No Brasil, 70% da frota de veículos não possui seguro particular
Dpvat, obrigatório no país, garante indenizações apenas em situações envolvendo danos físicos
Foto: José Fernando Ogura/ANPr
Por lei, no Brasil, todo dono de veículo automotor precisa pagar no início do ano o seguro para Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores de Via Terrestre (DPVAT). É ele que garante uma indenização para vítimas de acidente de trânsito, sejam elas motoristas, passageiros, pedestres ou beneficiários, em caso de despesas ambulatoriais, invalidez permanente ou morte. Dessa forma, a população brasileira está assegurada caso algum acidente de trânsito atinja a sua integridade física. Mas o DPVAT só chega até aí.
A proteção total de veículos e condutores envolve vários fatores, como furtos, quebra de peças, assistência 24h, possibilidade de ter o veículo guinchado, entre outros. Para estar assegurado quando esses problemas acontecerem é necessário contratar um seguro particular. Contudo, essa não é uma prática muito popular no país. Segundo a Confederação Nacional das Empresas de Seguros Gerais (CNSEG), 70% da frota de veículos que roda pelas estradas brasileiras não possui seguro além do DPVAT.
Para o consultor em seguros da Tucano Seguros, Celio Tucano, a procura de seguros, em um modo geral, tem caminhado à passos lentos no país. Porém, o consultor percebe que, aos poucos, a população tem se conscientizado sobre a importância dessa ferramenta. “É uma carga que você tira das suas costas e repassa para a seguradora”.
Celio comenta que muitos dos veículos que circulam pelo país são financiados, e que por esse motivo, os donos tendem a procurar um seguro para evitar que, em casos de perca do veículo em razão de um sinistro (termo utilizado para descrever incidentes que causem danos e prejuízos a um bem segurado), tenham que continuar a pagar as parcelas do bem sem poder usufruir do mesmo. “Hoje, uma parcela bem grande dos veículos que rodam são financiados, então tem aquela dívida junto a financeira. Se vier a acontecer algo com o seu veículo, automaticamente você fica com a dívida e ainda sem o veículo. Então o pessoal tenta se precaver bastante nesse sentido. Também há casos que a gente se depara que o pessoal não tinha seguro e teve seu carro furtado ou bateu e não teve condições de arrumar. Teve que se desfazer do bem muitas vezes para pagar a dívida e automaticamente tomou prejuízo. O pessoal, depois que acaba tendo um problema, certamente vai vir atrás de um seguro porque ele não quer mais passar por essa situação constrangedora de perder seu bem e muitas vezes ainda ficar com uma dívida”, relata.
Tipos de seguro
Antes de se contratar um seguro de veículo, Celio indica ser importante analisar quais são as necessidades do contratante. Fatores como qual será o principal uso do veículo, quem serão os condutores, quais os trajetos mais comuns utilizados pelo condutor e até mesmo onde o veículo ficará guardado quando não estiver sendo usado influenciam na tarifa final do seguro.
Outro fator que tem relação direta com o preço do seguro é o tipo de cobertura escolhida pelo contratante. Os fatores que podem ser assegurados são roubo, furto, colisão, incêndio, capotagem e derrapagem, queda de objeto em cima do veículo, além de danos causados por transportadora; danos causados por terceiros; danos causados por alagamentos, enchentes ou inundações; danos causados por ressaca, vendaval, granizo, terremoto ou raio; danos causados a terceiros e acidentes pessoais de passageiros.
Também existe a categoria de coberturas adicionais, que asseguram acessórios, vidros e demais peças. O contratante pode, ainda, optar por carro reserva para circular enquanto seu veículo é reparado ou enquanto não é ressarcido em caso de roubo ou perca total; assistência 24h e, até mesmo, cobertura para sinistros sofridos em países do Mercosul. “Tudo isso é importante e influencia na tarifação e no custo final do seguro. Hoje a legislação reza que quem causar danos a terceiros deve repará-lo. Então, se você vai lá e bate em terceiro, você tem condição de reparar esse dano? Até mesmo dano corporal, um sinistro, um acidente em que você acabe batendo em uma pessoa, automaticamente esses danos materiais e corporais também podem ser indenizados pelo seguro do seu automóvel. Isso também influencia na tarifação, influencia no custo. Quanto que você vai contratar na sua assistência 24h. Está viajando, precisou de um guincho. Quantos quilômetros de guincho você tem? Qual é a distância de um taxi para você estar seguindo viagem ou voltar para casa que você tem contratado? tudo isso é importantíssimo você saber quanto que você contratou para poder não ser surpreendido em um momento que você precisar”, explica Celio.
