Editorial
A difícil tarefa de fazer jornalismo profissional, diariamente, ano após ano, é uma escolha, um projeto de vida, talvez até mesmo uma missão. Vivenciar essa rotina profissional nas capitais ou grandes centros do Brasil é desafiador. Se projetarmos essa realidade aqui para o Vale do Iguaçu, se multiplicam os obstáculos, as barreiras, os problemas e o contato próximo com as fontes. Neste junho de 2021, completo meus 22 anos atuando na comunicação local. Talvez, por conta de tudo o que vivemos atualmente, seja o mais importante dos meus aniversários de profissão, o mais marcante com certeza. Desafiador, também. Neste dia 11 de junho, aniversário de 90 anos de O Comércio, impossível não montar um rápido filme na memória, com os momentos e acontecimentos mais importantes de todo esse período vivido dentro da redação, quase a metade dos meus 40 anos de vida.
Como matéria constante na matriz curricular do curso Técnico em Processamento de Dados, realizei estágio em uma gráfica de União da Vitória, permanecendo por mais um período contratado como arte-finalista. Foi ali, naquela função extremamente detalhista, que compreendi que gostava realmente do design gráfico, do layout, das imagens, do perfeccionismo extremo. Notas fiscais diagramadas com diferença de 1 milímetro entre os seus quadros eram prontamente rejeitadas, nem passavam para o processo de impressão. A Gráfica BS foi uma escola muito importante em minha trajetória profissional.
Minha despretensiosa oportunidade de fazer parte da comunicação profissional aconteceu muito cedo. Um desafio enorme para quem havia completado 18 anos, recém-formado na primeira turma do Colégio Técnico de União da Vitória (Coltec). A mãe de um dos meus melhores amigos desde os tempos do Colégio José de Anchieta, Sitamar Brittes Dalmas, sabendo de minha experiência com layout e design gráfico, me fez o convite para fazer parte de um novo projeto da imprensa local. Assim, em agosto de 1999, me tornei diagramador do jornal Tribuna do Sul, veículo de propriedade de O Comércio, criado com o objetivo de tirar das páginas do tradicional jornal semanal as notícias mais chocantes e violentas da cobertura da editoria de segurança pública (policial). O jornal, que circulava semanalmente, toda quarta-feira, também tinha como foco a cobertura esportiva, além de coluna social e política. Assim, durante alguns meses, 31 edições – tempo da existência do Tribuna do Sul –, eu e Gustavo Dalmas diagramávamos, sob a supervisão e ensinamentos de Marcelo Storck (então editor e diagramador de O Comércio), um dos sucessos de venda da imprensa local. Como escola, desde o início, Marcelo me levava para a redação de O Comércio, que ficava no mesmo andar do Edifício Executive Center, para diagramar uma ou duas páginas do jornal. Eram páginas de editais, classificados ou de colunistas fixos, essencialmente as que poderiam ser adiantadas, para não acumular na quinta-feira, deadline frenético da edição que circulava na sexta-feira. Eu ainda não sabia, mas aquela rotina de diagramar o Tribuna do Sul e algumas páginas de O Comércio semanalmente, seria o meu teste, minha apresentação, meu estágio para assumir definitivamente a diagramação de O Comércio meses depois.
E foi assim, me dividindo entre as duas redações, em 1999, que eu descobria a minha verdadeira vocação. Graças ao Coltec, ao estágio na Gráfica, a minha amizade com o Gustavo, ao convite e a confiança da dona Sita, ao nascimento do Tribuna do Sul, aos ensinamentos do Marcelo e as páginas diagramadas de O Comércio surgiu o jornalista Eduardo Carpinski.
A imprensa local sempre realizou um trabalho brilhante, desafiador, de fôlego constante na cobertura diária dos fatos, notícias, acontecimentos e eventos. Naquela época, não se fazia jornalismo on-line, não havia sites locais com notícias, não havia redes sociais. A produção era totalmente offline, as fotos eram resultado da revelação do filme de 12, 24 ou 36 poses, os áudios eram extraídos de fitas K7, pesquisas apenas nas enciclopédias ou no Almanaque Abril. Digital mesmo, tecnologia pura e inalcançável para muitos, apenas os computadores que usávamos para diagramar e editar as edições dos jornais impressos.
Assim como a tecnologia evoluiu rapidamente com o passar dos anos, o profissionalismo na imprensa local também acompanhou esse movimento. A abertura do curso de Comunicação Social – Habilitação em Jornalismo na Fundação Faculdade Municipal da Cidade de União da Vitória (FACE) foi essencial neste processo. Como aluno da primeira turma do curso, percebi o quanto seria importante a profissão pela qual eu já havia me apaixonado anteriormente. Foi assim, dividindo a atenção entre a redação de O Comércio e as salas de aula da Face (hoje Uniuv) que consegui entender a real função jornalismo em nossa sociedade. E foi assim, edição após edição, que me tornei jornalista por formação, um diagramador mais dedicado e detalhista, um profissional melhor.
