Após 108 dias família finalmente faz enterro de vítima de incêndio

Exame de DNA foi liberado na tarde de terça-feira, 24, após repercussão de reportagem do Portal Vvale

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Atualizado há 6 anos

Depois de 108 dias e algumas horas, finalmente a família conseguiu sepultar vítima do incêndio de 8 de abril. (Foto: Jair Nunes).
Depois de 108 dias e algumas horas, finalmente a família conseguiu sepultar vítima do incêndio de 8 de abril. (Foto: Jair Nunes).

Quarta-feira, 25, 15h30, Capela Mortuária do Cemitério Jardim da Saudade, na zona sul de União da Vitória. Após 108 dias de angústia e desespero, o carro do serviço funeral chega com o caixão com o corpo da senhora Irene Kapica, morta no dia 08 de abril em um incêndio de grandes proporções que destruiu sua casa na Rua Camarista João Clausen, no Bairro São Francisco, em Porto União.

Um misto de comoção, tristeza e revolta tomava conta da pequena capela, onde a urna funerária foi colocada para o último adeus da família e dos amigos de dona Irene. O sofrimento se prolongou até por volta de 17h, quando o corpo foi levado para Cruz Machado (PR), onde finalmente será sepultado hoje, 26.

Reportagem acelera DNA

A reportagem do Portal Vvale, procurou no último dia 19, o médico legista Pedro Robert Júnior, coordenador do Instituto Geral de Perícias de Porto União (SC), para falar sobre o caso. Conforme o médico, o corpo não foi identificado logo após a morte de Irene por estar totalmente carbonizado. Ele contou que foi solicitado um DNA no Laboratório de Análises em Florianópolis, credenciado pelo Estado para fazer esse tipo de serviço para o governo do Estado.

O médico informou que o laboratório não forneceu uma data exata para emitir os resultados do exame de DNA. Como é o único laboratório de todo o Estado para tal fim, o IML local concluiu que havia sobrecarga de trabalho, o que teoricamente justificaria tamanho atraso e constrangimento à família. Para alívio da família martirizada pela demora da liberação do exame de DNA, o exame finalmente foi liberado na segunda-feira, 23, e chegou ao IML local na terça-feira, 24. A notícia da demora na liberação do documento, causou perplexidade na comunidade e a reflexão que o IGP e, por consequência, o IML de Porto União, precisam de mais atenção.

Familiares de Irene disseram que procuraram o Ministério Público de Porto União (MP-SC), mas que foram alertados que a burocracia poderia produzir pelo menos mais 30 dias de espera. Após a publicação da reportagem, os trâmites ganharam agilidade e o exame com a confirmação da identidade da vítima foi encaminhado para Porto União.

Revolta

Representantes da família contaram à reportagem que estudam processar o Estado pelos danos morais causados à família de Irene. “Chegaram a escrever em redes sociais que enterramos ela [a vítima] escondidos de todo mundo. Foi uma espera sofrida que mexeu com a vida de todos nós”, disse uma pessoa da família que preferiu não se identificar.

A explicação de que existe um único laboratório que faz exames de DNA para o Estado não convenceu a família, que esperava mais eficiência nesse tipo de caso. “No Paraná, houve o caso do senhor que morreu queimado em seu prédio e o corpo foi reconhecido e liberado na mesma noite. O caso dos pilotos e do deputado que morreram em um lugar distante, também foram liberados imediatamente, e nós penando 108 dias para liberar o corpo da nossa Irene”, lamentou um familiar que estava no velório.

Em busca de respostas

O calvário da família está longe do fim. De acordo com pessoas da família, faltam respostas sobre o incêndio. De acordo com a fonte que falou à reportagem de O Comércio, a família não teve acesso ao laudo que aponta as causas do incêndio. “Disseram que foi problema elétrico, mas nós não fomos notificados. Precisamos ter acesso ao inquérito policial para ter certeza de como foi o incêndio”, disse o familiar.

A família levanta suspeitas. Conforme as suposições dos familiares, a vítima era acostumada a guardar somas consideráveis de dinheiro em espécie em casa. Uma mancha no assoalho de tacos também gerou suspeita de que algum líquido inflamável possa ter sido jogado de propósito no local. Após o sepultamento de Irene a família disse que vai até as autoridades para se informar sobre o inquérito e as causas do sinistro.

Relembre o caso

No dia 8 de abril, caminhões de combate a incêndio do Corpo de Bombeiros de Porto União atenderam um grande incêndio na Rua Camarista João Clausen, no Bairro São Francisco. A ocorrência foi registrada por volta de 18h10. Conforme relatos de moradores do local, o fogo começou nos fundos de uma casa  mas se espalhou rapidamente. Na casa de alvenaria foi preciso muito trabalho do Corpo de Bombeiros de Porto União. Ainda assim, o incêndio destruiu toda a casa, onde residia uma família de cinco pessoas. Uma delas, uma senhora de 56 anos, estava na residência e morreu carbonizada.