Em dia volátil com decisão do Fed, Ibovespa oscila, mas fecha em alta de 0,63%

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Atualizado há 3 anos

Volatilidade resume o comportamento da bolsa brasileira nesta quarta-feira, 15. O Ibovespa espelhou hoje a indecisão dos investidores em relação à decisão de política monetária do Federal Reserve. Se antes do anúncio do banco central americano o índice oscilou entre pequenas altas e baixas, logo depois da decisão chegou a tocar a máxima do dia, para então zerar ganhos e, no fim do pregão, emplacou uma alta modesta, na esteira da animação das bolsas americanas. Com os assuntos domésticos colocados na lateral hoje, o mercado tenta digerir os sinais dados pelo Fed sobre quando se dará o início do aumento de juros na economia americana.

Assim, o Ibovespa fechou hoje em alta de 0,63%, aos 107.431,18 pontos, próximo da máxima do dia, aos 107.603,30 (+0,79%). Na mínima, o índice chegou aos 105.696,96 pontos (-1,00%).

O Fed confirmou hoje que vai acelerar a redução dos estímulos monetários (o tapering) de US$ 20 bilhões para US$ 30 bilhões ao mês e elevou a projeção para os juros nos próximos 3 anos. Em relação ao momento em que se dará o início do processo de alta das taxas de juros em 2022, o presidente do banco central, Jerome Powell, disse que não espera ter de subir os juros antes do prazo atual previsto para encerramento do tapering, em março. Mas deixou claro que ainda não há decisão sobre o período entre fim dos injeção monetária e alta dos juros e avisou que é necessário elevar as taxas antes de atingir o pleno emprego.

Além disso, ele indicou que a frequência de elevações de juros (prevista pelos dirigentes do Fed em 3 alta em 2022) pode mudar se o Produto Interno Bruto (PIB) se enfraquecer.

Com os sinais trocados, o investidor oscilou entre o positivo e o negativo, ora sob o receio dos efeitos que o tapering e a alta dos juros podem ter sobre os investimentos em países emergentes, ora respondendo ao ânimo nas bolsas americanas. Ainda que o tom seja mais otimista sobre a recuperação da economia dos EUA, a sinalização de Powell de que o Fed pode pôr o pé no freio no aperto monetário se a atividade esfriar muito agradou o mercado. S&P 500 fechou o dia em alta de 1,63%, enquanto Dow Jones e Nasdaq tiveram avanços de 1,08% e 2,15%.

“Os Estados Unidos estão nessa posição de ter uma economia crescendo e possibilitando você subir juros, ao contrário de outras regiões fortes, como a Europa”, explica Gustavo Cruz, economista e estrategista da RB Investimentos.

Contudo, os investidores sabem que, ao reduzir os estímulos nos EUA, o banco central americano enxuga liquidez no mundo. E, ao subir os juros, pode causar uma fuga de capital de locais com maior risco, em países emergentes, para investimentos mais seguros no país americano.

“O recado do Fed é: vou diminuir minha liquidez e o mundo inteiro vai ter de ajustar isso em 2022. E ao mesmo tempo vou subir juros”, aponta Rodrigo Franchini, sócio da Monte Bravo Investimentos, completando: “O Fed criou (com o programa de estímulo) um fluxo de liquidez que foi para a bolsa americana e emergentes. Quando tem a diminuição desse programa, então não teremos mais US$ 1,5 trilhão no ano que vem de liquidez no mercado. Vou ter dólar mais forte e menos dinheiro rodando na economia, menos dinheiro de risco”.

Com uma notícia de tanto peso lá fora e um noticiário doméstico morno, a decisão do Fed capitaneou o comportamento dos investidores hoje. Aqui, os destaques do dia foram o Índice de Atividade (IBC-Br) medido pelo Banco Central, que mostrou a quarta queda consecutiva, de 0,40% (em linha com as expectativas) e, na seara política, a aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) dos Precatórios em segundo turno na Câmara, por 322 a 141. Além disso, o presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, Davi Alcolumbre, prometeu pautar a reforma tributária após o recesso, em fevereiro.

Todas essas notícias, no entanto, tiveram impacto lateral hoje. “Com a dificuldade do investidor de entender o que pode ser visto de positivo para bolsa, que é quase nada, fica-se à mercê da exposição global”, disse Franchini, da MonteBravo.

