No dia 24 de julho, a seleção brasileira de futebol feminino estreou na Copa do Mundo. É inegável que a expectativa estava muito alta, já que o time reunia três características: veteranas consideradas ídolos, novatas com muito potencial e um trabalho técnico de anos.
Assim, a fase de grupos começou e nem mesmo se discutia a possibilidade do Brasil não avançar, mas sim em qual posição avançaria. Todavia, o que aconteceu foi justamente o oposto: a seleção brasileira foi eliminada precocemente, sem nem chegar ao mata-mata.
Então, o que aconteceu? O que deu errado a ponto desse resultado? E o que estava dando certo?
A seleção feminina pré-Copa do Mundo
Antes de a Copa do Mundo começar, a última grande competição de nível mundial disputada pelo time tinha sido as Olimpíadas de Tóquio. Os resultados por lá foram melhores do que na Copa, mas ainda não foram tão bons: o time passou em segundo lugar para as oitavas, sendo eliminado pelo Canadá.
Isso causou um grande incômodo entre os fãs e entre especialistas. A resposta veio na Copa América Feminina de 2022. Vencendo a Colômbia por 1 a 0, a equipe ainda teve um excelente desempenho em termos de artilharia: apenas Adriana e Debinha marcaram 5 gols cada.
Em 2023, os comentários ficam para as jogadoras. O maior nome, principalmente entre os fãs, é o de Marta. A atacante de 37 anos conquistou 5 vezes o título de melhor jogadora, esteve presente na conquista da medalha de prata em duas Olimpíadas e em quase todos os outros títulos conquistados.
Entretanto, o peso da idade não pode ser ignorado e ela chega na Copa do Mundo Feminina em sua última convocação. Pelo seu time, também não conseguiu grandes conquistas recentes, mostrando que está na sua fase final.
Já nomes como Debinha, Andressa e Luana são veteranas com idades entre 29 e 31 anos. Isso significa que possuem experiência e conhecimento tático, mas não estão no auge da capacidade física.
E as jovens? Esse foi o ponto em que a seleção surpreendeu. Nomes como Cristiane ficaram de fora, enquanto Angelina, Aninha, Duda Sampaio, Kerolin e Ary Borges possuem menos de 5 anos vestindo a amarelinha.
Já na parte técnica, Pia Sundhage chegou na Copa do Mundo com seu quarto ano de trabalho. Ela também atraía muita expectativa, já que foi contratada quando era considerada a melhor técnica do planeta.
Copa do Mundo Feminina 2023: grandes expectativas, grandes decepções
Finalmente, chega a Copa do Mundo Feminina. Na lista de convocados, como já dito, a surpresa esteve na ausência de algumas veteranas e na presença de muitas jovens. Todavia, várias delas vieram de times vitoriosos, como o Corinthians feminino, o que trouxe certo alívio.
Ainda havia um certo sentimento de “última Copa”, já que a grande Marta se despediria da seleção após essa edição. Ou seja: esperava-se um esforço adicional para conquistar o único troféu que a atacante não tinha conseguido.
Aliás, no início do ano já tivemos uma amostra do que a seleção era capaz: na Copa SheBelieves, um evento de exibição, o time terminou no terceiro lugar. Por outro lado, Ludmilla, que se mostrou decisiva no evento, perdeu sua vaga após romper o ligamento cruzado.
Pulando para a primeira partida na Copa, o placar foi excelente: 4 a 0 frente o Panamá, com 3 da Ary Borges e uma da Bia Zaneratto. Foi um ótimo jogo, aproveitando um adversário com um nível bem inferior tanto em técnica e conjunto, como em habilidades individuais.
Já na partida seguinte, o time a ser enfrentado estava em outro patamar: França. A diferença se mostrou também no placar, com uma derrota por 2 a 1. A classificação não estava mais tão óbvia.
Finalmente, a partida que garantiria a passagem para as oitavas: Brasil x Jamaica. Um adversário sem tanta tradição, cuja vitória deveria ser uma “obrigação” para as brasileiras. Infelizmente, não foi o que aconteceu.
Empatando sem gols, o Brasil foi eliminado precocemente, indo contra as previsões de especialistas. Inclusive, até mesmo casas de apostas sofreram um revés tanto em odds de longo prazo, como em apostas contra a Jamaica. Os números davam um favorecimento ao Brasil, principalmente em mercados de gols asiáticos e outros semelhantes.
Por que o Brasil foi eliminado?
Agora que tudo está contextualizado, podemos finalmente responder essa pergunta. Claro, essa é uma análise subjetiva, em que não há uma única conclusão correta ou exata.
Assim, o primeiro ponto apontado por muitos analistas foi justamente o equilíbrio entre expectativas e realidade. Nesse sentido, a seleção brasileira não está mais no mesmo nível de qualidade de anos anteriores.
Passando por uma renovação, possui um time que não é tão sincronizado e nem experiente como elencos anteriores. Isso se mostrou mais notável no duelo contra a França, mas também foi um dos motivos para a surpresa no empate com a Jamaica.
Em segundo lugar, o futebol feminino evoluiu muito nos últimos anos, principalmente em sentido tático. Isso não foi visto no estilo brasileiro, que ainda se prende há uma abordagem rígida e com formações estáticas.
Por fim, muitos notaram uma “tranquilidade” além do necessário por parte do time nacional. As jogadoras não aproveitaram momentos em que um ataque agressivo faria total diferença. As decisões técnicas também sofreram com falta de ousadia, se prendendo aos mesmos conceitos.
Fora esses fatos, ainda há questões como ausência de algumas jogadores lesionadas e a não-convocação de Cristiane. Apesar de veterana, muitos ainda a colocam como uma das melhores do país.
Como será o futuro da seleção feminina?
Não é possível afirmar o que acontecerá a curto-prazo, mas é possível trazer certas previsões baseadas no presente. Primeiro, com certeza ocorrerá uma renovação total, já que até mesmo Marta deve estar aposentada na próxima Copa.
Outra grande mudança provavelmente virá fora do campo: a troca da equipe técnica. Isso pode ocorrer já como consequência da eliminação ou se o time continuar com resultados ruins nos próximos eventos. Desse modo, vale a pena ficar atento para saber como a seleção reagirá.