Mudanças na ortografia da Língua Portuguesa foram prorrogadas para 2015

O prazo de adequação dos brasileiros que terminaria em 31 de dezembro foi alterado. O adiamento reacende o debate sobre as regras ortográficas

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Atualizado há 12 anos

Fahena Porto Horbatiuk

A mestre em linguística em União da Vitória, professora Fahena Porto Horbatiuk, não concorda com a ampliação do prazo de adequação dos brasileiros ao novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. O prazo, que deveria encerrar em 31 de dezembro deste ano, passou para 31 de dezembro de 2015. A mestre acredita que quando se instituiu algo deveria ser mantido. No entanto, admite que a ampliação do prazo irá deixar os brasileiros mais seguros quanto as regras impostas. Até lá, acredita-se que as mudanças na ortografia da Língua Portuguesa estejam na ‘ponta da língua’.

A professora explica que este tempo a mais para compreensão do Acordo Ortográfico foi concedido porque o acordo em Portugal também se expandiu até 2018. Os portugueses alegaram que para eles as mudanças seriam inúmeras e que necessitam de um prazo maior para adequação. Foi então que a presidente Dilma Rousseff decidiu ampliar o prazo aos brasileiros também.

Novo Acordo
A intenção é fazer com que pouco mais de 200 milhões de pessoas distribuídas em oito países que falam o idioma português – Brasil, Portugal, Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Timor Leste, tenham a escrita unificada, conservando as variadas pronúncias.

A padronização acontece porque o português é a quinta língua mais falada no mundo e apresenta duas grafias oficiais, o que dificulta o estabelecimento da língua como um dos idiomas oficiais da Organização das Nações Unidas (ONU). A ortografia-padrão facilitará o intercâmbio cultural entre os países que falam o Português.

Mudanças geram polêmica
A mestre em linguística afirma que por se tratar de um assunto que atinge toda a comunidade, gera polêmicas e debates, mesmo se tratando de mudanças suaves. Calcula-se que 1,6% do vocabulário de Portugal seja modificado. No Brasil, a mudança será bem menor, em torno de 0,45% das palavras terão a escrita alterada. “Vale acrescentar que as mudanças serão apenas na ortografia, as pronúncias típicas de cada país permanecerão”, disse Fahena.

Do ponto de vista da educadora, a mudança deveria ser mais radical. Ela acredita que um grupo de linguistas tem o dever de se reunir e discutir mudanças na ortografia fonológica (estudo dos fonemas). Pois, prioriza-se apenas a ortografia etimológica (parte da gramática que trata da origem e formação das palavras). Se houvessem mudanças na ortografia fonológica a palavra CASA, por exemplo, escrever-se-ia KASA. Pois o C tem o som de K e, portanto a escrita seria conforme a pronuncia dos fonemas.

O que muda na ortografia
– As paroxítonas terminadas em “o” duplo não terão mais acento circunflexo. Exemplo, abençôo = abençoo;
– Mudam-se as normas para o uso do hífen;
– Não se usará mais o acento circunflexo nas terceiras pessoas do plural do presente do indicativo ou do subjuntivo dos verbos. Exemplo, creem;
– Criação de alguns casos de dupla grafia para fazer diferenciação, como o uso do acento agudo na primeira pessoa do plural do pretérito perfeito dos verbos da primeira conjugação, tais como louvamos em oposição a louvamos;
– O trema desaparece completamente;
– O alfabeto deixa de ter 23 letras para ter 26, com a incorporação de K, W E Y;
– O acento deixará de ser usado para diferenciar “pára” (verbo) de “para” (preposição);
– Haverá eliminação do acento agudo nos ditongos abertos “ei” e “oi” de palavras paroxítonas. O certo será assembleia, ideia, heroica e jiboia.