Para ele, há um problema de permanência do investidor na bolsa brasileira, o que é agravado, nesse momento, pelo nível alto dos juros aqui, em razão da inflação elevada. Assim, com o investidor tentado a ir para a renda fixa e com uma tendência de sair em momentos de estresse, a bolsa aqui acaba bem mais volátil do que lá fora. “Aqui tem um exagero de volatilidade porque nossa bolsa tem essa dificuldade de permanência. E a bolsa fica esquizofrênica. Você tem uma notícia positiva e pensa ‘agora vai’. Mas qualquer notícia ruim assusta o investidor. É muita volatilidade”, diz.

Com a alta de hoje, o Ibovespa quase zera a alta na semana e recua 0,30%. No ano, avança 5,41%.

O mercado doméstico de câmbio recebeu com uma boa dose de tranquilidade a já esperada decisão do Federal Reserve de acelerar a redução da compra mensal de títulos (tapering), acompanhada das projeções de integrantes do BC americano de três altas da taxa básica de juros nos EUA em 2022. O tom mais duro da instituição foi temperado com a ponderação de que a execução desse plano de voo depende dos desdobramentos da pandemia do novo coronavírus, que pode assumir nova dinâmica com o espalhamento da variante ômicron.

O dólar chegou ensaiar uma alta mais forte assim que o Fed divulgou seu comunicado, correndo até a máxima de R$ 5,7357, em sintonia com a aceleração da moeda americana no exterior. Logo em seguida, o movimento altista perdeu fôlego e o dólar voltou a ser negociado abaixo da linha de R$ 5,72.

Lá fora, depois de um repique pontual na esteira da decisão do Fed, o índice DXY – que mede o desempenho da moeda americana frente a seis moedas fortes – passou a operar em queda, em meio a declarações do presidente do BC americano, Jerome Powell, em entrevista coletiva. As moedas emergentes ganharam fôlego, com o peso mexicano e o rand sul-africano passando a exibir ganhos.

Assim, o dólar à vista desacelerou por aqui e passou a trafegar na faixa de R$ 5,70. No fim da sessão era cotado a R$ 5,7080, em alta de 0,25%. Vale ressaltar que o dólar futuro para janeiro trocou de sinal após o fechamento do mercado à vista e encerrou cotado a R$ 5,7010 (-0,03%).

Como esperado, o Fed anunciou que vai acelerar o ritmo do tapering, com a redução da compra mensal de bônus de US$ 15 bilhões para US$ 30 bilhões e perspectiva de encerramento do programa em março de 2022. A maioria dos dirigentes da instituição vê juro básico – hoje na faixa de 0% a 0,25% – entre 075% e 1% no ano que vem. Dois integrantes vão além e projetam Fed Funds entre 1% e 1,2% em 2022.

Em sua coletiva, Powell reiterou que não haverá alta de juros antes do fim do tapering e que também não há decisão sobre o intervalo entre os dois eventos. O presidente do BC americano ressaltou que há muita incerteza em relação aos impactos da variante ômicron. Ao comentar as projeções dos integrantes do Fed para o rumo da política monetária, contida no famoso “gráfico de pontos”, Powell disse que a mediana das estimativas é de três altas de juros em 2022, mas que isso pode mudar se PIB se enfraquecer. “Vamos terminar o tapering em março e subir juro quando virmos que for necessário”, disse Powell, ressaltando que pode esperar para aumentar a taxa de juros de acordo com a evolução da economia.

O economista-chefe da JF Trust, Eduardo Velho, chama a atenção para o fato de Powell ter dados sinais de que, caso as condições financeiras piorem, poderá voltar a ter uma postura mais acomodatícia. “Implicitamente, ele sinalizou que vai dar suporte e liquidez ao mercado se for preciso, enquanto espera que a inflação desacelere. Isso animou as bolsas e tirou um pouco de força do dólar no exterior”, diz Velho, ressaltando que a estratégia do BC americano é mais arriscada, já que a inflação pode não dar trégua tão cedo. “O Fed pode ter que mudar a comunicação no primeiro trimestre, gerando um impacto negativo nos mercados”.

O estrategista da Davos Investimentos, Mauro Morelli, observa que o mercado já trabalhava com a estimativa de três altas dos juros nos Estados Unidos no ano que vem e que, por isso, não houve surpresa diante das previsões dos integrantes do Fed. “Tanto que a reação dos Treasuries foi muito marginal e o mercado acionário teve comportamento bem positivo. Isso mostra que Powell tem conseguido transmitir com tranquilidade seus próximos passos”, afirma Morelli, que vê alta uma elevação dos juros nos EUA muito provavelmente no início segundo semestre, o que vai afetar os ativos emergentes. “O Brasil, nesse cenário, pode sofrer um pouco mais, principalmente a moeda”.

