Gustavo Trebien sempre foi sonhador. Durante a infância e adolescência percorreu por vários instrumentos musicais, como o órgão eletrônico, acordeom, violino e violão. Cada instrumento foi aguçando à vontade do pequeno uniãovitoriense em seguir carreira musical.
Foi durante uma conversa com seus pais, aos 16 anos, que foi decidido que o melhor para seu futuro seria fazer um curso superior. Gustavo se mudou para Curitiba, onde cursou Engenharia Mecatrônica, na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Após a graduação, por três anos ele exerceu a profissão de engenheiro.
O violão, seu bom e velho amigo, sempre o acompanhou. Com frequência, tocava para os amigos aos fins de semana ou em churrascos.
Em uma viagem à Brasília para o aniversário de 40 anos do irmão Marcos, apareceu a primeira oportunidade na carreira musical. Gustavo, mesmo após 10 anos divididos entre trabalho e estudos, deixou a vida de engenheiro em Curitiba e se mudou para a capital federal.
“Não pensei duas vezes”.
Era a oportunidade de iniciar o seu sonho de moleque.
A MÚSICA ME ESCOLHEU
Mesmo com o seu destino já traçado, ele tem a certeza de que foi a música que o escolheu.
“Há alguns anos, assistindo o primeiro DVD da Paula Fernandes, ela fez um comentário que muita gente na época entendeu errado, e achou que foi ego centrista. Ela disse que não escolheu a música para si, mas sim que ela a escolheu. Entendo esse sentimento, eu sinto a mesma coisa. As vezes a vida toma conta de certas decisões para nós. Sempre achamos que temos o controle de tudo que acontece, mas não temos. O destino, a vida, Deus, ou seja qual for a crença de cada um, existem decisões que não são nossas. A vida nos abre portas, as coisas simplesmente acontecem”.
THE VOICE BRASIL
Fazia três meses que Gustavo havia se mudado para Águas Claras, cidade satélite* de Brasília.
“No apartamento ainda faltava milhares de coisas. Eu não tinha sofá, nem televisão. Havia apenas a geladeira, uma cama e a máquina de lavar que tinha trazido de Curitiba”, conta.
Já estava trabalhando em alguns bares na cidade quando começaram a surgir comentários de que ele deveria tentar a chance no programa global que estava em sua segunda edição. Porém, ele ainda não sentia segurança em se inscrever. Achou que seria apenas mais um entre tantos. Acabou perdendo o prazo para a inscrição em tempo de fazer a audição em Brasília.
“No último dia de inscrição acabei fazendo um vídeo caseiro, com a webcam do computador. Falei que independente da qualidade do vídeo, quem estivesse do outro lado saberia se eu teria capacidade e talento para participar do programa. O resultado todo mundo já sabe, foi um momento muito feliz”.
Algumas semanas depois, em seu pequeno apartamento sem sofá, em Águas Claras, a equipe da Rede Globo entrou com câmera, microfone e iluminação, tirando lágrima dos olhos de seus pais.
“Foi tudo muito rápido, eu era apenas um ex-engenheiro que caiu no programa, estava me sentindo perdido. Não sabia com quem falava para tentar ajudar a me organizar com carreira, turnê, banda. Mas foi tudo muito gratificante poder conhecer esse outro lado, o lado dos holofotes. Pude ver o quanto tudo isso tem um preço alto. Recentemente ouvi uma frase que faz muito sentido, ela falava assim: ‘o artista passa metade da vida correndo atrás da fama e a outra metade se escondendo dela’. E eu posso dizer que é verdade, porque a fama traz consigo um preço alto. Você se machuca muito quando você é exposto, exibido. Tem pessoas que gostam de você e expressam isso, e na mesma intensidade pessoas que não gostam de você, e elas também expressam isso. É muito complicado”
VIDA PÓS THE VOICE
Sem entender nada de carreira e nem de Show Business, Gustavo saiu do programa. Morando sozinho na capital do país, meio perdido na vida pós engenharia “eu ainda estava com aquela cabeça de Nerd, até hoje minha cabeça funciona um pouco assim”, e já tendo que lidar com a fama repentina, foi quando percebeu que dali em diante seus dias não seriam mais os mesmos.
Sempre que saía para ir ao mercado, ou tomar um café como de costume, ele era abordado por dezenas de pessoas curiosas que acompanharam a sua passagem pelo programa.
“Nem o estacionamento do shopping eu conseguia pagar. Teve uma vez que teve um menino que queria pular a guarita e vir me dar um abraço e tirar uma foto. ‘Você foi o cara que fez o Lulu chorar, posso te dar um abraço?’. Se por um lado foi muito legal, por outro me incomodava muito estar sozinho”.
A nova rotina começou a atrapalhar o trabalho habitual que tinha, “eu não conseguia mais fazer meus shows, porque as pessoas não deixavam. Eu sentava no meu cantinho, no mesmo banquinho com o meu violão, e queria começar a tocar. Logo formava uma fila enorme de pessoas querendo tirar fotos, selfie, fazer vídeos. Não tinha nenhum tipo de estrutura comigo, ou algum segurança que me ajudasse a conter toda aquela gente.”
Aos poucos começou a perder as oportunidades.
