Editorial jornal O Comércio
Nestes tempos complexos e atribulados, a infodemia (fenômeno recente que se refere a aumento gigantesco no volume de informações associadas a um assunto específico e que pode se multiplicar exponencialmente em pouco tempo) contribui para a disseminação de desinformação, além da manipulação de informações com intenção duvidosa. Esse fenômeno é naturalmente amplificado pelas redes sociais e se alastra rapidamente como uma doença.
O excesso de informação, muitas vezes conflitantes, torna difícil encontrar aquelas que são verdadeiramente úteis para orientar o cidadão, e pode agravar a já árdua tarefa de tomar decisão por parte de gestores e profissionais das mais variadas áreas, especialmente quando não há tempo hábil para avaliar uma gama de cenários disponíveis.
Além disso, o constante bombardeio de informações que alcança as pessoas de múltiplas formas, seja pela televisão, rádio, computador, tablets, smartphones, jornais impressos ou eletrônicos, blogs, mídias sociais, aplicativos de conversas; acaba por sobrecarregá-las e, muitas vezes, isso as torna ansiosas, deprimidas, ou até mesmo exauridas e incapazes de responder aos estímulos sociais. Como chegamos a esta situação caótica? O que fazer?
Entendemos que contribui para este cenário, uma quantidade incrível de veículos de comunicação que, de uma forma geral, apresentam qualidade média do que é publicado abaixo do desejável, além de termos todos pecado pela incompreensão da dinâmica das redes sociais.
Nestas décadas publicamos não só erros gramaticais, alguns escandalosos, vexatórios e até constrangedores, mas também ambiguidades, contradições, falta de clareza, coerência e lógica. O jornal é feito por pessoas reais, seres humanos que também falham e com equipes quase sempre diminutas. Em muitas de nossas reportagens, a velocidade predominou sobre a qualidade, um comportamento que evitaremos ao limite daqui para a frente.
Essas situações ocorreram porque em muitos momentos, buscamos inutilmente nos assemelhar e competir com a internet como um todo. Com publicações instantâneas de pessoas sem comprometimento com os princípios e as bases do bom jornalismo que queremos praticar.
O Jornal O Comércio entende e aceita que o jornalismo precisa reconquistar a confiança das pessoas.
Insistimos na capacitação das nossas equipes e optamos por profissionais mais experientes, esmero na edição final e uma postura mais interativa daqui para a frente nas redes sociais. Talvez você não saiba, mas somos os maiores empregadores em comunicação em toda a região e prezamos pela diversidade nas equipes, desde a apuração até a linha editorial.
Precisamos urgentemente recuperar fontes de receita que propiciem a manutenção de um corpo de jornalistas com o maior grau possível de especialização e competência; pois a cobertura não superficial de temas complexos exige valorização profissional por meio da valorização do ser humano.
Vamos nos levantar contra o populismo das redes sociais que criou uma onda de veículos ditos de comunicação que não estão realmente fazendo jornalismo, mas propaganda, insistente e, diga-se de passagem, competente. Uma estratégia que busca ajudar o líder a atacar seus oponentes e não fortalece a sociedade e o bem comum.
Vamos contrapor e combater a desinformação que existir no nível oficial, conscientes de que no mundo não oficial, ela vai continuar perdendo força ao não ser parte do discurso oficial; pois a desinformação, se não é estimulada pelo Estado, acaba se corroendo.
Rogamos que você nos auxilie a ter força e resistência para continuar a fazer um trabalho jornalístico de qualidade, cada vez melhor. Investigar, entrevistar e escrever sobre tudo aquilo que é relevante para o Vale do Iguaçu, principalmente para o cidadão. Viver e trabalhar com seriedade e ética, desvelando a verdade, combatendo a censura e a ignorância, que são tarefas para os fortes, os corajosos e os experientes; qualidades que não nos faltaram nestes noventa anos.
Desejamos que você possa ler e participar de nosso jornalismo sem cerimônia, aliando paz, saúde física e mental ao prazer da leitura; um luxo relativamente barato e simples, que aparentemente foi abandonado.
Como um veículo hiper local, haverá evidentemente uma carência de jornalistas especializados em editorias como educação por exemplo; mas, em compensação, nossos profissionais serão cada dia mais especialistas em Vale do Iguaçu, de tal forma que dificilmente alguém de fora seja capaz de discutir e entender nossas cidades como os nossos.
Não teremos compromisso com a velocidade, mas com a qualidade daquilo que publicaremos. Não faremos jornalismo para bolhas, esperando o aplauso dos incautos. Traremos surpresas, momentos de autoralidade, expandindo as fronteiras do debate público tão relevante para nossa sociedade local.
Enfrentaremos a lógica do algoritmo e rejeitaremos a cultura da lacração. Vamos nos ater ao que é informação de interesse público em oposição ao que dá clique e viraliza, mas presta serviço à desinformação.
Com o peso de todas as páginas já publicadas como baliza, nos desafiaremos a estar cada dia mais próximo de você leitor e assinante, pois desejamos chegar ao nosso centenário contigo ao nosso lado.
Voltar para matérias