da pasta da Agricultura, porque os pequenos produtores rurais pareciam esquecidos, sem infraestrutura, sem energia, sem comunicação, sem internet, a questão da água no campo não foi resolvida e a questão da infraestrutura realmente é um problema. Mas, agora, o Governo do Estado já lançou um projeto para ampliação de 500km da rede trifásica, um investimento de R$ 40 milhões. Estamos buscando recursos junto ao Banco Mundial para, em parceria com a Celesc, para poder levar este projeto adiante e provocar esta revolução no campo. Um exemplo será a produção do leite, que a partir da chegada da energia e internet de qualidade, será totalmente automatizada. O campo precisa ser olhado com mais carinho pelo poder municipal, estadual e federal.
PE – Quais as principais ações realizadas na sua gestão e quais os projetos futuros, principalmente, em relação ao interior do Estado?
VC – Primeiro, estamos reestruturando a Secretaria da Agricultura que, infelizmente, não recebeu a atenção necessária dos governos anteriores. Hoje, a Secretaria não tem um quadro técnico e de funcionários, conta somente com o pessoal cedido pela Epagri e Cidasc. Recentemente lançamos o programa Terra Boa, que aplicou recursos para as sementes de milho, calcário, da cultura de inverno e para a água. Enfim, são vários projetos que estão se encaminhando. Agora, nós estamos implementando dois projetos que tratam da questão fundiária, para regularizar as mais de 100 mil propriedades que não possuem escritura e incluir este pessoal no processo produtivo e torná-los aptos a conseguir um crédito bancário dos programas governamentais. O outro trata da questão ambiental, onde queremos implantar o Cadastro Ambiental Rural, que ainda não havia sido trabalhado. Quando você está com a documentação regularizada e com andamento ambiental correto, é possível abrir muitas portas de programas de crédito.
Outra área que atinge o trabalhador do campo diz respeito às estradas vicinais. Um dos programas do governo do Jorginho prevê o melhoramento dessas estradas, que vai gerar, por consequência, um frete mais barato, barateando também o custo da produção. Também pretendemos fazer um programa de armazenagem e distribuição de água para uso tanto na piscicultura como para irrigação no campo. Santa Catarina tem milhares de pequenas atividades que sustentam economias municipais, regionais e nós vamos trabalhar muito forte nisso. Precisamos fomentar essas atividades e ter um ponto de comercialização destes negócios como os Ceasas. Outro programa que já foi aceito pelo Governador Jorginho Mello, e que estamos apenas estruturando para que todos os órgãos públicos estaduais venham a aderir é para a aquisição de alimentos onde, pelo menos, 30% do consumo de alimentos para a rede pública estadual venha do pequeno produtor, da agricultura familiar.
PE – Existe um mapeamento das potencialidades de cada região do Estado? E como o trabalha isto?
VC – O Estado tem diversidades imensas que a cada dia a gente se surpreende. Recentemente, descobri um município que tem sua economia girando em torno da produção de chuchu. Nós temos uma série de produtos, tanto animal como vegetal, que estão prontos para entrar no mercado, para ter visibilidade. A Secretária da Agricultura, junto com a Epagri, Cidasc e Ceasa, vai trabalhar fortemente para dar visibilidade a esses produtos, fomentar criando câmaras setoriais, buscando lá as suas necessidades e levando as soluções. Mas quem vai dizer o que fazer serão os representantes de cada setor. Nós queremos organizar a casa, porque Santa Catarina tem diversas atividades. O cooperativismo, por exemplo, está bem avançado, mas precisamos fomentar o associativismo para que essas pessoas e as entidades do agro de Santa Catarina se juntem. Existe todo um processo sendo trabalhando com estas nossas diversas atividades, dando oportunidade àquelas que ainda não conseguiram deslanchar. Mais de 30% da economia de Santa Catarina vem do agro, direta ou indiretamente, então, nós temos que incentivar esses produtores que são, também, empreendedores.
Produção e edição: ADI/SC – Jornalista Celina Sales com colaboração de Cláudia Carpes.