Clubhouse, nova rede social, ganha espaço com ideia de ‘exclusividade’

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Atualizado há 4 anos

Depois de Instagram, Twitter, WhatsApp e TikTok, uma nova rede social começa a fazer barulho – literalmente. Desde janeiro, o Clubhouse, uma rede social de áudios ao vivo, parece ter virado a nova fronteira de curiosidade e de conexões na internet. Em uma era em que muitos dispensam mensagens de áudio no WhatsApp e em que a oferta de podcasts é abundante, ainda há muitas dúvidas sobre como o Clubhouse conseguiu atingir o status de nova vedete das redes sociais.

O funcionamento do novo serviço nada contra tudo aquilo que se costuma imaginar de uma rede social. Ao contrário de outros nomes do segmento, que são movidos por imagens, vídeos e textos, toda interação no Clubhouse é por áudio.

Não apenas isso: assim como acontece no Snapchat e nos Stories do Instagram, os conteúdos desaparecem depois de um período – nada fica para o registro posterior.

O que é dito por lá é ouvido apenas por quem estava presente no momento. É uma mistura de salas de bate-papo dos primórdios da internet com as boas e velhas rádios.

Além da peculiaridade no formato, o que parece estar alimentando o barulho em torno do Clubhouse é a aura de exclusividade do serviço.

Para entrar na rede social é preciso receber um convite de um usuário já cadastrado. E, ao menos por enquanto, o aplicativo é exclusivo para iPhone e iPad, o que transforma a rede social em um clube de VIPs – a Apple tinha apenas 11,8% no mercado global no terceiro trimestre de 2020, segundo a consultoria IDC.

O diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro (ITS-Rio), Carlos Affonso de Souza, enxerga similaridades com o que ocorreu com o Instagram até 2012, quando a rede social de fotos era exclusiva para iPhone.

“Existe um gostinho de exclusividade somado ao pioneirismo de desbravar aquele território”, explica. “As pessoas têm interesse em entrar nem tanto para se tornarem usuárias intensivas, mas para dizer que estão lá e que chegaram primeiro”, diz ele.

Para Edney Souza, diretor acadêmico da Digital House no Brasil, a corrida para entrar no Clubhouse também pode ser motivada pela ansiedade de ficar de fora de algo extremamente novo – é o que se chama em inglês de (na sigla, Fomo).

Segundo ele, não é algo que afeta a todos, mas é mais comum em quem é criador de conteúdo, está ligado a marcas e usa redes sociais para impulsionar o próprio negócio. “Quem entra primeiro em uma rede social consegue colonizar o espaço e tem vantagem competitiva”, aponta.

A julgar por quem já está dentro, a taxa de Fomo da base do Clubhouse é alta: são criadores de conteúdo, empresários, empreendedores, palestrantes e especialistas em diferentes áreas. Há muitas salas (onde reúnem-se os palestrantes e ouvintes) criadas com o intuito de falar sobre empreendedorismo e inovação, fazendo o Clubhouse parecer uma espécie de LinkedIn por voz.

Faz sentido que seja assim: quem jogou holofotes na rede social foi o bilionário Elon Musk, quando tirou alguns minutos de um domingo no final de janeiro para usar o serviço.

Depois dele, Mark Zuckerberg, do Facebook, também fez uma aparição, o que reforçou a ideia de clubinho do Vale do Silício do serviço – desde o ano passado executivos de empresas de tecnologia e investidores do setor já frequentam o espaço.

“Por causa do efeito Musk, há essa conexão com empreendedorismo e startups, mas já há políticos e artistas entrando para fazer outro tipo de conteúdo”, explica Souza.

Para Mariana Dias, presidente da startup brasileira Gupy, o Clubhouse preenche um vazio deixado pela pandemia, que é o networking informal entre empreendedores. “A plataforma replica o comportamento de mesa redonda que a gente tinha com frequência nos escritórios e bares, mas que a pandemia tornou difícil”, diz.

Além disso, ela é atraída pela ideia de descontração, sem a formalidade digital. “Existe um nível de informalidade no Clubhouse, mas há também o aprofundamento de conteúdo.”

Eduardo L’Hotellier, presidente executivo da Get Ninjas e membro da comunidade desde 5 de fevereiro, concorda. “Existe toda essa questão da etiqueta digital, que é o fundo organizado, o cabelo penteado. E o Clubhouse tira isso”, afirma.

O empresário acrescenta que, além do uso mais “sério” para trabalho, ele não vê a hora de usar a rede para assuntos de diversão. “Estou esperando uma nova série para entrar em grupos de discussão, como eu faria com Game of Thrones.”

A tendência é ver mais salas sendo criadas para discutir tópicos diversos. O brasileiro Fabio Pinho, que trabalha com hotelaria nos Estados Unidos, é um dos usuários que usam o Clubhouse “somente” para se divertir, sem objetivos profissionais.

Em novembro, quando foi aceito para a rede social, criou com uma amiga o clube Café Português, onde membros de línguas lusófonas podem se encontrar e criar salas com fins diversos, como para fazer intercâmbio cultural com outros países ou ensinar línguas estrangeiras para quem quer aprender.

“Não visito o Brasil há dois anos, e o Clubhouse é uma válvula de escape. É divertido”, afirma Pinho, que usa o app diariamente e não tem intenção de ganhar dinheiro com a rede social. “Eu faço esse uso mais social para trocas culturais. Até participo de alguns clubes que falam de hotelaria, mas é só por curiosidade, e não por interação de trabalho.”

Para ele, os principais pontos positivos da rede social são os recursos de voz e a possibilidade de interação ao vivo. Prova disso são os casos em que usuários criam salas para comentar programas de televisão ao vivo, como a atual edição do Big Brother Brasil: “Voz é o maior canhão do ser humano na internet atualmente e o entretenimento fica mais forte com essa ferramenta porque o conceito de segunda tela fica evidente.”