Tipos de franquia
Além da contratação do seguro, no caso de veículos, também é necessário contratar uma franquia. Ela é uma taxa adicional que o contratante paga no momento do acionamento do seguro, caso o dano causado seja maior do que o valor contratado. Geralmente a franquia é acionada em caso de perda total, perda parcial e em casos de danos a terceiros.
São três os tipos de franquia: a normal, mais comum do mercado; a majorada, em que o valor do seguro é mais baixo pois a contribuição do contratante com a franquia é maior; e a reduzida, em que o valor do seguro é mais alto e o da franquia mais baixo.
A franquia majorada é indicada para quem usa o veículo de forma esporádica e, portanto, tem menos chances de envolver seu veículo em algum tipo de dano. Já a franquia reduzida segue lógica inversa, sendo indicada para quem utiliza o veículo com maior frequência ou que tenha mais chances de se envolver em acidentes.
Seguro para terceiros
Proteger a si mesmo é importante, mas no trânsito não há como se descartar a importância de proteger também terceiros. Segundo Celio, países europeus já exigem que, mesmo que o proprietário opte por não assegurar seu veículo, ele seja contratante de um seguro para terceiros. Para o consultor, essa mesma exigência é um desejo do ramo de segurador brasileiro. A gente sonha que cheguemos no Brasil a esse patamar de que ao menos o seguro para terceiros você seja obrigado a ter porque é muito fácil você sair na rua causando danos a todos e depois simplesmente dizer que não tem condição de pagar. Então o seguro para terceiros é muito importante, na minha opinião e de muitos corretores do ramo”.
Regulamentação
No Brasil, desde 1966, a Superintendência de Seguros Privados (Susep) é a responsável pela regulamentação, controle e fiscalização do mercado de seguros. Para trabalhar no ramo, os consultores precisam obter a certificação da Escola de Negócios e Seguros (ENS) e, após, realizar sua inscrição no Instituto Brasileiro de Autorregulação do Mercado de Corretagem de Seguros, de Resseguros, de Capitalização e de Previdência Complementar Aberta (Ibracor).
Modelos de carro mais roubados
De acordo com o Índice de Veículos Roubados (IVR), da Susep, o carro com mais casos de furtos e roubos no Brasil, entre os modelos com maior número de assegurados, é o Fiat Pálio 1.0. De acordo com o órgão, dos 163.994 veículos do modelo assegurados no país, 1.266 já foram alvos desse tipo de sinistro, o que gera um índice de 0,772. Em seguida vem o Volkswagen Gol 1.0, com 207.767 carros assegurados e 1.573 sinistros (índice de 0,757), e o Renault Sandero, com 179.397 assegurados e 1.173 sinistros (índice de 0,654).
Considerando apenas a frota paranaense de carros assegurados, o Volkswagen Gol 1.0 lidera a lista no estado, com 17.506 assegurados e 75 sinistros (índice de 0,428), seguido pelo Renault Sandero, com 15.622 assegurados e 66 sinistros (índice de 0,422), e pelo Hyundai HB20, com 19.081 assegurados e 72 sinistros (índice de 0,377).
Em Santa Catarina, o ranking é igual ao paranaense, com o modelo mais visado por assaltantes sendo também é o Volkswagen Gol 1.0, com 12.995 veículos assegurados e 40 sinistros (índice de 0,308). Em sequência vem o Renault Sandero, com 12.136 assegurados e 36 sinistros (índice de 0,297), e o Hyundai HB20, com 15.701 e 44 sinistros (índice de 0,280).
No país, os dez veículos mais assegurados são o Chevrolet Onix (329.653 veículos); o Hyundai HB20 (322.295 veículos); e o Toyota Corolla (237.092 veículos); o Volkswagen Gol 1.0 (207.767 veículos); o Renault Sandero (179.397 veículos); o Ford Ka 1.0 (178.728); o Honda Fit (176.912 veículos); o Chevrolet Prisma (171.001 veículos); o Fiat Pálio (163.994 veículos) e o Ford Fiesta com potência acima de 1.0 (161.491 veículos).
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