6h30. Uma quinta-feira, 15 de agosto. Cesar Gomes de Paula estava na varanda de sua casa, em um bairro de União da Vitória, fumando um cigarro e tomando uma xícara de café, quando percebeu que estava sendo observado. César entrou em casa, mas em poucos instantes oito agentes do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO) levaram ao chão a porta de sua casa.
“Sai daí vagabundo, cadê a arma? Era assim que eles estavam falando, como se eu fosse um criminoso”, conta o Agente Penitenciário, César Gomes.
Os agentes estavam cumprindo um mandado de busca e apreensão de posse ilegal de arma. De acordo com Gomes a ação dos agentes se deve a uma denúncia, desconhecida até o momento. A arma, um 38, estava com o registro vencido, mas escondida dentro do guarda roupas de Cesar Gomes.
“A arma está no meu nome, e eu só não podia andar na rua com a arma. Não estava de posse dela na hora do cumprimento do mandato”, disse o Agente Penitenciário.
Simultâneo a busca e apreensão na casa, outros agentes do GAECO também revistaram a casa dos pais e da irmã de César. “Na minha casa foram oito agentes, já na casa da minha irmã mais nove e do meu pai mais seis agentes.”
O pai de Cesar é aposentado da Polícia Militar de Santa Catarina e sua irmã também exerce a função de Agente Penitenciária.
Mas, durante a busca na residência de César, cápsulas de remédios manipulados foram encontradas. A partir daí, toda a situação do caso mudou. Os agentes então cogitaram a possibilidade de tráfico de drogas. “Eles acharam os meus remédios e abriram a pílula. Um dos agentes colocou o pó que estava dentro da cápsula na língua e amorteceu, daí começaram a falar que eu estava traficando, que aquilo era coca”, contou César.
O Agente continua. “Nunca me pegaram com droga. Sou uma pessoa limpa, e ficou uma situação ruim, foi sacanagem o que fizeram e o que ficaram falando por aí”, desabafou.
César foi levado, junto de seu pai e irmã, para à Delegacia de Porto União para os trâmites legais do caso. Segundo o diretor da Unidade Prisional Avançada (UPA) de Porto União, Victor Rafael Ribeiro, quando os agentes do GAECO chegaram à Delegacia também queriam prender o pai de César, por estar com algemas, arma e também colete à prova de bala em casa, mas o Delegado em exercício não permitiu, por ser um ex-policial militar, aposentado pela Comarca e também pela falta de provas.
12 dias de cadeia
“Fiquei preso por 12 dias, até que ontem (terça-feira, 27) o juiz que está cuidando da minha situação me deixou sair. Agora estou à disposição”, disse César.
O Carcerário ficou detido todo esse tempo, pois no dia de sua prisão os policias do GAECO realizam um teste para reconhecer se o pó que estava dentro das pílulas era de cocaína ou apenas remédio, mas a reação do produto deu positiva. César foi solto após testes minuciosos realizados com seus remédios, sendo provado que não era droga.
Manipulação
Remédios para depressão e vias urinárias. Estes foram os responsáveis pela prisão de César. “Os meus medicamentos têm como princípio ativo o Tadalafil”, completou o Agente.
Em contato com a Farmácia responsável pela manipulação dos medicamentos de César, foi confirmada a existência de um cadastro em nome do Agente Penitenciário, mas não informaram os nomes dos remédios em questão.
Caso
César Gomes de Paula está solto, mas seu caso ainda continua em investigação sigilosa, segundo o Ministério Público de Santa Catarina. Em um documento fornecido pelo Poder Judiciário do Estado, emitido do gabinete do Juiz Tanit Adrian Perozzo Daltoé, César será investigado apenas pela posse irregular de arma de fogo, a questão de tráfico de drogas foi descartada.
“Observo que inexistem nestes e nos autos principais do processo elementos a indicar a prática do crime de tráfico de drogas. Assim remanescem apenas indícios de que o requerente tenha praticado o crime descrito no art. 12 da Lei nº 10.826/03.”
“Nesse caso específico, o Juiz vai cogitar a possibilidade de porte ilegal de arma, se homologado ele (César) pode pegar de 1 à 3 anos de reclusão que pode ser substituída por uma pena não privativa de liberdade”, finalizou Victor.