Nestes anos todos O Comércio mudou de endereço, mudou de formato, teve sua circulação transformada em diária, contou com a colaboração de diversos colunistas, estagiários, jornalistas, colaboradores, recebeu prêmios, evoluiu. Em 2012 foi um dos veículos fundadores do Grupo Verde Vale de Comunicação, junto com a FM Verde Vale, Rádio Difusora União (hoje CBN Vale do Iguaçu) e Portal Vvale. Foram anos intensos, difíceis em vários aspectos, desafiadores no exercício do jornalismo. Registramos em nossas páginas inúmeras notícias boas. Outras, nem tanto. Também noticiamos as piores tragédias e desastres do Vale do Iguaçu.
Após 17 anos e meio dentro da redação, já tendo ocupado cargos de diagramador e editor de O Comércio e editor do Grupo Verde Vale, chegou o momento de me despedir, de aceitar novos desafios, de experimentar outras aventuras relacionadas a comunicação. Um dos piores e mais sofridos sentimentos da minha vida, pois abandonar algo que lutei tanto para construir não era nada fácil. Dizer adeus para o lugar que chamei de casa durante tantos anos e para os colegas com quem convivia, mais até do que com os meus familiares, não seria simples.
Foram quatro anos e meio de novos ares, novas e enriquecedoras experiências profissionais, onde cresci como pessoa e como profissional. Tempo para estudar mais, para aprender mais, para trabalhar mais, experimentar, empreender e arriscar. Todas essas novidades, confesso, não me permiti experimentar nos 17 anos e meio de redação. Foi necessário sair do Grupo para ver o quanto eu poderia ter feito muito mais.
Eis que, da forma mais surpreendente e inesperada possível, quando minha vida profissional jamais programaria nova mudança de rumo, em abril deste ano o diretor geral do Grupo Verde Vale de Comunicação, Caique Agustini, me convidou para retornar ao Grupo. Confesso, não acreditei no início da conversa. Não considerava nem entendia existir espaço para um profissional como eu, dinossauro da comunicação, que deixou o Grupo Verde Vale anos atrás, na nova configuração da redação. Os processos mudaram muito, a equipe se aperfeiçoou, melhorou, evoluiu. A busca diária pela informação precisa, feita com profissionalismo, ética e imparcialidade é o que move diariamente o time.
Meu retorno, como editor-chefe do Grupo Verde Vale de Comunicação, tem significado e missão gigantes. Volto com a tarefa de, perante compromisso público assumido neste dia 11 de junho de 2021, fazer o impossível para manter o Jornal O Comércio em circulação física, pelo menos, até o seu centenário. Será mais uma década de trabalho duro, de cobertura de tudo o que acontece no Vale do Iguaçu, tendo como concorrência, todas as novas formas de comunicação que surgem a cada ano, as facilidades de inovação e tecnologia que afastam cada vez mais os jovens dos meios de comunicação tradicionais. Nosso compromisso é o de levar a informação que realmente faz a diferença no seu dia, registrar a história do Vale do Iguaçu, com uma equipe de profissionais dinâmica e competente.
Agora, como sócio do Jornal O Comércio, não posso esquecer de profissionais que tanto fizeram (e ainda fazem) por esse veículo nos meus 18 anos de redação. Hoje consigo mensurar, de forma clara, o tamanho da colaboração de cada um de vocês. Entre tantos amigos que por aqui passaram ou colaboraram de alguma forma, nominar alguns é essencial: Brittes A. Brittes, Ussiel Dias, Fabiano Fagundes, Jefferson Matoso, Micheli Oaniéski, Gentil de Paula, Marcelo Maltauro, Fabíola Millezi, Criselli Montipó, Luciano Amaro, José Gustavo Bereza, Vanderléia Alberti, Karol Ruaro, Paula Perizzolo, Eduardo Tavares, Bruna Kobus, Raissa Javarini, Mariana Honesko, Marinéia Marques… vocês, assim como tantos que fazem parte deste caderno especial, iluminaram ainda mais essa brilhante história de 90 anos. Agradeço eternamente!
Os jornalistas e comunicadores que atuam nos veículos de comunicação do Grupo Verde Vale praticam diariamente a sua real função ao ocupar espaço, em qualquer que seja a plataforma: informar. Nosso papel é transmitir da melhor maneira possível as informações e dados necessários para que o público possa analisar, refletir, pensar, transformar a realidade local. Nossa função social deve ser a de relatar, para todos os públicos, notícias necessárias para a discussão pública, seja do cidadão comum, autoridades políticas ou influenciadores. Como promotora do registro histórico, a imprensa ocupa um lugar de destaque na sociedade, pois seja nas edições de O Comércio, podcasts da CBN ou páginas do Portal Vvale é que, em um futuro não tão distante, serão feitas pesquisas sobre o que registramos hoje.
O momento é de reflexão e cuidado, pois vivemos constantes ataques e tentativas de diminuição à liberdade de imprensa. Vamos lutar bravamente para assegurar aos nossos jornalistas todos os seus direitos no exercício da profissão. Essa é a nossa escolha, esse é o nosso compromisso: coletar, investigar, analisar os fatos, fazer jornalismo sério, ético e independente para a sociedade do Vale do Iguaçu.
Preparamos esta edição histórica com a participação de pessoas importantes da nossa história, registrando a colaboração de cada um e contanto muito sobre a nossa jornada, rumo aos 100 anos. Obrigado aos colaboradores, nossos parceiros comerciais e, principalmente, aos nossos assinantes. Ótima leitura!
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