Por Mariana Honesko
A Bíblia narra a história do pequeno Davi vencendo o gigante Golias. A narração descreve a vitória em uma batalha improvável. Na quarta-feira, no Estádio do Mineirão, a história pareceu torta e esquisita. Era para ser o encontro de dois Golias: Brasil e Alemanha, dois gigantes, com oito títulos e seis vice-campeonatos juntos.
Mas, de repente, o Brasil apequenou-se, tornou-se um Davi, mas que, ao contrário da história bíblica, sucumbiu ao gigante germânico. Com 30 minutos de jogo, o placar de cinco a zero gerava incredulidade em todo o país.
Aguardava-se um jogo equilibrado, talvez uma prorrogação, quem sabe até uma nervosíssima decisão por pênaltis, no encontro entre dois supercampeões do mundo.
Nada disso ocorreu. Luis Felipe Scolari escalou o time de forma demasiadamente ofensiva, com Bernard no lugar de Neymar e com isto deixou o meio campo brasileiro ainda mais vulnerável. O que se viu foi um passeio alemão, buracos imensos no setor defensivo e no meio campo do Brasil, competentemente preenchidos pela equipe de Joachim Low. Um “super apagão”, de seis minutos, em que a Seleção tomou quatro gols, fez o Brasil esquecer a tão sonhada final.
Foi a pior derrota da Seleção Brasileira em todas as 20 Copas que ela participou. A maior goleada em uma semifinal de Copa do Mundo e a maior, ainda, sofrida por um país anfitrião desde a primeira Copa, na época, realizada no Uruguai em 1930.
O primeiro tempo parecia um treino entre uma seleção de ponta contra um time amador, com uma equipe de pouquíssima expressão. Ainda, como se não bastasse, com o gol marcado já no início do primeiro tempo, o atacante Miroslav Klose alcançou seu 16º gol em Copas, superando o brasileiro Ronaldo Nazário e tornando-se o maior artilheiro de todas as Copas.
A Alemanha parece ter tido piedade do Brasil e diminuiu o ritmo no segundo tempo. O resultado esmagador constrangia. O time veio completo, com forte defesa e segura pela eficiência do goleiro, Manuel Neuer, que nas poucas vezes que foi exigido pelo ataque brasileiro, novamente foi uma muralha. O meio de campo apresentou toque refinado, regido por Thomas Müller e Schweinsteiger. No ataque, Klose e Ozil, que dificilmente desperdiçam oportunidades. O conjunto é completo e dificilmente será batido nesta Copa.
Preparação
A vitória não foi por acaso. A Alemanha prepara uma equipe forte desde a Copa de 2006, sediada por ela. Naquele ano, com uma seleção renovada treinada pelo ex-atacante, Jurgen Klismann, a seleção fez boa campanha, mas foi eliminada na semifinal perdendo por 2 a 0 da então campeã Itália. Em 2010, já com o time amadurecido, outra decepção: a eliminação na Copa da África do Sul, frente a Espanha de Iniesta e Cassilas, no auge do “tic-tac” , consagrado pelos ibéricos naquele ano.
Neste ano, porém, parecem ter chegado ao máximo da eficiência. Mesmo com uma campanha apenas razoável (empate com Gana, vitória apenas na prorrogação contra a Argélia), quando começou a encontrar gigantes, ela mesma agigantou-se. Primeiro derrubou a forte França de Benzemá e do técnico Dechamps e por último atropelou os penta campeões.
Ao Brasil resta o jogo irrelevante do terceiro lugar, um autêntico anticlímax, com o perdedor de Holanda e Argentina. Argentina, alias, que por muitos era a escolhida para fazer uma lendária final contra o Brasil. A Alemanha aguarda o adversário da final do dia 13 no Maracanã, que sediará pela segunda vez uma final de Copa do Mundo, privilégio somente dividido pelo Estádio Olímpico de Roma, palco das finais de 1934 e 1990, e o Estádio Azteca da Cidade do México, que sediou as finais dos Mundiais de 1970 e 1986.
Seja a Holanda de Robben e Van Persie, seja a Argentina de Messi, quem carimbar o passaporte para o Maracanã não terá vida fácil contra a organizada, disciplinada e matadora Alemanha, aquela que mandou embora os donos da própria festa.