Bernardinho pede demissão da seleção francesa de vôlei por motivos pessoais

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Atualizado há 3 anos

Bernardinho não é mais o treinador da França — Foto: Divulgação/CEV

Ele foi o primeiro estrangeiro a treinar a equipe de vôlei da França desde o russo Vladimir Kondra, em 1995. Mas a história de Bernardinho à frente dos Bleus durou pouco. “A Federação Francesa de Voleibol aceitou a demissão de Bernardo Rocha de Rezende, treinador da seleção masculina francesa desde agosto de 2021”, diz o comunicado enviado à imprensa nesta terça-feira, 22.

O brasileiro, de 62 anos, informou ao presidente da DTN (Federação e à Direção Técnica Nacional) de Voleibol que “problemas pessoais lhe impediam de seguir como técnico da seleção da França, cujo objetivo é manter o título olímpico em Paris-2024”. Ainda de acordo com o comunicado, Bernardinho apresentou sua renúncia e se ofereceu para acompanhar a sucessão.

“É uma das decisões mais difíceis e dolorosas de toda a minha carreira. Estou muito triste porque amo a seleção da França, o grupo, os jogadores, a equipe que construímos”, disse Bernardinho. “Sou muito grato pela confiança que a Federação me depositou ao longo do ano. Agradeço, novamente, ao presidente e à DTN pelo apoio e compreensão. Recebi uma recepção incrível de todo o vôlei francês e tenho muita dor e frustração por não chegar ao fim do projeto que começamos a colocar em prática”, acrescentou.

“Mas eu tenho que fazer essa escolha, não há outras possíveis para a minha família, que continua sendo uma prioridade. Eu disse ao presidente que estarei disponível para ajudar a Federação, os jogadores ou o meu sucessor”, conclui ele, antes de desejar “o maior sucesso a este grupo e ao vôlei francês”.

SACRIFÍCIOS PESSOAIS

Na época em que foi anunciado para o cargo, em 12 abril de 2021, Bernardinho, então técnico do Sesc-Flamengo, do Rio de Janeiro, havia dito que “a vontade de sair da zona de conforto” falava mais alto, ainda que “o projeto de treinar os franceses exigisse sacrifícios pessoais”.

Bernardinho substituiu o treinador francês Laurent Tillie no comando da equipe dos bleus, que já tinha o desafio de lutar pelo ouro olímpico, nos Jogos de Paris. A contratação dele havia sido bem recebida pela imprensa esportiva local. Bernardinho foi descrito como o “maior treinador da história do vôlei”, pelo diário francês L’Équipe. A “legenda do vôlei”, destacava o site FranceInfo, que considerava a contratação como “um golpe de mestre” dos franceses.

A notícia de sua saída está nas páginas dos principais jornais franceses desta terça-feira. De acordo com informações do jornal Le Parisien, um retorno de Laurent Tillie, que esteve à frente dos Blues entre 2012 e 2021, e que agora treina o Panasonic Panthers, no Japão, “não está fora de cogitação”.

A Federação francesa de Voleibol lamentou a saída do brasileiro. “Tivemos o melhor treinador para cumprir nossos objetivos até os Jogos de Paris 2024 e só posso lamentar essa situação”, escreveu o presidente, Éric Tanguy. “Mas, obviamente, compreendo as razões que levaram o Bernardinho a tomar esta difícil decisão e agradeço por ele ter se mantido disponível para preparar sua sucessão”, completou. “Vamos superar este desafio e encontrar a melhor saída para apoiar o projeto em torno da seleção masculina francesa. Novos anúncios serão feitos em alguns dias”, finalizou.

Entre as conquistas acumuladas por Bernardinho com a seleção masculina do Brasil, estão dois ouros olímpicos (2004 e 2016), duas pratas (2008 e 2012) e três títulos mundiais (2002, 2006 e 2010), além de oito Ligas Mundiais. Antes, com a seleção feminina, ele havia conquistado dois bronzes olímpicos: nos Jogos de Atlanta, em 1996, e de Sydney, em 2000.

LIDERANÇA

Numa conversa a empresários franceses, organizada pela Câmara de Comércio da França no Brasil, em 4 de maio do ano passado, logo após a sua nomeação, Bernardinho falou sobre os atributos necessários para o sucesso nas quadras e fora dela. A RFI acompanhou a palestra online intitulada “A Cultura da Excelência”, em que ele usou uma metáfora da guerra para explicar o que é liderança.

“Há duas formas de formar um time: alinhamento de valores ou um inimigo em comum. Na Segunda Guerra Mundial, os aliados se uniram aos soviéticos. Não eram exatamente amigos, mas se uniram para derrotar os nazistas. Um inimigo comum formou um time. Mas isso não é consistente. Já o alinhamento de propósitos forma times consistentes”, disse.