“Onde eu ia, era sempre aquela bagunça, uma muvuca de gente. É um carinho, uma coisa que todo mundo quer expressar. É bacana? É. Mas sem ter um controle, uma dosagem de tudo aquilo, uma equipe que me ajudasse a controlar, começou a virar um pesadelo. De repente comecei a ficar sem trabalho.”
Foi quando Gustavo decidiu ir embora para o Canadá, no Hemisfério Norte. Ficou seis meses fora do país, esperando a poeira da fama repentina abaixar, e quando pudesse voltar, seria novamente uma pessoa normal.
No Canadá aproveitou para aperfeiçoar o inglês e estudar produção musical.
“Acabei vendendo tudo o que eu tinha na época. Entreguei meu apartamento mobiliado para o proprietário e fui embora para o Canadá para aproveitar o tempo estudando e evoluindo. E me escondendo um pouco dessa loucura que minha vida virou. Porque a fama é isso, é algo que dá e passa”.
INTUIÇÃO
Após os meses no gigante branco, Gustavo retornou para a casa dos pais, em União da Vitória, onde permaneceu por um ano e meio. Em sua cidade natal abriu um pequeno estúdio, onde colocou em prática tudo o que aprendeu e, sem saber, ingressou no caminho que ele tanto almejou.
“Vim do exterior, torrei todo o dinheiro que eu tinha na vida (risos) cheio de equipamentos novos, então eu decidi ficar na casa deles para ter um custo reduzido de vida e poder investir na minha carreira, agora, de uma maneira mais sadia. Criei um estúdio de gravação. Dentro dele, foi onde eu fiz meu primeiro álbum de singles, covers internacionais. Eu mesmo me gravava, editava e distribuía para as lojas de streams. É o que me sustenta até hoje. Foi algo totalmente de intuição”.
ONDE ANDA GUSTAVO TREBIEN?
Gustavo continua em Brasília. Atualmente reside em Núcleo Bandeirante, a cidade mais antiga de Brasília. Segundo ele, lembra muito o interior.
“Agora nessa época de pandemia, sem shows, o que me sustenta é os streams nas plataformas de mídias digitais, é o virtual. É o que ainda me mantém dentro da estrada como músico. Depois de um ano e meio morando no Paraná voltei para Brasília, onde estou até hoje, e aqui onde eu moro a cidade é pequena por conta de as pessoas irem migrando para outras partes de Brasília, então ela acaba me lembrando muito o interior” diz o músico. “Gosto muito daqui, porque dá para resolver tudo a pé, ir à farmácia, mercado, padaria e passear com os cachorros. É tudo rapidinho, um lugar acessível. É como se eu ainda estivesse no interior mesmo. Aos poucos estou retomando a agenda de shows. Viagem é muito difícil de acontecer agora.”
CASAMENTEIRO
Casamentos, que são o carro forte de sua carreira, foram cancelados.
“Eu já fiz casamentos no Mato Grosso, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Santa Catarina. Percorri vários estados do Brasil para isso. Agora ficamos na esperança de que os dias melhores aparecerão em breve”.
O que o Vale do Iguaçu representa?
“Eu acredito que o que representa para mim, pode representar para qualquer pessoa que na sua cidade natal, tenha tido uma infância, uma juventude feliz. Tenha sido respeitado, amado e cuidado por uma família feliz. Então a minha resposta, é a resposta de qualquer pessoa que tenha tido a felicidade de ter o que eu tive nessa cidade. É o significado mais puro da palavra lar, “lar doce lar”. Toda vez que eu estou indo para União da Vitória visitar os meus pais, atravesso a ponte, qualquer uma das duas, dou uma olhada no rio e aquele suspiro que me lembra de tanta coisa boa que eu vivi aí. Deixei a cidade quando eu tinha 16 anos, e gosto sempre de voltar ao meu lar doce lar. Tomar um cafezinho com a minha mãe, dar um abraço no meu pai, e tirar um tempo com eles aí.
Acabei não mencionando uma pessoa que faz parte desse contexto, dessa resposta. Ela mora em União da Vitória, e se eu não mencionar, ela vai pensar que eu nem lembro que ela existe (risos) quando, na verdade, isso é uma mentira. Ela não deixa de passar pelos meus pensamentos nem um dia sequer. É a minha irmã Patrícia, que hoje mora ao lado dos meus pais, e cumpre uma missão gloriosa de ajudá-los com o comércio da família, e outras várias coisas no dia a dia. Muitas vezes por eu estar tão longe, acabo me cobrando, e ao mesmo tempo sofro por não poder oferecer essa ajuda que ela oferece tão prontamente. Então Patrícia, quando eu atravesso essa ponte aí, eu também penso em você, tá bom? Eu também estou indo te ver. Um beijo e um muito obrigado sempre, por estar aí cuidando dos meus “velhinhos”.
*O que são Cidades Satélites?
É o antigo nome que se dá para as regiões administrativas localizadas no entorno de Brasília. Ao todo, são 19 e a maior é Taguatinga, seguida de Ceilândia e Sobradinho. Elas não têm autonomia política e, por isso, são dirigidas por administradores nomeados pelo governador local. Originalmente, foram planejadas para serem núcleos urbanos e para funcionar como cidade-dormitório. Sendo assim, as cidades-satélites geralmente não têm indústrias e contam somente com serviços básicos de educação, saúde, comércio e lazer.