Durante 36 anos passei pela vida “vestindo” nosso filho caçula. Por que vestindo? Por que depois de uma negligência médica aos seis meses de idade, ele passou a ser um sobrevivente. Portador de Paralisia Cerebral Severa. Neste vestir eu fui tentando adivinhar seus gostos e desgostos. Alimentação, conforto pessoal, postura, higiene, lazer, descanso, convívio social, informação. Muita conversa, digo monólogos. Sempre num grande silêncio, pois não verbalizava. Investimos numa dedicação de “guerra!” Na esperança de recuperar o dano causado. Estimulação Precoce, Fisioterapias, Terapias Ocupacionais, Fonoterapias, alimentação adequada e outros. Como a resposta foi mínima a todo investimento de anos, concluímos que faríamos tudo que lhe proporcionasse prazer. Nesta busca de oferecer-lhe qualidade de vida encontramos desafios gigantes. Preconceitos, omissões, discriminações, descaso, desrespeito. Quando percebemos que o mundo era focado na beleza, no sucesso, na perfeição, na futilidade; passamos a defendê-lo com “unhas e dentes.” Desta forma ele sentiu o quanto era amado por nós seus pais, irmãs, eventualmente uma tia uma vovó e poucos, mas verdadeiros amigos! Também profissionais que nos ajudaram nesta caminhada. Um dos requisitos para contratação dos mesmos era que deveriam tratá-lo com dignidade e respeito, jamais piedade. Tenho a certeza que por tudo isso ele passou por aqui com um sorriso nos lábios e nos olhos cor de mel esverdeado. Passamos chamar-lhe de FELIZ! Quando chegou o momento de sua partida ele estava com as pessoas que o amaram, pois sempre que possível se fizeram presente. Levando atenção, amor e alegria em sua vida! Interessante como fomos cuidados. Não precisamos passar pelo “desfile da dor!” Sem lágrimas de remorsos, sem falsas condolências, Nosso anjo descansou de seus limites… Tenho certeza que está Livre Feliz e em Paz!
Tânia M. Ruski