O Sul do Brasil sofre com a estiagem mais severa dos últimos anos. A modificação da paisagem dos rios e das barragens revela um misto de sentimentos – que de um extremo ao outro, vai da curiosidade à tristeza. O aparecimento das pedras e da areia chama atenção até mesmo dos moradores mais antigos da região. (assista a reportagem em vídeo ao final do texto).
O Rio Iguaçu, que muitas vezes é lembrado durante as cheias, retrata um momento de preocupação e incertezas. Cenários até então desconhecidos e de grande apelo turístico, ganham novas forças e impressionam pelas imagens em União da Vitória e região.
Em ruínas
A estiagem traz à tona imagens vistas pela última vez em 1979. As ruínas da usina de Salto Grande do Iguaçu, entre os municípios de Cruz Machado e Bituruna, na Região Sul do Paraná, são observadas novamente em 2020.
A usina que demorou 12 anos para ser construída, funcionou por pouco tempo, de 1969 até por volta de 1980. Com o enchimento do lago para a construção da Usina Bento Munhoz da Rocha Neto, a Usina Foz do Areia em 1979, as ruínas de Salto Grande do Iguaçu desapareceram.
Com a estiagem, o nível do lago está 30 metros abaixo do normal, o que significa 742 metros acima do nível do mar. Atualmente, o lago está com 710 metros. Mas essa não é a menor medição, pois em 2014 o nível chegou a 706 metros.
Segundo o jornalista e estudioso do Rio Iguaçu, Dago Woehl, o que chama a atenção é o longo período de duração da estiagem.
Neste período, também chamam a atenção as ruínas da Usina da Cachoeira do Palmital, localizada em Cruz Machado. Construída em 1926, foi a primeira a produzir energia elétrica para a região.
Cenário é crítico na região
Conhecida por suas belas cachoeiras e corredeiras, a cidade de Porto Vitória, que fica a 25 quilômetros de União da Vitória, também retrata os impactos da estiagem.
A falta de chuva literalmente secou as corredeiras, um dos cartões-postais da cidade. É possível atravessar o leito do rio apenas caminhando sobre as pedras. Com pouca queda de água, o local também impressiona.
O majestoso
O Rio Iguaçu corta o Estado do Paraná com seus 1,320 mil quilômetros de extensão e é um dos cartões postais de União da Vitória. Normalmente o Majestoso, como é chamado pelos moradores do Vale do Iguaçu, ganha lembrança em suas mudanças drásticas – enchentes e estiagens.
A medição de 1,29 m registrada no Rio Iguaçu em União da Vitória em 8 de maio de 2020 foi a menor da história. Até então, o 1,33 registrado durante vários dias, aconteceu somente nos anos de 1944, 1951 e 1963.
Mesmo com este cenário, a Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar) não considera, pelo menos por enquanto, o risco de desabastecimento de água na cidade.
Segundo o gerente regional da companhia, Bolivar Menoncin Júnior, o volume de água de 55 mil litros por segundo, que concentra o Rio, é suficiente para abastecer os reservatórios.
Mas, a Sanepar já trabalha com possibilidade em caso de mudança no cenário.
Alerta
O Sistema de Tecnologia e monitoramento ambiental do Paraná (Simepar), divulgou alerta de que a estiagem deve se estender até o mês de setembro.
O Governo do Estado do Paraná divulgou no início deste mês o decreto de situação de emergência hídrica por 180 dias, que regulamenta que as empresas de água que atuam no estado possam adotar medidas de racionamento, equilibrando a distribuição entre todos os consumidores e regiões.
Esta é a pior estiagem vivenciada pelo Paraná, desde que o Simepar começou monitorar as condições do tempo, em 1997.
Diferença entre seca e estiagem
No Brasil, os termos seca e estiagem correspondem a eventos climáticos de intensidade diferentes.
As estiagens resultam da ausência de chuvas, previstas para uma determinada temporada, ou da redução na sua quantidade, ou mesmo do atraso em sua chegada.
A seca é a ausência prolongada de chuvas, sua escassez acentuada ou sua fraca distribuição. Corresponde a um período de tempo seco, suficientemente extenso, que provoque grave desequilíbrio hidrológico. A seca é a forma crônica da estiagem.
Reportagem exibe estiagem histórica na região
Colecionador de segredos em suas águas, o Rio Iguaçu é agraciado com a beleza da natureza, e citando um antigo provérbio popular: só percebemos o valor da água, depois que a fonte seca.
Assista abaixo