De Alberto e Luiza para Horst Waldraff

Horst Waldraff. Foto: Ricardo Silveira

A seguir, uma história protagonizada  pela família Waldraff

 

Para eles, que já leram inúmeras notícias de sua cidade e região, hoje é dia conferir a narrativa da sua própria história. Fãs da mídia impressa, para eles O Comércio representa história, memória e geração. Há quase 90 anos, a família aguarda ansiosa pela chegada do jornal; são seus fiéis leitores.

 

Primeiros assinantes

 

A fotografia em preto e branco (abaixo) é um tesouro para o empresário Horst Adelberto Waldraff. A imagem ainda mantém viva a presença de seus pais, Alberto e Luiza. Foi com ambos que o conhecido Seu Horst, ou simplesmente Alemão (como carinhosamente é chamado pelos íntimos), aprendeu a mais pura essência do significado de trabalho, responsabilidade e honestidade. Ao lado do irmão Ralf (in memorian) – proprietário da extinta Relojoaria Pingo de Ouro –, construíram suas vidas no Vale do Iguaçu. Foi também com Alberto e Luiza que os filhos herdaram o gosto pela leitura e foram apresentados ao Jornal O Comércio.

 

Ao centro, Alberto e Luiza no dia do casamento e convidados. Foto é guardada com carinho pelo filho Horst. Foto: Arquivo Pessoal

 

Os pais de Horst foram os primeiros assinantes do jornal. Em 1920, depois da participação de Alberto durante a Primeira Guerra Mundial, sua família veio para o Brasil na tentativa de melhores condições econômicas. Luiza também havia deixado o País e estabeleceu residência em Blumenau (SC). “Meus pais eram jovens e se conheceram em Blumenau. Já em 1925, se casaram e vieram para União da Vitória. Meu irmão e eu nascemos aqui no Vale do Iguaçu”.

 

O primeiro empreendimento da família foi uma leiteria, perto da Rede Ferroviária de União da Vitória. “Eles tinham umas 40 vacas. Porém, nesse período, veio a Revolução de 1930, cujo principal protagonista foi Getúlio Vargas, então presidente. Porém, quando o presidente veio a União e ficou hospedado aqui, naquela ocasião, as ‘vacas’ da leiteria viraram churrasco para os hospedes de Getúlio. A senhora minha mãe foi até o presidente para cobrá-lo financeiramente e ele disse: ‘sem colaboração não há revolução’”, recorda Horst.

 

Segundo ele, naquela época, os descendentes de alemães e de italianos eram alvos de perseguição. “Diversos alemães, mesmo não tendo relação alguma com Adolf Hitler e com suas ideologias, sofriam. Meu pai contava que vez ou outra, ele e seus amigos se reuniam para apenas conversar. Isso sempre acontecia em praça pública em União da Vitória. Porém, pelo fato de falarem alemão, já bastava. Certa vez, na frente do extinto Cine Odeon, estavam eles e bateu a polícia. Foram presos e transferidos em um caminhão de gado para Joinville (SC)”. Inclusive, durante o ensino regular, Horst chegou a mudar de nome na escola. Passou a ser chamado de Adelberto Waldraff, para evitar perseguição.

 

“O Comércio é um baluarte”

 

Horst aprendeu com o pai o gosto pela leitura de jornais. Desde que vieram morar em União da Vitória, a família sempre dedicou algumas horas para a informação. Tempos depois, com o nascimento de O Comércio, ficou mais fácil saber o que acontecia em Porto União e União da Vitória. “Meu pai não sabia ler em português, somente em alemão. Então, minha mãe fazia as leituras para ele, página por página”, diz.

 

Das lembranças de infância, conta que o pai levou um tiro no pulmão, ainda na Alemanha, e que a mãe foi a primeira protética que veio para o Brasil, isso em 1925, juntamente com a família Neumann. Também, recorda que O Comércio foi o seu principal instrumento de informação por décadas. “O Comércio é um baluarte na região”.

 

Anos mais tarde, o pai de Horst foi um dos primeiros moradores do Vale do Iguaçu a comprar uma televisão. “Mesmo assim, o jornal nunca ficou de lado. Sempre informou e ainda informa a família”.

 

Do menino que cortava grama à empreendedor

 

Nascido em 14 de dezembro de 1936, e próximo de comemorar os seus 85 anos, Horst tem uma memória implacável e um imenso amor pelo Vale do Iguaçu.

 

Foto: Ricardo Silveira

 

Na época, o menino ainda sonhador, sempre ajudou os seus pais. “Eu vendia e cortava grama. Eu tinha uns amigos concorrentes, que ficavam do outro lado da rua vendendo os mesmos produtos. Tínhamos a concorrência já naquela época, isso entre 1946 e 1947. Eu também vendia leite e morango. A vida não era fácil. Eu estudava pela manhã e trabalhava a tarde, na maioria das vezes como jardineiro na casa das famílias mais tradicionais”.

 

Horst, aos seis anos de idade, deu início aos estudos no antigo Externato Santa Teresinha. “A mensalidade era alta e, por isso, fui transferido para o Colégio Balduíno Cardoso de Porto União. Mais tarde, fui estudar no Colégio Túlio de França, cujo diretor na época era Cordovan Frederico de Melo”, conta.

 

Na fase adulta, se inscreveu para a Escola de Comércio Davi Carneiro, em União da Vitória, para cursar contabilidade. O diretor na época era o doutor Mansur Guérios. “Para ingressar na escola era necessária uma espécie de vestibular. Eu fiz o teste e não passei. Mas, tive a oportunidade de frequentar o curso como aluno repetente. Ao fim do ano, o doutor Mansur me presentou como um livro a fim de reconhecimento, pois mesmo trabalhando durante o dia, eu não deixei de frequentar as aulas, fui o mais assíduo entre todos. No ano seguinte, fiz o teste. Passei no curso e hoje sou contador de profissão”.