O real poderia ter apanhado ainda mais nesta quarta-feira não fosse a atuação do BC, que abriu espaço até para uma queda pontual da moeda americana pela manhã. O BC vendeu hoje US$ 950 milhões em leilão à vista e promoveu a rolagem de US$ 750 milhões em contratos de swaps cambiais que vencem em fevereiro. Houve também a colocação de US$ 700 milhões em swaps para suprir o overhedge dos bancos. De sexta-feira para cá, foram três leilões de venda a vista, que somaram US$ US$ 2,542 bilhões, e um de leilão de linha de US$ 500 milhões, além das ofertas de swap.

O economista-chefe da Frente Corretora, Fabrizio Velonni, nota que o fluxo de recursos para o Brasil já tem se reduzido, o que acaba pressionando a taxa de câmbio. Ele ressalta o fato de a agência de classificação de risco Fitch ter colocado ontem o rating brasileiro em perspectiva negativa, pretextando deterioração das condições fiscais. “A decisão do Fed já era esperada. A tendência é do real permanecer desvalorizado e sofrer mais ao longo em 2022, por conta das eleições”, afirma.

A espera pelos eventos do Federal Reserve deu o tom aos mercados durante todo o dia, mas pegou o segmento de juros com a sessão regular já encerrada. Na estendida, as taxas passaram por volatilidade, mas acabaram fechando com viés de baixa ante a jornada regular. Enquanto o comunicado da decisão veio dentro do esperado, as declarações do presidente do Fed, Jerome Powell, foram consideradas mais amenas em relação à política monetária ante seus discursos recentes. Internamente, os dados macroeconômicos divulgados logo cedo vieram dentro do esperado e não chegaram a mexer com os preços.

O Fed acelerou o ritmo do tapering, reduzindo o ritmo de compra de ativos em US$ 30 bilhões, e indicou antecipação do aperto de juros nos Estados Unidos para o primeiro semestre de 2022. Manteve, como previsto, os juros na faixa de zero a 0,25%.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2023 fechou a 11,55% (regular) e 11,545% (estendida), de 11,479% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2025 subiu de 10,462% para 10,54% (regular) e 10,495% (estendida). A do DI para janeiro de 2027 encerrou a 10,39% (regular) e 10,37% (estendida), de 10,361%.

Antes do Fed, o compasso de espera pelo banco central americano que pressionou o câmbio também fez subirem as taxas futuras, mas o movimento perdeu força na última hora da sessão regular, coincidindo com a acomodação do rendimento da T-Note de dez anos em torno da estabilidade.

O comunicado indicou três altas para o juro americano em 2022, com elevação nas medianas para as taxas de 2022, 2023 e 2024. “Nenhuma grande novidade. Já era esperado que dobrassem o compasso do programa de compra de ativos e sem alteração na taxa de juros”, afirma Camila Abdelmalack, economista-chefe da Veedha Investimentos. Segundo ela, também já estava nas contas a antecipação do fim do tapering para março, confirmada pelo aumento do ritmo de recompra de bônus, “abrindo espaço para alta de juro no segundo trimestre”.

Na sessão estendida, as taxas chegaram a ampliar levemente o avanço, mas depois inverteram o sinal na medida que se desenrolava a entrevista de Powell. “Ele foi bem parcimonioso no discurso, não adotou tom tão hawkish como o mercado estava esperando e indicou que não enxerga, pelo menos nesse momento, possibilidade de subir juros antes de acabar o programa de compra de ativos”, afirma Abdelmalack. Powell afirmou ainda que poderá haver alteração na mediana de 3 altas de juros em 2022, “se o PIB enfraquecer”.

De todo modo, o início do processo de aperto monetário nas economias centrais vai afetar em maior ou menor grau as economias emergentes, ainda que estas estejam com taxas de juros mais atrativas ao capital externo.

“A nossa visão para o ano que vem é de um mundo desafiador para emergentes”, previu o chefe de Economia no Brasil e Estratégia para América Latina do Bank of America (BofA), David Beker, citando a redução da liquidez global e a desaceleração da economia mundial.