 

Horst confirma que o segredo para o sucesso é trabalhar e estudar. Enquanto empreendedor, iniciou sua carreira na área central de União da Vitória, em uma garagem da família Losa, que hoje abriga o Cine Teatro Luz. “Foi ali, em 1956, que aconteceu a abertura da Comercial Bandeirante. Eu comprava, fazia entrega, era o faz tudo. Já em 1958, quando estava com 20 anos, ingressei na empresa juntamente com mais dois amigos, desta vez como sócio interessado. É claro que eu tinha um capital bem menor do que eles (risos) ”.

 

Conta Horst, que ainda com pouca experiência, fez uma compra para a Comercial Bandeirante que virou estoque no período. “Comprei muita coisa, eram conjuntos de sanitários, banheiros e ferragens. Já instalados na rua Santos Dumont não vendíamos nada, pois em 1958 havia uma grave crise econômica no País”.

 

No entanto, o empreendedor não desistiu. “A construção de Brasília, que ocorreu entre os anos de 1956 e 1960, alavancou as vendas aqui em União da Vitória. A mudança da capital do Brasil, do Rio de Janeiro para o Planalto Central, requereu uma enorme quantidade de recursos financeiros, materiais e humanos. O pessoal de Brasília se socorreu com a Comercial Bandeirante e enviamos todo o material através de uma carreta para São Paulo. Eles limparam o nosso estoque”.

 

Até hoje, seu Horst é o primeiro a chegar na Comercial Bandeirante Materiais de Construção, situada na rua Carlos Cavalcante, área central de União da Vitória. “Zelo pelo patrimônio e pelas famílias que dependem de nós, atualmente mais de 300.  Estamos à disposição para o que der e vier”.

 

Também em uma parceria com a Caixa Econômica Federal, investiu no Conjunto Horst Waldraff I e II, no Distrito de São Cristóvão. São duas mil casas entre as duas cidades, beneficiando mais de três mil pessoas, direta e indiretamente.

 

O empresário já foi agraciado com o título de Cidadão Honorário de Porto União e União da Vitória. Desempenha papel importante junto ao Centro Universitário Vale do Iguaçu (Uniguaçu) que inaugurou recentemente a nova Área de Convivência Horst Waldraff, um espaço criado para o bem-estar dos acadêmicos e contato direto com a natureza, em um ambiente totalmente planejado para a integração de todos. O espaço foi uma homenagem a quem idealizou e acreditou no projeto chamado Uniguaçu. “Um dos meus filhos, o desembargador do Tribunal Regional do Trabalho do Paraná, Célio Waldraff, pensava em trazer o curso de direito à União da Vitória para umas cem pessoas. Hoje a Instituição tem mais de cinco mil alunos. O Célio também é membro da Comissão Mantenedora da Uniguaçu. Foi um ato corajoso dele em tempos difíceis na educação e na economia do País”.

 

Horst sempre esteve amparado pela esposa Úrsula Brauchner Waldraff, falecida em 20 de junho de 2020, em decorrência de um câncer agressivo. Com ela, teve três filhos: Célio (casado com Cristiane), César (casado com Andréa) e Silvana (casada com Eliézer). Formaram os três filhos em cursos superiores, sendo Célio em Direito, César em Engenharia Civil e Silvana em Fonoaudiologia.

 

Ao lado de Úrsula, Horst viveu uma história de amor de 63 anos, sendo seis anos de namoro e mais 57 de casados. Suas maiores riquezas são os cinco netos: Iarima, Gabriella, Henrique, Lara e Lorenza.

 

Imprensa durante a pandemia

 

De acordo com Horst é importante valorizar o trabalho realizado pela imprensa durante a pandemia. “O Jornal O Comércio vem desempenhando um papel importante sobre a Covid-19. A notícia chega até você em primeira mão e sobre a realidade da doença aqui. Eu valorizo muito o trabalho da mídia do interior, assim como valorizo o investimento nas empresas locais, ou seja, comprar e gastar o dinheiro aqui mesmo, nas cidades”, pontua.

 

Segundo o empresário, as mídias têm sido o principal canal de desde que a Organização Mundial da Saúde declarou estado de pandemia do coronavírus. “Mesmo com todas as revoluções tecnológicas, a relação entre quem escreve e quem lê é a mesma. O Comércio é de tirar o chapéu. Uma equipe unida para construir a história nestes 90 anos”, diz.

 

Era da Informação

 

Os jornais e o jornalismo chegaram ao século XX no auge do seu prestígio e popularidade. Para se ter uma ideia do tamanho da indústria dos jornais, pesquisas da época afirmavam que um em cada dois norte-americanos adultos lia jornais uma vez por dia. O período entre 1890 e 1920 é conhecido inclusive como ERA DE OURO DOS JORNAIS.

 

Curiosidades

 

  • 1º jornal impresso no Brasil: A Gazeta do Rio de Janeiro, publicada pela primeira vez em 10 de setembro de 1808 e o Correio Braziliense, cuja data do primeiro número é usualmente apontada como sendo 1º de junho de 1808.

 

  • Inventor do jornal impresso: Johannes Gutenberg, em 1440, na Inglaterra, foi o inventor da imprensa ou jornal propriamente dito.

 

  • 1º jornal impresso do mundo: o alemão Relation aller Fürnemmen und gedenckwürdigen Historien, impresso a partir de 1605 por Johann Carolus em Estrasburgo, é reconhecido como o primeiro jornal da história.

 

 

Voltar para matérias